Savimvi foi "localizado"
As Forças Armadas Angolanas garantem que já "localizaram" o líder da UNITA e que já destruíram 80 por cento da sua capacidade de guerra convencional. Mas o Chefe de Estado-Maior João de Matos admite que Jonas Savimbi poderá resistir com acções de guerrilha. Sobre uma alegada vala comum onde haveria generais que o chefe do Galo Negro supostamente mandou matar, Luanda não dá pormenores.
O Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas (FAA), general João de Matos, crê que o fim da guerra está relativamente à vista depois de as suas tropas terem alegadamente destruído 80 por cento da capacidade de guerra convencional da UNITA. Conseguiu até localizar o líder do Galo Negro, Jonas Savimbi, só que não especificou onde, e essa área de actuação poderá ser maior do que a de alguns países europeus.A "revelação" de que estaria no encalço do "inimigo número um" foi feita por João de Matos, na segunda-feira à noite, em declarações à nova coqueluche da propaganda governamental, o programa "Nação Coragem", da Televisão Pública de Angola (TPA), que parece ser agora o espaço escolhido pelos responsáveis militares para se pronunciarem em primeira mão sobre os principais desenvolvimentos no teatro das operações. A confirmação da presença de Jonas Savimbi em território angolano feita pela mais alta patente militar do Governo vem antes de mais pôr cobro às especulações quanto à possibilidade do líder da UNITA estar a residir fora de Angola, designadamente no Uganda ou no Burkina Faso, depois de ter sido forçado a abandonar os seus principais bastiões - Andulo e Bailundo - no Planalto Central. "Nós sabemos onde ele está. Nós estamos a fustigá-lo diariamente. E vamos continuar a fustigá-lo até capturá-lo ou aniquilá-lo", disse o Chefe do Estado-Maior. Admitiu, no entanto, que - após a destruição da componente convencional das suas forças - Savimbi poderá enveredar sobretudo por actos de guerrilha.Informações a que o PÚBLICO teve acesso apontam para a presença de Jonas Savimbi numa vasta área de difícil acesso, densamente arborizada e irrigada por muitos rios, entre o Sul da província de Malange e o Norte da província do Bié, [zona onde se situa a Reserva Natural do Luando, município do Luquembo], que era a região 41 dos tempos da guerrilha da UNITA durante a primeira guerra civil. "Savimbi está localizado numa região que em extensão geográfica poderá ser superior a alguns países europeus"- assim se referiu, de forma mais ou menos irónica, uma das fontes do PÚBLICO, ao tentar identificar o paradeiro daquele que as autoridades angolanas tratam oficialmente por "criminoso de guerra". Apesar dos "grandes êxitos em curto espaço de tempo" alcançados pelas forças governamentais, é o próprio general João de Matos quem faz questão de chamar a atenção de todos, e em particular dos seus militares, para o facto de a guerra ainda não ter acabado. [Recentemente uma fonte próxima do Futungo de Belas dizia mesmo que, em certa medida, ela ainda estaria no princípio]."Não será possível começar a viver o novo milénio já em paz porque o território é extenso, o nosso território tem particularidades muito complexas. Ficará concerteza uma componente de guerrilha ainda muito importante, que também vai ser combatida", explicou o Chefe do Estado-Maior, que segundo analistas independentes citados pela BBC "só é optimista quando tem muito boas razões para o ser".A actualidade político-militar angolana está a ser fortemente dominada, desde o fim da semana passada, por informações muito desencontradas sobre a situação de alguns generais da UNITA que até há pouco se mantinham fiéis a Savimbi e em relação ao quais se teme agora o pior, a acreditar na propaganda de Luanda. Fontes governamentais alegaram nestes últimos quatro dias que o chefe histórico da UNITA teria mandado matar os generais Altino Sapalalo Bock, Antero Morais Vieira e Armindo Tarzan, bem como o brigadeiro Grito. Mas não há nenhuma fonte independente que o confirme.Domingo o Estado-Maior anunciou a descoberta de uma vala comum "com centenas de corpos em estado de putrefacção", na confluência dos rios Cuvale e Cunhinga, na província do Bié; e que depois daria mais pormenores. Mas até ontem à tarde a televisão ainda não mostrara qualquer vala do género; e muito menos quaisquer cadáveres de generais da UNITA que lá se encontrassem.