O herdeiro Kim Jong-un apresentou-se ao mundo e aos norte-coreanos na televisão
A televisão estatal da Coreia do Norte exibiu ontem pela primeira vez imagens de Kim Jong-un, o terceiro filho e presumível herdeiro do líder Kim Jong-il, numa inédita transmissão em directo das cerimónias que assinalaram o 65.º aniversário da fundaçãodo Partido dos Trabalhadores.
Pai e filho apareceram lado a lado na parada militar que sempre serve como demonstração de força e poder do regime - numa indicação clara de que Kim Jong-il está a preparar a sua sucessão pelo filho. Kim Jong-un, que acaba de ser promovido a general de quatro estrelas e nomeado para o Governo e a liderança do partido, teve lugar na tribuna presidencial, envergando um traje civil semelhante ao que é usado pelo pai.
Declarações de um dos oficiais de topo da hierarquia do Partido dos Trabalhadores na véspera das comemorações sugeriam que esta seria uma espécie de passagem de testemunho informal. "O nosso povo não podia ter recebido maior honra do que servir o grande Presidente Kim Il-sung e o grande líder Kim Jong-il. Agora teremos a honra acrescida de servir o jovem general Kim Jong-un", disse Yang Hyong-sop, antecipando o prolongamento da dinastia Kim à frente do governo da Coreia do Norte.
Como habitualmente, a Praça Kim Il-sung da capital, Pyongyang, foi tomada pelo aparato militar norte-coreano: milhares de soldados desfilaram ao lado de tanques de guerra e outros veículos carregados com mísseis de longo alcance ornamentados com frases guerreiras como "Vamos derrotar o exército americano" e "O inimigo da Coreia do Norte são os Estados Unidos".
O maior da históriaO desfile deste ano terá sido o maior da história, segundo as descrições. Todos os ramos do exército da Coreia do Norte (que terá à volta de 1,2 milhões de efectivos) marcaram presença.
O evento foi cuidadosamente coreografado para "mostrar ao mundo que a Coreia do Norte é uma potência que ninguém pode ignorar", interpretou Paul Haenle, director do Carnegie-Tsinghua Centre for Global Policy, em declarações à Bloomberg. "Seguramente ficou bem patente que Pyongyang pode com toda a facilidade dirigir a sua artilharia para Seul e causar significativa destruição e morte", referiu.
De acordo com Baek Seung-joo, um analista do South Korea Institute for Defence Analyses citado pelo diário britânico The Guardian, o objectivo do espectáculo era menos a demonstração do poderio militar e mais a consagração de Kim Jong-un como o herdeiro do regime. A sua presença na bancada presidencial tinha um forte efeito simbólico: foi a primeira demonstração de lealdade do exército norte-coreano ao seu futuro líder.
"A parada acontece numa altura crucial em que o regime ainda se sente fragilizado [pela doença do líder] e quando Kim Jong-il começa a orquestrar a sua sucessão", observou Paul Haenle.
No sábado, pai e filho também estiveram juntos num festival de ginástica e dança que preencheu o estádio olímpico de Arirang, na capital Pyongyang. A multidão que lotava as bancadas do estádio reagiu com entusiasmo à apresentação de Kim Jong-un: "O público ficou extático", descreveu o correspondente da BBC, Michael Bristow, presente no estádio. A Coreia do Norte, um dos países mais fechados do mundo, tinha excepcionalmente concedido vistos de entrada aos jornalistas estrangeiros que quisessem fazer a cobertura das comemorações.
Kim Jong-un, a quem já chamam "o jovem general", ainda é um desconhecido na Coreia do Norte (e no resto do mundo). Supõe-se que terá 27 ou 28 anos e que foi educado na Suíça. O pai Kim Jong-il, agora com 68 anos, assumiu o poder em 1997, após a morte do seu pai, Kim Il-sung, a quem foi atribuído o título "Eterno" de Presidente.