Incêndio no Canadá poderá durar meses

Chamas aproximam-se de província vizinha. O desastre criou uma onda de solidariedade no país.

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No sábado, a cidade de Fort McMurray ficou praticamente esvaziada Brad Readman/Alberta Fire Fighters Association/Reuters

Continua fora de controlo o incêndio que desde há uma semana está a consumir a zona de Fort McMurray, na província de Alberta, no Canadá. Sem mudanças nas condições meteorológicas, com os termómetros perto dos 30ºC no sábado, e ventos de 40 quilómetros por hora, as chamas estão já próximas da vizinha província de Saskatchewan. E poderão ser necessários meses para as extinguir totalmente, avisam as autoridades.

Já está praticamente vazia a cidade de Fort McMurray, depois da evacuação de sábado, que levou à saída das 25 mil pessoas que ainda estavam no norte da região. A única “boa notícia” é que o incêndio continua a afastar-se da cidade e dos locais de produção de petróleo, não representando já uma ameaça para a população, estimou Chad Morrisson, responsável pelo departamento de incêndios de Alberta. Mas os danos para o ecossistema serão graves, avisou.

“A não ser que haja 100 milímetros de chuva, continuarenos a combater este incêndio na zona florestal durante os próximos meses”, disse Morrison aos jornalistas, citado pelo jornal canadiano The Star. Estima-se que o incêndio já tenha afectado 1570 quilómetros quadrados, o equivalente à superfície de Londres.

O incêndio, que arrisca a tornar-se no maior desastre natural do Canadá, gerou uma onda de solidariedade no país, descreve o The Star. Sarah Buller, uma assistente social que trabalhava em Fort McMurray há oito anos, teve de sair da cidade – “não foi preciso ninguém dizer-nos, nós sabíamos” – com o marido e os dois filhos. Colocou um post no Facebook a perguntar se alguém a ajudava a encontrar “uma casa barata” já mobilada em Toronto, a sua terra natal. Recebeu tantas respostas que ainda não conseguiu vê-las todas. Também lhe ofereceram roupas para toda a família, produtos de bebé, comida, babysitting. “Isto é tudo incrivelmente triste”, afirmou. “Mas a forma como as pessoas ajudam dá-me vontade de chorar – um tipo bom de choro”.

Em Otava, um professor de golf decidiu criar uma página na Net para ajudar a sua irmã, que está grávida, e que teve de deixar Fort McMurray sem levar sequer a escova de dentes – a sua casa ficou totalmente destruída. Em menos de três dias já recebeu 12 mil dólares canadianos (mais de oito mil euros). “É simplesmente inacreditável. Mesmo os desconhecidos preocupam-se com a nossa situação. Vivemos num país incrível”, afirmou Addi McLaren ao Star.

Ainda que as autoridades considerem que a cidade está fora de perigo agora, a população recebeu avisos para não tentar regressar às suas casas – a visibilidade não ultrapassa os nove metros, por causa do fumo, a água não está potável, a rede eléctrica ficou danificada.

Stephane Dumais, operador de máquinas de uma empresa de serração, foi um dos que teve de ir para um centro de acolhimento. Enquanto remexe nos documentos do seu seguro, afirma à Reuters que pensou em mudar-se para longe. Mas a ideia não lhe agrada. “Isso é como desistir da minha cidade”, afirma. “Enquanto for preciso reconstrui-la, vamos trabalhar juntos. Já não vai ser a mesma que era”.

Dezenas de milhar de pessoas estão em centros de acolhimento improvisados, parques de campismo ou em caravanas na rua, adianta a AFP. Na pequena localidade de Lac La Biche, a sul da zona interdita, há pacotes de água mineral, roupas e alimentos doados pelos canadianos e distribuídos por voluntários da Cruz Vermelha. “É simplesmente incrível ver tudo o que se fez. Há muita gente com necessidades, muita gente sem nada”, comentou Sarah, uma mãe de família que está sem saber para onde ir nos próximos dias. “Como eu disse à minha filha durante o caminho para cá, o importante é estarmos vivos, tudo o resto não passa de coisas materiais”.

 

 

 

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