Espólio da CUF reunido em museu industrial
O parque empresarial, que hoje assinala o seu 15º aniversário, foi o "fiel depositário" do espólio que, a partir de 1907, conferiu ao Barreiro o estatuto de uma das maiores zonas industriais da Península Ibérica, e que agora fica disponível para avivar as recordações dos mais velhos e ajudar as gerações mais novas a entender a história das suas famílias e do seu município. "Costumo dizer que o país tem uma dívida de gratidão para com o Barreiro, porque quando ainda não se falava de PIB [Produto Interno Bruto] e de desenvolvimento económico, já aqui havia um complexo industrial que serviu de alavanca ao crescimento de Setúbal e de Portugal", afirma Emídio Xavier, presidente da Câmara do Barreiro.
Equipamentos industriais, documentos, medalhas e diplomas que a Companhia União Fabril (CUF) foi recebendo em certames internacionais, foram recuperados e organizados para construir um percurso que marca a história do concelho, para onde confluíram milhares de operários, sobretudo nos anos de 1940 e 50, à procura de melhores condições de vida. "Chegaram a trabalhar aqui 16 mil pessoas, vindas sobretudo do Alentejo, mas também do Algarve e das Beiras", lembra Emídio Xavier. Mesmo depois de 1974, mantiveram-se perto de dez mil postos de trabalho.
A Câmara do Barreiro contribuiu para o projecto do museu industrial, uma velha aspiração da população e dos responsáveis da antiga CUF, através dos técnicos municipais, que ajudaram a organizar o espólio e o acervo documental e iconográfico, representativo de áreas como a química, o têxtil, a metalomecânica, a produção de energia e a segurança industrial. "Há uma referência ao corpo de bombeiros da CUF, criado em 1911, para demonstrar que, já nessa altura, a segurança era um elemento fundamental", sublinha o autarca.
O museu está implantado na antiga "central diesel", mesmo no centro da Quimiparque, um edifício de dimensões e características arquitectónicas que a administração entendeu ser adequado a este fim, datado de 1935. "O edifício é, ele próprio, um elemento do património industrial do Barreiro", salienta Luís Tavares, administrador da Quimiparque. Começou a ser recuperado em 1999, com base num projecto do arquitecto Varandas Monteiro, autor do projecto do Museu da Água.
"Deixámos ficar um dos grupos de geradores de energia dos anos 40 e reconstruímos uma linha completa de produção de tecidos e sacos utilizados no transporte de adubos", descreve Luís Tavares. Mas há muito mais que ficou por mostrar. "Queremos que o museu não seja estático, e por isso vamos mudar, periodicamente, a exposição, porque há muito mais material que temos guardado para mostrar", adianta o administrador da Quimiparque. Também o presidente da autarquia acredita que, com as visitas regulares, outros objectos que fazem a história deste pólo industrial, que se encontrem na posse dos antigos operários, podem vir à luz do dia para complementar o espólio.