Open House Porto: Encontrar novos endereços nas ruas em que se habita
O Open House regressa ao Porto, a Gaia e a Matosinhos. As portas de 51 edifícios vão abrir-se a “estudiosos, turistas, técnicos, amantes de cidades, voyeurs e futuros políticos”, já no fim-de-semana de 18 e 19 de Junho.
Uma viagem entre finais do século XIX até ao século XXI, conduzida por edifícios que contam estórias com várias décadas. O Porto vai, mais uma vez, abrir as portas à arquitectura, na segunda edição do Open House. No fim-de-semana de 18 e 19 de Junho, a “festa da arquitectura” estende-se a 51 edifícios das três cidades da Frente Atlântica e vai fazer os seus visitantes embarcar numa viagem que vai retroceder ao início do século XX, com paragem na Casa Barbot, em Gaia, por exemplo, mas que rapidamente salta para o século XXI, para o renovado Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões.
A iniciativa da Casa da Arquitectura e da Trienal de Arquitectura de Lisboa conta com a parceria da Câmara do Porto e com a colaboração das câmaras municipais de Gaia e de Matosinhos. E aparece “para levar a arquitectura ao grande público”, diz o director executivo da Casa da Arquitectura, Nuno Sampaio, na conferência de imprensa de apresentação do evento. Que ocorre numa cidade que é “reconhecida mundialmente, não só pelo que fazem os seus arquitectos, mas também pelo património que tem”, salienta José Mateus. Para o presidente da Trienal de Arquitectura de Lisboa, “este programa, de todos os que a trienal tem na sua lista de programação, é talvez o mais democrático, o mais aberto”, porque está pensado “desde a origem” para os cidadãos e não para os especialistas. Contudo, acrescenta que “tem também uma qualidade que garante que especialistas e os mais exigentes sintam que é um espaço especial de fruição da arquitectura”.
O roteiro definido pelo comissário do evento, o arquitecto Jorge Figueira, e pelo comissário-adjunto, Carlos Machado e Moura, é uma “homenagem às três cidades”, desenhado para quem vive “na região”, o que “contrabalança” com a atenção dada ao turismo. O curador lança o convite a “estudiosos, turistas, técnicos, amantes de cidades, voyeurs e futuros políticos”, a todos o que queiram “conhecer e encontrar novos endereços nas ruas que habitam”.
Nesta viagem, o comissário destaca paragens "obrigatórias" em monumentos contemporâneos, como a Casa de Chá da Boa Nova, do arquitecto Siza Vieira, a escola do Cedro, a piscina de Leça, a Quinta da Conceição, "sítios que inscreveram a arquitectura portuguesa, já desde os anos 50, no debate internacional". E uma "surpresa" que inclui uma visita a uma das Quatro Casas, em Matosinhos, uma das primeiras obras de Siza.
Mas este percurso tem mais do que uma "visão intimista". As “intervenções de grande escala na cidade”, como o Terminal de Leixões, a Torre do Burgo, de Souto de Moura, partes que não são habitualmente visitáveis do Metro do Porto, ou a Igreja Universal do Reino de Deus, vão ser abertas ao público. E é por isso que a engenharia do Porto também será contemplada pelas visitas à ponte de S. João e ao Laboratório de Engenharia Edgar Cardoso. Um roteiro que não esquece a habitação social, com visitas aos bairros do Lagarteiro e de Lordelo do Ouro.
Para o comissário do Open House, a “pedra de toque” do evento passa pelo regresso ao Porto ecléctico do século XX, à matriz e à erudição” de edifícios como a Clínica Heliântia, a Casa Barbot, o Teatro S. João, o ateliê da Fundação Marques da Silva, a sede da Caixa Geral de Depósitos, o edifício do Comércio do Porto - imóveis que abriram a porta à arquitectura modernista dos anos 40 e 50. Também as câmaras municipais vão poder ser visitadas, “em nome do sentido democrático” que o projecto apresenta. Um itinerário que inclui lugares que não têm “espaço para acolher multidões, mas que têm grande valor arquitectónico e que se dividem pelas três cidades”, conclui Nuno Sampaio. O director da Casa da Arquitectura fez também questão de destacar o papel de Paulo Cunha e Silva, a quem dedica a segunda edição da Open House Porto, na formação da Frente Atlântica, que “viu que o território das três cidades era um só”.
Um programa de inclusão e viagens de balão
A inclusão assume-se como uma das principais preocupações desta edição. Foi criado um programa “paralelo e de inclusão” que contempla visitas sensoriais, para invisuais, com explicação em braille, ao Palácio do Bolhão e com tradução para língua gestual à Serra do Pilar, por exemplo.
Vai ser possível ter uma visão “Google Maps”, com uma vista aérea proporcionada por viagens de balão de ar quente que vão permitir que o cidadão possa ver a cidade de uma outra perspectiva.
Também os estudantes de arquitectura estão convocados. Para entreter as pessoas que estão à espera de entrar nos locais, os estudantes vão desenhar os espaços a partir de determinado tipo de detalhes, num “convite” para que as pessoas vejam os edifícios de uma outra forma.
As crianças e as famílias vão poder envolver-se também em actividades lúdico-pedagógicas em três dos espaços do roteiro: na Câmara do Porto, no Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões e no Farol de Leça.
Durante dois dias, cada um vai poder criar o seu itinerário pela cidade, por 51 espaços de património arquitectónico e urbanístico português, acompanhados por 150 voluntários e 61 especialistas que ajudarão nas visitas comentadas. Segundo Nuno Sampaio, fazer melhor do que no ano passado passa por “tentar manter o número de visitantes” - cerca de 11 mil. Este ano, a organização aumentou também o número de espaços, de 42 para 51. A entrada mantém-se gratuita e o acesso é por ordem de chegada, sendo que em alguns casos será necessária uma pré-marcação.
Texto editado por Ana Fernandes