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G7 concorda em “descarbonizar a economia” até 2100

Declaração revela um passo novo das economias mais avançadas do mundo na luta contra o aquecimento global, mas não é um compromisso com emissões nulas no fim do século.

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Os líderes dos G7, numa foto de família DANIEL KARMANN/AFP

Inscrita na declaração final da cimeira do G7 que terminou nesta segunda-feira na Alemanha, esta posição revela um passo novo das economias mais avançadas do mundo na luta contra o aquecimento global, mas esconde as difíceis negociações entre os seus líderes para chegarem a um texto consensual.

Na declaração, o G7 defende uma meta de 70% de redução das emissões globais de gases com efeito de estufa até 2050, a ser partilhada por todos os países signatários da Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas. Este é o limite superior das recomendações do IPCC – o painel científico da ONU para o clima – para que o termómetro global não aumente mais do que 2ºC até ao final do século. Segundo o IPCC, as emissões devem baixar de 40 a 70% até 2050 e chegar a zero em 2100.

Embora tenha optado pelo maior valor até 2050, o G7 não se comprometeu com emissões nulas em 2100 e optou por uma frase que pode ter uma interpretação mais lata. “Enfatizamos que são necessários cortes profundos nas emissões de gases com efeito de estufa e uma descarbonização global da economia ao longo deste século”, refere o comunicado.

A Alemanha, anfitriã da cimeira, queria um compromisso mais concreto, com metas de redução definidas para o próprio G7. O objectivo seria dar um impulso à próxima conferência climática da ONU, no final do ano, em Paris, onde deverá ser adoptado um novo tratado internacional.

"Fazer a nossa parte"
Mas o texto final é vago quanto à contribuição do G7. “Comprometemo-nos a fazer a nossa parte para se atingir uma economia de baixo carbono no longo prazo”, diz o comunicado, prometendo incentivos a tecnologias para “transformar o sector energético até 2050”.

Em 2009, o então G8 – ainda com a Rússia – foi mais longe. Nas vésperas da cimeira climática de Copenhaga, da qual deveria ter saído um novo acordo internacional, anunciou que apoiaria uma meta de redução de 80% das emissões de CO2 dos países desenvolvidos.

A principal resistência agora terá vindo do Canadá e do Japão. Metas vinculativas podem ser limitadoras da exploração das reservas de areias betuminosas canadianas ou colocar sérias dificuldades à política energética japonesa, que se viu privada das suas centrais nucleares depois do acidente nuclear de Fukushima.

Ainda assim, ambos os países concordaram com o apoio à descarbonização da economia até 2100. “Ninguém vai começar a fechar as suas indústrias ou a desligar as luzes. Simplesmente temos de encontrar formas de criar fontes de energia com baixas emissões de carbono”, disse o primeiro-ministro do Canadá, Stephen Harper, no final da cimeira do G7, no castelo de Elmau, na Baviera.

O compromisso com a “descarbonização” foi saudado como um passo importante, com organizações ambientalistas, como a Greenpeace, a falarem no fim da era dos combustíveis fósseis.

Descarbonizar totalmente a economia pode tanto significar cortar totalmente com os combustíveis fósseis, como manter uma fracção do seu uso e compensar as emissões daí resultantes com outras medidas – como plantar florestas ou enterrar o CO2 no subsolo.

“É um anúncio significativo”, avalia Pedro Barata, CEO da consultora Get2C e durante anos negociador português nas conferências climáticas da ONU.

Pedro Barata afirma que na prática o G7 está a apresentar, de uma outra forma, algo que já tem vindo a ser discutido nos bastidores das negociações climáticas. “Há uma campanha para que no acordo de Paris se inscreva um objectivo de longo prazo. E este seria o de reduzir a zero as emissões até 2100, conforme o IPCC diz ser necessário para os 2ºC”, explica o especialista.

O G7 manifestou o seu “forte compromisso” para um acordo em Paris e prometeu “continuar os esforços” para reforçar o financiamento para ajudar os países mais pobres a enfrentarem as alterações climáticas.

Os sete países do selecto grupo – Estados Unidos, Canadá, Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Itália – também decidiram apoiar as nações mais vulneráveis, aumentando em 400 milhões o número de pessoas abrangidas por seguros que cubram riscos relacionados com as alterações climáticas.

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