Vamos falar das árvores? Das podas à biodiversidade, sábado é dia de as descobrir

A iniciativa é da Plataforma em Defesa das Árvores, que quer que elas sejam vistas como uma solução e não como um problema. Apresentado há um ano como urgente, o Regulamento Municipal do Arvoredo continua por aprovar.

Foto
As notícias em torno das árvores têm sido “muito más”, centradas em “incidentes” como o abate e a poda indevida ou fora de tempo Daniel Rocha

Vamos falar das árvores de Lisboa? A proposta é da Plataforma em Defesa das Árvores, que vai promover no sábado um seminário em torno do tema e um “passeio guiado”. Depois de um ano marcado por “notícias muito más” sobre intervenções no arvoredo da cidade, a porta-voz da plataforma sublinha que aquilo que se pretende é “abordar a árvore de uma maneira diferente”, não como um problema mas sim como “uma solução para uma série de problemas”.

O seminário acontece entre as 10h e as 13h do dia 21 de Maio no Cinema São Jorge, na Avenida da Liberdade. Entre os oradores confirmados estão o vereador da Estrutura Verde da Câmara de Lisboa, José Sá Fernandes, e o ex-ministro António Bagão Félix, apresentado como “botânico amador” e autor do livro “Trinta árvores em discurso directo”.

Rosa Casimiro, a porta-voz da plataforma, nota que foi possível mobilizar para esta iniciativa vários técnicos da área. “Chamámos uma série de especialistas, de pessoas que estudam as árvores”, diz, fazendo o contraponto com aqueles que integram o movimento nascido há cerca de um ano: “Nós não somos técnicos. O que nos une a todos é o amor pelas árvores”, constata.

Ao PÚBLICO, Rosa Casimiro observa que durante o tempo de vida do movimento, que além de vários cidadãos em nome individual integra organizações como o Fórum Cidadania Lisboa, a Associação Lisboa Verde, a Plataforma por Monsanto e a Quercus, as notícias em torno das árvores têm sido “muito más”, centradas em “incidentes” como o abate de alguns exemplares e a poda indevida ou fora de tempo de outros.

“E isso não é a realidade”, sublinha, notando que “a árvore, mais do que um problema, é a solução para uma série de problemas”. Por isso, explica, no seminário de sábado procurar-se-á “abordar a árvore de uma maneira diferente”.

Nesse sentido, haverá intervenções sobre “a subtil sabedoria das árvores”, “a biodiversidade na cidade de Lisboa”, “árvores, jardins e parques históricos”, “árvores monumentais, uma memória viva” e “a arboricultura em espaço urbano, boas e más práticas”. O arranque do seminário estará a cargo de Miguel Sepúlveda Velloso, da plataforma, que falará sobre “um ano a defender árvores”.

Depois do seminário haverá um “passeio guiado”, conduzido pelo ecólogo Rui Pedro Lérias, “pelo meio das árvores” de Lisboa. O ponto de encontro é às 15h de sábado no Alto do Parque Eduardo VII, junto à bandeira.

Rui Pedro Lérias adianta que o passeio, que termina na Praça da Alegria e tem uma duração estimada de duas horas, terá duas vertentes: uma “meramente lúdica”, que pretende que os participantes possam ver as árvores existentes ao longo do percurso e descobrir exemplares que não conheciam, e outra “um bocadinho didáctica”. A esse nível, explica, a ideia é apontar “bons e maus exemplos” existentes ao longo do percurso.

Observando que “as pessoas têm muita vontade de conhecer melhor as árvores de Lisboa”, Rui Pedro Lérias antecipa que haverá “uma boa afluência” a este passeio, que não requer inscrição prévia. “Tenho receio de ter que levar um megafone”, conclui a brincar o ecólogo, que mais do que “um guia” quer ser “um facilitador da visita”. 

Apesar de aquilo que agora se pretende ser abordar o tema das árvores de uma forma positiva, Rosa Casimiro reconhece que a realidade está longe de ser perfeita. Para a plataforma, um dos temas que causam preocupação é o facto de com a reforma administrativa da cidade a gestão e manutenção dos espaços verdes terem transitado da câmara para as juntas de freguesia.

“Houve um desmembramento da gestão das árvores. Cada junta trata à sua maneira e isso é muito preocupante”, afirma Rosa Casimiro. Para a designer, e apaixonada por árvores, isso deixa Lisboa mais longe do conceito de “floresta urbana”, do qual “se fala internacionalmente” e que pressupõe que se olhe para as árvores na cidade “como um elemento uno”.

Outra preocupação da plataforma tem a ver com o Regulamento Municipal do Arvoredo de Lisboa, mais precisamente com o facto de ele não ter ainda entrado em vigor. “É-nos difícil entender. Já passou mais de um ano”, diz Rosa Casimiro, que não encontra explicação para o atraso.

Reconhecendo que há “muitos pontos” no regulamento com os quais a plataforma não concorda, a designer frisa que ainda assim ele “é melhor que nada”. “Não haver nada é assustador”, afirma.

O regulamento foi aprovado pela câmara em Dezembro de 2015, por unanimidade, já depois de ter sido submetido a consulta pública. Depois disso foi remetido à Assembleia Municipal de Lisboa, onde ainda não foi discutido em plenário. Numa informação constante no site deste órgão autárquico diz-se que o documento deu entrada no dia 23 de Dezembro, acrescentando-se que neste momento se “aguarda pedido de parecer” feito ao Departamento Jurídico do município.

O assessor de imprensa do vereador Sá Fernandes confirmou ao PÚBLICO que neste momento ainda se está a aguardar o envio desse parecer. Quando é que isso acontecerá, e por consequência quando é que o regulamento poderá finalmente entrar em vigor, ninguém sabe dizer.  

Em Maio de 2015, numa reunião pública em que o regulamento foi discutido, o presidente da câmara garantiu ter "urgência" na aprovação do documento. "A cidade reclama uma resposta a estas questões", referiu na ocasião Fernando Medina

Sugerir correcção
Comentar