A “amiga genial” da Presidente sul-coreana foi detida

A amizade entre Park Geun-hye e Choi Soon-sil tornou-se nos últimos tempos um assunto de Estado. Choi terá alterado discursos da Presidente e até tido acesso a documentos classificados.

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Choi Soon-il enquanto se dirigia aos jornalistas, poucas horas antes de ser detida Yonhap / Reuters

Há uma amizade que está a abalar a Coreia do Sul. A Presidente, Park Geun-hye, está sob fogo por ter procurado aconselhamento para assuntos de Estado junto de uma amiga pessoal. A história conheceu o desfecho de forma dramática nesta segunda-feira, com a detenção de Choi Soon-sil, apelidada de “Rasputine” pela imprensa local.

Poucas horas antes da detenção, Choi apareceu em lágrimas rodeada de jornalistas para pedir perdão. “Cometi um crime pelo qual mereço morrer”, disse a amiga da Presidente, momentos antes de ser interrogada pelos procuradores. Tudo aconteceu muito rapidamente. Choi estava na Alemanha, para onde viajou quando o escândalo rebentou, e tinha regressado para prestar esclarecimentos aos investigadores. Em menos de 24 horas foi detida, por se recear que pudesse tentar fugir, segundo o jornal Korea Herald.

Mas é preciso recuar bastantes anos para que toda a história seja compreendida. Park e Choi conhecem-se há décadas e, para a Presidente – que é órfã e não tem família mais próxima –, a amiga assumiu uma grande importância ao longo da sua vida, escreve a BBC.

Apesar de notável, a história das duas amigas tem contornos de déjà vu para os sul-coreanos. Também os seus pais, Park Chung-hee e Choi Tae-min, foram amigos muito próximos. E ambos ocuparam as posições hoje desempenhadas pelas filhas.

Park Chung-hee esteve quase 20 anos no poder, na sequência do golpe militar de 1961 que derrubou a Segunda República. Em 1979, foi assassinado pelo chefe dos serviços secretos e uma das principais teorias por trás do caso é a de que a excessiva proximidade entre Park e um líder religioso obscuro estariam a causar incómodo aos serviços de segurança. O religioso era Choi Tae-min, pai da amiga da actual Presidente. Também a ele lhe chamavam “Rasputin”, o místico russo que exercia uma influência profunda na corte do czar Nicolau II.

As filhas dos dois amigos passaram grande parte da infância juntas e a amizade manteve-se mesmo depois de Park ter seguido o exemplo do pai. Choi Tae-min começou por ser budista, converteu-se ao cristianismo e acabou por fundar a “Igreja da Vida Eterna”. Durante os anos de juventude da futura Presidente sul-coreana, o amigo do seu pai também se aproximou dela, dizendo-lhe que a mãe – assassinada cinco anos antes do pai por um simpatizante da Coreia do Norte – lhe aparecia em sonhos, segundo a BBC.

Um telegrama da embaixada norte-americana em Seul de 2007, revelada pela Wikileaks, dava conta da proximidade entre o pastor e Park e refere relatos acerca da forma como Choi “controlava Park durante o seu tempo na Casa Azul [residência oficial da presidência] quando ela era a primeira-dama, após o homicídio da mãe”.

Entre Park e a filha de Choi, a amizade manteve-se. Um canal de televisão sul-coreano revelou que a Presidente enviou à amiga discursos pedindo-lhe sugestões e conselhos. Park admitiu tê-lo feito, mas disse que o fez apenas durante uma fase inicial depois de tomar posse, enquanto ainda não tinha uma equipa de conselheiros nomeada.

A imprensa local diz, no entanto, que o envolvimento de Choi ia mais longe do que a simples revisão de discursos. A filha do pastor terá tido acesso a documentos presidenciais, diplomáticos e militares confidenciais. Há ainda suspeitas de que os funcionários da administração presidencial terão conseguido juntar 80 mil milhões de won (63 milhões de euros) distribuídos por duas fundações próximas de Choi.

No fim-de-semana, milhares de pessoas juntaram-se numa das principais praças de Seul para pedir a demissão de Park, cujo mandato termina no próximo ano. Os próximos tempos dirão se a prisão de Choi irá acalmar as críticas feitas à Presidente.

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