Cinco peças de fruta e legumes por dia: A receita para crianças felizes
A iniciativa "5 por dia", que arrancou em 2007, leva alunos de várias escolas a conhecerem as instalações do Mercado Abastecedor de Lisboa e a aprenderem um pouco mais sobre o que devem ou não comer. Até agora, já foram abrangidos pelo programa 50 mil jovens.
Esta terça-feira, o Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (MARL) abriu as portas, naquela que foi a primeira iniciativa do projecto de sensibilização alimentar “5 por Dia” deste ano, para receber duas turmas do Externato Padre António Vieira. As 34 crianças, de uma turma do 5º e outra do 6º ano, tiveram a oportunidade de passar um dia diferente a aprender, de forma interactiva, a importância de terem uma alimentação saudável e variada.
“Queremos, acima de tudo, ajudá-los a terem algumas competências naquilo que se considera uma alimentação saudável”, esclareceu Gonçalo Velho, vogal do conselho de administração do MARL. “Fiquei surpreendido por ver que muitos miúdos conseguiram distinguir as frutas pelo cheiro porque hoje em dia muitos não conseguem fazê-lo”.
Reconhecerem as frutas pelo seu aroma foi apenas um dos desafios que os alunos tiveram pela frente, sempre acompanhados por uma equipa de seis nutricionistas do programa "5 por Dia". Além de também terem de identificar as frutas pelo paladar, num jogo em que estiveram vendados e não puderam receber outras pistas além das fornecidas pelos sentidos, os jovens ainda tiveram possibilidade de prepararem a sua própria salada de frutas. E, depois da pausa para o lanche da manhã, ainda puderam beber um sumo de abacaxi. “Escolhemos esta fruta porque percebemos que há muitas crianças que nunca provaram abacaxi. Não é tão normal tê-lo em casa como se tem banana, maçã ou laranja, e às vezes essas são mesmo as únicas frutas que eles consomem”, notou Susana Santana, responsável pelo programa “5 por Dia”.
Ainda assim, as duas turmas mostraram-se bem preparadas. Antes dos desafios com as frutas, responderam a questões acerca da importância de terem uma alimentação variada, que incluísse diariamente pelo menos cinco porções de legumes ou frutas, e assistiram a um episódio da série Nutriventures, que passa na RTP 2 e tem a alimentação saudável como tema.
Cinco Jovens Olhares Sobre Fruta e Legumes
César tem 10 anos, está 5º ano e teve nesta visita de estudo a oportunidade de aprender, ao vivo e a cores, que experimentar é o primeiro passo para se aprender a gostar: “Foi divertido porque conheci novas frutas e já sei como tomar um pequeno-almoço melhor. Antes só comia cereais de chocolate e agora vou passar a comer mais fruta e legumes”, promete. E embora a cenoura não seja uma preferência, também vai passar a ser presença assídua à mesa: “Ouvi dizer que a cenoura crua é boa, dá energia e tem vitaminas, por isso vou passar a comer. Também não gosto de feijão-verde, mas vou experimentar”.
Rafael, que tem 11 anos e faz parte da turma 6º ano, também considerou a actividade relevante para incentivar os mais novos a ter uma boa alimentação e saberem quais os alimentos que devem consumir. "Quanto aos legumes, gosto de tudo, mas a couve e o feijão-verde são os meus favoritos. Quando era pequenino não gostava muito dessas coisas, mas os meus pais foram-me obrigando a comer e agora gosto”.
Eva, também da turma do 6º ano, vai mais longe: “Também aprendi que devemos beber seis copos de água por dia e aprendi a cortar a fruta e fazer uma salada de fruta. Nunca tinha feito nenhuma e agora já sei!”. De entre os legumes, gosta de todos, “menos de brócolos”, e afirma que os cereais integrais também fazem parte da sua rotina: “Os integrais são melhores porque não têm tantos açúcares e não foram tão fabricados”.
Para Inês Portugal, uma das nutricionistas do grupo, a faixa etária destas crianças é a ideal "para se educar (para uma boa alimentação) porque é nesta idade que eles começam a ganhar os hábitos alimentares". Noutras faixas etárias "já há maus hábitos enraizados". Como, por exemplo, alguns casos de alunos que lhe passam pelas mãos no MARL e que a deixam sem palavras. "Às vezes, nem sei o que dizer, quando eles trazem pizza para o lanche da manhã, ou refrigerantes ou batatas fritas!".
À descoberta dos pavilhões verdes
Após a pausa para o lanche, as crianças tiveram hipótese de explorar um dos armazéns verdes (dedicados aos legumes e frutas) do MARL e perceber melhor a realidade da produção e distribuição de hortofrutícolas a nível nacional. “Temos de aproveitar as valências que aqui temos e permitir às crianças o contacto directo com os produtos frescos”, explicou Marco Almeida, outro dos responsáveis pelo evento escolar.
É uma opinião que partilha com Luísa Figueiredo, uma das professoras que acompanhou as turmas. Docente de Ciências da Natureza, contou que os seus alunos já participaram noutras iniciativas de alimentação saudável, como o Projecto Ecoescolas, mas que nunca é de mais insistir na educação para um bom regime alimentar. “Temos muitos casos de pais que se preocupam em gerir uma alimentação saudável, mas outros não tanto e cometem erros, como o abuso do açúcar”. Aponta a questão da falta de tempo e de disponibilidade, mais que as condições socioeconómicas das famílias, como os principais factores que levam a esta realidade, mas reconhece que há cada vez mais miúdos que pedem aos pais para lhes mandarem lanches mais saudáveis. "Já perceberam que é melhor trazerem leites naturais em vez de leites com chocolate, com sabor a morango ou outros, e que uma sandes simples é melhor que bollycaos e doces”. E reconhece igualmente que as visitas de estudo são eficazes na aprendizagem de conteúdos: “Se eles estiverem apenas a tirar apontamentos, não vão aproveitar a visita em pleno. E temos a preocupação de que esta seja uma experiência mais introspectiva que extrospectiva”.
“Desde que o “5 por Dia começou”, há oito anos lectivos, já recebemos 50 mil crianças no MARL”, adiantou Susana Santana, acrescentando que, a partir do próximo mês, vão receber ainda mais. Mas o projecto não fica por aqui: "Numa próxima fase, queremos passar a ir às escolas, com o mesmo produto mas com moldes diferentes daqueles que podemos oferecer aqui nas instalações do MARL". Neste momento, o calendário está todo preenchido, "pelo menos até Fevereiro".
Texto editado por Ana Fernandes