Activistas angolanas agredidas por reclusas da prisão feminina de Viana
Rosa Conde e Laurinda Gouveia, que integraram o processo dos 15+2 acusados de "actos preparatórios de rebelião" contra o regime, terão sido espancadas sob o olhar e conivência de guardas prisionais.
Laurinda Manuel Gouveia e Rosa Conde, as duas activistas angolanas que foram condenadas no âmbito do processo dos 15+2 activistas acusados pelo regime de “actos preparatórios de rebelião e associação de malfeitores”, terão sido agredidas fisicamente por dezenas de reclusas da ala feminina do estabelecimento penal da comarca de Viana, sob o olhar de guardas prisionais.
O alegado ataque, que terá acontecido este domingo, pelas 16h, foi denunciado pelo jornalista e activista político angolano Pedrowski Teca, numa mensagem publicada nesta segunda-feira na página de Facebook de Luaty Beirão. De acordo com a denúncia, uma reclusa identificada como Sara terá insultado Rosa Conde, tendo partido para a violência quando esta ripostou. “Notando o incentivo das guardas prisionais que, no sentido de irritarem a activista, gritavam ‘Zé Dú, ditador, o povo está contigo’, várias outras reclusas juntaram-se à Sara, agredindo Rosa Conde”, lê-se.
Avisada do que estaria a suceder à sua correlegionária, Laurinda Gouveia tentou socorrê-la mas acabou por ser também agredida. “As duas activistas foram espancadas por mais de uma hora”, acusa a nota. Das agressões terão resultado arranhões e ainda “lesões graves no ventre e seios”, que terão motivado as duas reclusas a permanecer despidas como forma de protesto. Mensagens subsequentes publicadas por Pedrowski Teca dão conta de uma alegada reunião de emergência convocada pela directora da cadeia feminina de Viana, Filomena Catito, com as guardas envolvidas no incidente.
Numa nota pessoal, a família de Luaty Beirão manifestou a sua solidariedade com as duas activistas agredidas. Contactado pelo PÚBLICO para averiguar sobre a situação de Laurinda Gouveia e Rosa Conde, um dos advogados dos activistas, Zola Ferreira, disse não estar em condições de confirmar o relato publicado, mas acrescentou que “não deve estar longe da verdade”. Numa conversa mantida durante a sua visita à prisão, na passada sexta-feira, as duas detidas alertaram o advogado para os “momentos muito difíceis de pressão” que estavam a passar, e deram conta de um pedido apresentado junto dos responsáveis da prisão para “ter um tratamento igual aos 15 restantes activistas que foram transferidos para o hospital-prisão”.
Entretanto, o advogado confirmou que Luaty Beirão, o músico que cumpre uma pena de prisão, mantém o seu protesto pela transferência forçada do estabelecimento prisional de Viana para o hospital-prisão de São Paulo, em Luanda. Esse protesto, precisou a sua mulher ao PÚBLICO, consiste na recusa de ingestão de todos os alimentos que não lhe tenham sido directamente entregues pela família. O activista também se recusa comunicar com as autoridades – mas nas visitas de sábado e domingo, Luaty falou à mulher, Mónica. “Repetiu que estava determinado a permanecer na cadeia de Viana, porque tinha um importante trabalho de denúncia dos excessos e atrocidades que estão a decorrer nas prisões”, disse ao PÚBLICO.
“O Luaty mantém o seu protesto”, repetiu Zola Ferreira, acrescentando que não houve nenhuma alteração nas condições de detenção do rapper de anos. “Ele encontra-se na sua cela na mesma condição em que foi deixado, no chão e em cuecas (“boxers”), depois de ter sido transportado à força do estabelecimento prisional de Viana, juntamente com Nelson Dibango, como [se fosse] um saco de fuba”, esclarece a família, na sua página do Facebook. “Confirmamos que não existe uma greve de fome. Confirmamos também que hpuve o cuidado por parte dos guardas em não deixar mazelas físicas no seu transporte, existindo apenas arranhões”, lê-se na mesma mensagem.