Fujimori enfrenta o economista Kuczynski na segunda ronda das presidenciais no Peru
Filha do ex-Presidente e ditador peruano pode estar vulnerável a uma aliança de votos contrários.
A líder do partido Força Popular, Keiko Fujimori — filha do antigo Presidente e ditador peruano Alberto Fujimori — enfrentará o economista Pedro Pablo Kuczynski na segunda ronda das eleições presidenciais no Peru, de acordo com os resultados parciais divulgados na madrugada desta segunda-feira.
Com dois terços dos boletins contados, Fujimori consegue 39,4% dos votos e o seu opositor centrista 23,7%, a uma distância considerável da terceira classificada Verónika Mendoza, que nos últimos dias parecia em posição de disputar o segundo lugar com a promessa de uma “mudança radical” às políticas económicas do Peru, mas esta madrugada contava apenas 17% nos resultados parciais. Mendoza, que liderava uma coligação de esquerda, já admitiu a derrota.
A vantagem de Keiko Fujimori na primeira ronda pode revelar-se traiçoeira. A candidata tentou distanciar-se da herança política do seu pai durante a campanha, mas as opiniões do eleitorado peruano polarizam-se ainda entre os que recordam com apreço a presidência de Alberto Fujimori, um período de grande crescimento económico e combate eficaz aos grupos guerrilheiros, e os que repudiam o ditador pelos seus abusos e massacres — cumpre hoje uma pena de 25 anos de prisão por corrupção e violação dos direitos humanos.
A grande incógnita para a segunda volta de Junho será se o voto anti-Keiko — por extensão, anti-fujimorismo — conseguirá mobilizar-se ao ponto de lhe negar a vitória contra Kuczynski. “Conseguirá Keiko Fujimori ultrapassar este patamar eleitoral?”, interroga-se Gaspard Estrada, director-executivo do Observatório da América Latina do Instituto SciencesPo, de Paris. “Não será isto também o seu limite?”, pergunta, em declarações à AFP.
"O novo mapa político demonstra que o Peru deseja a reconciliação e não mais confrontos", interpretou Keiko Fujimori, exultante na noite da vitória. Para se demarcar do legado de autoritarismo do pai, a candidata de direita assinou um "compromisso de honra" de que respeitará a ordem constitucional, a liberdade da imprensa e a cartilha dos direitos humanos se for eleita Presidente do Peru. Comprometeu-se ainda a não aproveitar as suas competências em benefício da família, garantindo que não seria ela a propôr um perdão presidencial que libertasse Alberto Fujimori da cadeia.
Já o seu adversário admitiu, durante a campanha, que se o Congresso (onde Kenji Fujimori, o irmão mais novo de Keiko foi o deputado com mais votos) aprovar uma lei de amnistia, que permita aos condenados que já se encontrem na terceira idade completar a sua pena em prisão domiciliária, não terá nenhum problema em promulgá-la.
“Não queremos uma nação polarizada”, contestou Pedro Pablo Kuczynski — ou PPK — na noite de domingo. Kuczynski, ex-ministro das Finanças e antigo economista no Banco Mundial, defende uma economia mais liberal do que a do actual Presidente Ollanta Humala, de esquerda, que abandona a presidência com uma taxa de reprovação de 83% — o Peru não permite mandatos consecutivos. “Fizemos progressos, mas não o suficiente”, declarou aos seus apoiantes. “Seremos um Governo progressista, social e economicamente."
Keiko Fujimori trará também um pendor económico mais liberal, mas as suas grandes promessas são o investimento em obras públicas e o combate ao crime, na figura dos grandes traficantes de cocaína e guerrilhas residuais do Sendero Luminoso, que no sábado atacaram um automóvel com material de eleições e mataram sete pessoas.
“Lamento que este Governo tenha permitido que o crime tenha crescido nas ruas e também que o Sendero Luminoso continue a roubar vidas e derramar sangue no nosso país”, afirmou, na noite de domingo.
A segunda volta de Junho será em parte uma reedição da primeira volta das presidenciais de 2011, em que Fujimori e Kuczynski disputaram a passagem à segunda volta contra Ollanta Humala, que se abstém de apoiar qualquer candidato — Fujimori perderia depois com 48,5% dos votos contra os 51,4% de Humala.
Notícia corrigida às 12h23: O Presidente Ollanta Humala abandona o cargo com uma taxa de reprovação de 83% (e não de aprovação como se escreveu por lapso)