A arrogância das elites progressistas deu no President Trump
Na passada terça-feira de manhã, ao ler as últimas estatísticas disponíveis, sabíamos que Trump tinha cerca de 35% de probabilidade de ganhar. Não era o acontecimento mais provável. Mas era um acontecimento algo possível. A onda de choque que o mundo viveu umas horas depois é diretamente proporcional à arrogância das elites progressistas. Não quiseram ou não conseguiram perceber o mundo que os rodeia. Andaram meses a diabolizar o adversário e a dizer que só os idiotas e os deploráveis votavam naquilo. Confundiram o desejo com a realidade. Viveram dos preconceitos. Afinal as mulheres votam Trump. Afinal os afroamericanos e os latinos não gostam assim tanto de Clinton. Afinal os brancos educados são fiéis ao Partido Republicano. Afinal, afinal. Presa no seu labirinto de superioridade moral e big data, uma combinação curiosa, a candidatura de Hillary Clinton insistiu em viver numa bolha. Uma bolha que convenceu o resto do mundo porque o resto do mundo queria ser convencido. E agora estão chocados.
Perdeu Hillary Clinton. Mas há derrotas ainda mais duras. Comecemos pela própria comunicação social progressista. O NYT, a CNBC, a CNN, entre muitos. Não só apoiaram Clinton como era tradicional. Desta vez, estes meios de comunicação foram parte ativa da estratégia de campanha. Em nome de uma qualquer superioridade ética, entenderam que todos os meios justificam o fim (a eleição de Hillary Clinton). Os focus groups onde os apoiantes de Clinton eram sempre maioritários. As sondagens sobre os três debates onde os democratas tinham sempre 60% da amostra e Clinton ganhava tudo. Os painéis na CNN onde Clinton tinha três ou quatro pessoas, Trump duas como máximo. Os Republican for Clinton que não contam eleitoralmente, mas estavam nos plateaus televisivos (afinal os Trump Democrats foram a descoberta da noite eleitoral pois na comunicação social progressista nunca existiram). Com a ajuda de uma leitura enviesada das estatísticas e do big data que diziam conhecer, o NYT, a CNBC e a CNN, entre outros, criaram e alimentaram uma realidade paralela. A América está profundamente dividida como sempre esteve (os números finais apontam para um empate entre os dois grandes candidatos nos 48%), mas os meios de comunicação progressistas sonhavam com o landslide da sua candidata. Deu no que deu.
Outro grande derrotado, eu diria mesmo o maior derrotado, é o Presidente Obama. Hillary Clinton perdeu a presidência. Mas o Partido Democrata não ganhou a Câmara (nem consegue regressar aos níveis de 2012), falhou a conquista do Senado (uma outra derrota muito dura), e ficam inevitavelmente enterrados os planos para controlar o Supremo Tribunal (será agora uma escolha do Presidente Trump). Perdeu ainda as três corridas estaduais relevantes (Missouri, New Hampshire, Vermont). Uma autêntica limpeza. O Presidente Obama rompeu todas as convenções para apoiar Hillary Clinton. Michelle Obama fez mais comícios e intervenções públicas que o ex-Presidente Bill Clinton. Qualquer prudência ou imagem de isenção necessária para uma transição pacífica foi sacrificada no altar das conveniências do seu partido. Ler agora os editoriais do NYT, Guardian ou El País dizendo que não foi uma derrota de Obama só pode ser piada. A América votou num homem que prometeu uma coisa – desfazer toda a legacy de Obama. A América arrumou os democratas com o maior fracasso eleitoral desde 1979. Se isto não é um resultado muito negativo para Obama, então os progressistas insistem em continuar na sua realidade paralela.
Trump tem agora quatro anos para mostrar o que vale. Tem um Congresso que lhe é muito favorável. E tem uma oposição desfeita, desnorteada, sem rumo. E quer os Obama, quer os Clinton ficam fora do jogo político por uma larga temporada. Esperemos pois para ver if American can be great again!
PS: Não sendo cidadão dos Estados Unidos, evidentemente não tenho direito a voto. Mas, achando importante esclarecer o leitor sobre as minhas preferências políticas, em vez de me esconder atrás do conveniente biombo académico, esclareço que apoiei publicamente Gary Johnson, mesmo com todas as suas limitações de conhecimento geográfico. Rejeito a pseudo-lógica do voto útil, em Portugal ou na América. Johnson teve mais de 4 milhões de votos e acima de 3% do voto. O quádruplo de 2012. Um bom resultado.
Professor na Texas A&M University