No corpo de Toni Collete, as mulheres de Diablo Cody ganham vida de sitcom

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Toni Colette é Tara (aqui com o marido Max) dr

A actriz, nomeada para um Emmy, interpreta uma mãe dona de casa que deixou de tomar os remédios

a Recuemos ao início de 2008, quando Juno e o seu calão rápido, a sua iconografia all american e a sua protagonista adolescente grávida conquistavam o público. Fenómeno de popularidade, Juno abriu as portas a uma argumentista, Diablo Cody, para criar a sua própria série. E assim, com uma (grande) ajuda da actriz Toni Collete e do produtor Steven Spielberg, nasciam As Taras de Tara (uma tradução facilitista de United States of Tara).A série, que hoje se estreia em Portugal no Fox Life (sinal aberto) às 21h25, é uma sitcom. E boas sitcoms precisam-se. Numa altura em que a RTP2 está a exibir de segunda a sexta Rockefeller 30, o veículo de Tina Fey e Alec Baldwin rumo à grandeza cómica e multi-premiada, Tara surge como uma espécie de As Novas Aventuras de Christine com múltipla personalidade. Por que é exactamente isso que Tara tem e que Toni Colette põe a funcionar, 25 minutos de cada vez. Este é o truque, o gimmick, de As Taras de Tara.
A actriz, nomeada para o Emmy deste ano na categoria de comédia, dá vida a uma mãe (de dois adolescentes Juno) e dona de casa que repentinamente salta de registo em registo por ter desistido de tomar a sua medicação - o masculino Buck, a dona-de-casa perfeita Alice ou a adolescente rebelde T. A partir daí, o argumento de Diablo Cody, tipicamente veloz e repleto de referências pop, ressalta no marido, interpretado por John Corbett, para criar uma comédia que afinal é uma reflexão ligeiramente esquizofrénica sobre as dificuldades de viver uma existência dita "normal".
Quando se fala de sitcom, está-se a falar de comédia de situação. E se em Seinfeld o pretexto era o nada, ou em Frasier as idiossincrasias dos irmãos psiquiatras e do pai reformado, em Tara o pontapé de saída pode muito bem ser encarado como a condição feminina. Os papéis de Tara são os papéis de muitas mulheres, ou de uma só, engendrados de forma a brotar em situações pouco óbvias para reduzir o seu grau de previsibilidade. E conseguir que esta não seja apenas mais uma série com um gimmick, perceptível a léguas e enfadonho após algumas doses (leia-se episódios), será um dos motivos pelos quais Diablo Cody enverga dois mantos em simultâneo.
Diablo Cody é uma argumentista-celebridade. Não há muitos que possam envergar as duas capas em simultâneo. Mas ela fá-lo sob a égide da teenage angst, das mulheres que tudo podem, e à sombra de um Óscar de Melhor Argumento Original por Juno e de algum desdém da crítica pelo facto de ser um êxito à primeira, sem pedigree ou tempos difíceis a trabalhar na sombra de belos projectos art-house.
A televisão continua cheia de gente ao lado da normalidade: há a leitura comportamental de O Mentalista, as conversas do Além de Entre Vidas, o serial-killer que caça serial-killers de Dexter, a mãe traficante de Erva, os polígamos de Big Love, os vampiros e telepatas de Sangue Fresco, os professores voltados para o crime de Ruptura Total ou os irmãos Sobrenatural. Tara é então mais uma, distante de outras comédias actualmente em exibição (como O Mundo de Jim ou As Aventuras de Christine) porque alia a premissa extravagante ao formato sitcom.
A série, produzida por Cody e Steven Spielberg para a Paramount e DreamWorks, passa no canal Showtime e estreou-se em Janeiro deste ano, um ano depois do Óscar de Juno. Agora, serão os Emmys de dia 21 de Setembro a validar (ou não) a passagem da escrita e do universo Diablo Cody para a TV.

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