O maior desafio que alguma vez tivemos de enfrentar

Combater o petróleo e o gás não é só a coisa correcta a fazer. É uma questão de sobrevivência.

Aquilo que vamos fazer nas próximas semanas pode ser histórico.

Eu sei que há muita gente de férias e quem vá começar as férias daqui a dias. Mas aquilo que cada um de nós fizer nas próximas semanas, mesmo durante as férias, vai ajudar a decidir o nosso futuro.

Nas próximas semanas vamos ter de enfrentar um dos maiores desafios que alguma vez tivemos pela frente.

Nas próximas semanas e nos próximos meses cada um de nós vai ter de se envolver num combate contra a exploração de petróleo e gás em Portugal, contra as empresas petrolíferas que detêm os direitos de prospecção e exploração desses combustíveis (há 15 concessões atribuídas para exploração e produção de petróleo e gás em todo o país, com especial incidência no Algarve) e contra os que estão no bolso dessas empresas. Empresas poderosas, habituadas a dominar o poder político e a contornar as leis e as regras.

Devido a esses contratos (alguns assinados pelo governo PSD-CDS duas semanas antes das eleições de Outubro de 2015) o ambiente do Algarve e do país vão ser destruídos, a economia nacional e a qualidade de vida das populações vão ser postas em causa. Em nome da ganância de meia dúzia de grandes empresas.

Permitir que esses contratos prossigam não é um erro. É um crime. Um crime de tais proporções que admira como é que pessoas com um mínimo de decência e de sentido de justiça possam defender a sua prática. É um crime contra as pessoas, contra a paisagem e contra o planeta. A exploração dos combustíveis fósseis é contra todas as coisas vivas e só tem um móbil: produzir dinheiro, muito e depressa, para um número limitado de milionários.

A exploração de combustíveis fósseis não faz sentido por razões globais. O planeta está a sufocar devido ao excesso de carbono que lançamos na atmosfera, o clima está a mudar de uma forma que ameaça a produção de alimentos e o acesso a água doce, todos os anos desaparecem mais de 2.000 espécies animais e vegetais, as secas estão a aumentar de intensidade matando 4.000 crianças por dia, as tempestades estão a aumentar de intensidade.

A verdade insofismável é que a humanidade enfrenta um risco de sobrevivência.

O acordo de Paris obteve um consenso para limitar o aumento da temperatura global (em relação à era pré-industrial) de 2 graus e tentar reduzi-lo a apenas 1,5 graus, mas a verdade é que ninguém na comunidade científica sabe ao certo se esse aumento será compatível com a sobrevivência da humanidade. Ninguém sabe se, dentro de dez anos, de cinco, de seis meses, não ocorrerá um acontecimento climático que dê origem a uma cascata de consequências globais catastróficas. O que sabemos é que continuar a apostar na queima de combustíveis fósseis é uma loucura e um acto de genocídio.

A prospecção de combustíveis fósseis não faz sentido porque se sabe que é preciso deixar 80 ou 90 por cento das reservas de combustíveis fósseis conhecidas no solo se queremos respeitar o objectivo dos 2 graus. Só precisamos de procurar mais petróleo se quisermos rebentar com a Terra não só uma vez mais várias vezes.

A exploração de combustíveis fósseis não faz sentido por razões nacionais e locais porque, mesmo que ela gerasse rendimento financeiro no curto prazo (e não gera, os rendimentos prometidos são insignificantes), iria destruir muito mais rendimento do que aquele que criaria, ao destruir a paisagem e o turismo, ao destruir a qualidade de vida e a saúde das populações, ao destruir a agricultura e os recursos aquíferos.

A exploração de combustíveis fósseis não faz sentido porque não só a queima de combustíveis fósseis constitui um risco existencial, como a sua exploração destrói o ambiente. Não há prospecção limpa, não há exploração limpa.

O que podemos fazer? Tudo. Precisamos de fazer ouvir a nossa voz de cidadãos. Precisamos de fazer o governo compreender que deve suspender todos os contratos de exploração de petróleo e gás e relançar um sério investimento em energias renováveis, na melhoria da eficiência energética, nos transportes eleéctricos, na ferrovia, na qualidade do ambiente. Um programa nacional que mobilize toda a população e todos os recursos e que seja um exemplo mundial. Precisamos de deixar claro que esse é o mundo que queremos e que não vendemos o futuro dos nossos filhos por um prato de lentilhas.

Precisamos de exigir a todas as organizações a que pertencemos que abracem esta mesma causa e que a transformem em actos. Precisamos de dizer ao nosso banco que, se investir nas empresas petrolíferas que envenenam o planeta teremos de mudar de banco. Precisamos de assinar petições e de juntar a nossa voz à das manifestações que estão a acontecer por todo o país. Não é só a coisa correcta a fazer. É uma questão de sobrevivência.

Acham que somos fracos para combater os gigantes do petróleo? Enganam-se. Só somos fracos quando ficamos calados e quietos. Para ganhar esta batalha basta querer. A alternativa é ficar a olhar enquanto cavam a nossa sepultura. Há melhores maneiras de passar o verão.

jvmalheiros@gmail.com

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