Novo naufrágio iminente no Mediterrâneo de um barco com 300 pessoas a bordo
Barco lançou pedido de socorro, informou a Organização Internacional das Migrações. Pelo menos 20 mortes confirmadas. Autoridades marítimas tentam responder, mas falam em indisponibilidade de meios.
O alarme foi dado esta segunda-feira pela Organização Internacional das Migrações (OIM) e ocorreu pouco mais de 24 horas depois do naufrágio de um outro barco com cerca de 700 migrantes a bordo – outras informações não confirmadas revelam que havia 900 pessoas na embarcação. O barco lançou um pedido de socorro que foi captado pela organização, disse à AFP o seu porta-voz, Joel Millman. Trata-se de um de três barcos em sítios próximos a precisar de ajuda situados em águas internacionais, mas desconhece-se ainda a localização exacta das embarcações.
"A OIM em Roma acabou de receber uma chamada a pedir ajuda para um barco em águas internacionais (...). A pessoa que ligou disse que havia mais de 300 passageiros no seu barco e que estava em risco de se afundar", disse a organização.
A OIM reencaminhou os pedidos de ajuda para a guarda costeira, mas as autoridades marítimas afirmaram que "não têm os meios para os socorrer neste momento", disse o porta-voz, uma vez que os recursos foram disponiblizados para o naufrágio de domingo de uma embarcação com cerca de 700 pessoas a bordo. "A guarda costeira vai provavelmente tentar redireccionar navios comerciais", informou a organização, sublinhando que essa solução pode revelar-se ineficaz devido à recusa de alguns desses navios em colaborar.
Para já, "trata-se simplesmente de um pedido de socorro", explicou pouco depois um porta-voz da OIM, Flavio di Giacomo. "É muito prematuro falar de naufrágio", acrescentou o responsável em declarações à televisão RaiNews24. "Muitas vezes os migrantes, quando ainda estão próximos da Líbia, chamam os guardas costeiros e as associações para lhes pedir ajudar", disse Di Giacomo, embora isso "não queira dizer que não estejam numa situação desesperada".
O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, confirmou que as autoridades italianas e maltesas estão a trabalhar em conjunto para auxiliar dois navios em dificuldades, mas não ficou claro se aludia aos casos referidos pela OIM.
Antes disso, uma outra embarcação encalhou na ilha grega de Rodes, no mar Egeu. Foram resgatadas 80 pessoas pela polícia marítima grega e os corpos de três – um homem, uma mulher e uma criança – foram recuperados.
Caso se confirmem as piores previsões, com os naufrágios dos últimos dois dias, desde o início do ano terão morrido perto de duas mil pessoas – em todo o ano passado houve 3419 mortes confirmadas. Com a chegada da Primavera e do tempo ameno, teme-se que o fluxo migratório proveniente do Norte de África e do Médio Oriente se acentue. A perspectiva de novas chegadas de imigrantes tem vindo a ganhar forma com o aprofundar de várias crises humanitárias nas proximidades do Mediterrâneo, como a guerra civil síria ou a instabilidade na Líbia.
O procurador adjunto de Palermo, na Sicília, Maurizio Scalia, revelou à imprensa italiana que o seu gabinete tem informações de que existem, "na costa líbia, cerca de um milhão de pessoas prontas para sair para a Europa".
As notícias de novos naufrágios de barcos com imigrantes clandestinos que tentam chegar à Europa surgem no dia em que uma cimeira europeia foi convocada de emergência para abordar o assunto. Os ministros dos Negócios Estrangeiros e do Interior da União Europeia encontram-se esta segunda-feira no Luxemburgo para debater a segurança no Mediterrâneo e o fluxo migratório para a Europa.
A alta-representante para a Política Externa da UE, Federica Mogherini, disse que "já não há álibi" para que a questão da pressão migratória pela rota do Mediterrâneo continue a ser desprezada pelo bloco europeu. “As tragédias dos últimos dias, dos últimos meses, dos últimos anos, são demasiadas. São necessárias medidas imediatas da parte da UE e dos Estados-membros”, acrescentou a italiana.
O debate no seio da UE sobre a segurança do Mediterrâneo tem sido um dos exemplos mais significativos da dificuldade entre os Estados-membros em encontrarem uma posição comum. Se países como a Itália, França, Espanha ou Malta – mais afectados pelo fluxo migratório do Magrebe e da África subsariana – defendem soluções abrangentes para combater o problema, outros stados europeus, com o Reino Unido à cabeça, promovem a redução do financiamento das operações de resgate, que consideram encorajadoras da imigração clandestina.
Essa posição foi duramente criticada pelo alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein, que lamentou o "envenenamento da opinião pública" e a mudança de orientação das políticas europeias por causa da influência de partidos "populistas xenófobos". "A Europa está a virar as costas aos migrantes mais vulneráveis do mundo e a transformar o Mediterrâneo num vasto cemitério", denunciou, classificando a operação de segurança e protecção das fronteiras europeias como "totalmente inadequada".