Grupo de militares reivindica assassinato de Kabila

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O grupo de militares apelida Kabila de «monstro sanguinário» DR

"Declaramo-nos totalmente solidários com o gesto heróico do nosso irmão de armas Rachidi, que se sacrificou para pôr fim aos dias de Kabila, esse monstro sanguinário", afirmam os autores do comunicado, assinado pelos "jovens resistentes do Conselho Nacional para a Resistência e a Democracia", datado de dia 18 de Janeiro, em Kinshasa.Os autores do comunicado afirmam-se "membros do CNRD, formado sob as ordens do general Ngandu Kisase". O "general" Ngandu, considerado próximo do Uganda, era aliado de Laurent-Désiré Kabila quando ele desencadeou a rebelião militar contra Mobutu Sese Seko, em Setembro de 1996. Apresentando-se como "chefe militar" da revolta, Ngandu desapareceu no início de 1997 em circunstâncias que nunca foram esclarecidas pelas forças rebeldes, apoiadas pelo Ruanda e Uganda, na altura em luta com o poder instalado em Kinshasa.
"A opinião pública deve saber que no dia 15 de Janeiro às 23h30, 47 jovens patriotas foram executados sem processo na presença de Kabila. Esta foi a gota que fez transbordar o copo. O que é demais, é demais. Foi necessário tomar uma decisão para pôr fim à aventura sanguinária de Kabila, vingar os nossos camaradas e levantar todos os obstáculos ao início das negociações", acrescenta o documento.
Proclamamos a nossa vontade de prosseguir sem descanso o combate que iniciámos para extirpar o sistema ditatorial instaurado no Congo por Kabila e os seus amigos", anunciam o grupo de militares.
Também hoje, José Eduardo dos Santos, Presidente de Angola e aliado do Presidente Kabila, defendeu que a morte do Chefe de Estado congolês foi provocada pela cumplicidade dos serviços de segurança do país e pela falta de vigilância.
"Aproveitando uma falta de vigilância e a cumplicidade do sistema de segurança, os inimigos do povo congolês atacaram a base do regime para provocar o desencorajamento, a desorientação e o caos na capital do país, tentando desta forma tomar o poder", afirmou o Presidente angolano, no início de uma reunião em Luanda que irá juntar os países aliados da RDC (Angola, Namíbia e Zimbabwe).

República Democrática do Congo: Três décadas de cleptocracia

A República Democrática do Congo torna-se independente da Bélgica, a antiga potência colonial, em 1960, e, desde então, o país raramente conheceu um período de estabilidade, reflexo da amálgama de etnias, da corrupção dirigente e de uma população cada vez mais pobre.
Adquirida a independência, o Congo era um país com estruturas governamentais incipientes - resultado da política colonial belga, que se tinha resumido essencialmente à exploração económica do país - ameaçando a sua unidade política e territorial.
Pouco depois de Patrice Lumumba (de esquerda) ter conquistado a independência, e de ser ter tornado no primeiro Presidente do país, era assassinado pelos militares leais a Mobutu, com a cumplicidade da antiga colónia e dos Estados Unidos, temendo que o novo Estado se colocasse na esfera de influência da União Soviética.

Três décadas de regime Mobutu

A partir de 1965, o país foi governado com mão de ferro por Mobutu Sese Seko, que mudou o nome do país para Zaire. Nos 32 anos que durou o seu regime, Mobutu tornar-se-ia conhecido com um dos mais famosos "cleptocratas" africanos, até que, em Maio de 1997, foi afastado de poder por Laurent Kabila, que mudou o nome do país novamente para Congo, agora República Democrática.
Todavia, o país iria mergulhar numa guerra civil um ano depois da chegada de Kabila à chefia do Governo congolês. A guerra era o espelho de um Estado trespassado por dezenas de etnias e dilacerado por movimentos rebeldes apoiados por países estrangeiros vizinhos, designadamente o Uganda e o Ruanda, apoiando os rebeldes, e, do lado de Kabila, a Namíbia, o Zimbabwe e Angola.

Um país rico em recursos naturais

Extremamente rico em recursos naturais, desde muito cedo a corrupção gangrenou as instituições governamentais congolesas. O resultado da combinação destes factores foi, entre outros, o de arrasar a economia, desincentivando o investimento estrangeiro, agravando a situação do país.
Depois do golpe militar de 1997, Kabila estabeleceu um prazo de dois anos para as reformas políticas, prometendo eleições para Abril de 1999. No entanto, no final de 1998 declarou que só realizaria as eleições quando todas as tropas estrangeiras abandonassem o país, o que nunca chegou a acontecer.

Tiago Tibúrcio
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