Algarve recebe 1,5 milhões para promover o turismo na época baixa à boleia da cultura
Menos dinheiro mas mais ambição no apoio e promoção da cultura. O programa “Allgarve” chegou a ter cinco milhões de euros de orçamento, agora surge o “Algarve cultural” com apenas 1,5 milhões
A cultura e turismo juntaram-se para elaborar o programa “Algarve cultural” que vem substituir o Allgarve que se realizava nos meses de Verão. Desta vez, os eventos não se realizam apenas na época alta. O grande investimento promocional irá ser feito na altura em que os hotéis e os restaurantes fecham as portas e mandam o pessoal para o desemprego. A iniciativa, apresentada nesta segunda-feira no Centro de Ciência Viva de Lagos, tem como desafio “diminuir a sazonalidade turística através da criatividade e inovação”, procurando uma aproximação com as comunidades locais.
A realização de 626 eventos – música, cinema, teatro e outras artes –, inseridos em 48 projectos, concentra-se entre os meses de Outubro a Maio. O orçamento, no valor de 1,5 milhões de euros, fica-se por menos de metade do Allgarve, que chegou a atingir os cinco milhões de euros. A iniciativa, criada pelo antigo ministro da Economia, Manuel Pinho, ficou marcada por um conjunto de “experiências” artísticas, programadas em Lisboa para pôr em prática durante a época balnear. Desta vez, a coordenação cabe à antiga directora regional da Cultura, Dália Paulo, envolvendo os agentes locais. “Este é um programa que nasce de uma ideia feliz e necessária de diálogo entre cultura e turismo”, disse.
O financiamento é suportado na íntegra pelo Turismo de Portugal (TP) com o objectivo de fidelizar o destino e captar novos visitantes. Assim, o presidente do TP, Luís Araújo, defendeu que este programa é a “prova” de que o Algarve deve ser “vivido 365 dias por ano”, procurando potenciar o “enriquecimento da experiência dos turistas no território”. No mesmo sentido, o ministro da Cultura, Luís Castro Mendes, enfatizou: “Cultura e turismo são duas áreas que se potenciam mutuamente”. Por sua vez, a secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, destacou que esta é a “resposta à necessidade” que o Algarve há muitos anos vem reclamando de combate à sazonalidade.
O presidente da Associação do Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Elidérico Viegas, interpelado pelo PÚBLICO, discorda. Crítico do programa, antecipa um balanço com resultados negativos: “ Não vai servir para atrair novos fluxos turísticos – apenas poderá animar os que já cá estão”. O dirigente associativo ressalva, no entanto, que não coloca em causa “o mérito cultural da iniciativa”. Porém, acrescenta: “não digam que é para combater a sazonalidade”.
A propósito do bom ano turístico que a região está a viver, a AHETA divulgou recentemente os dados provisórios da taxa de ocupação hoteleira, no mês de Julho, que se situou nos 87,4%, mais 2,2% em relação a período homólogo de 2015. O volume de negócios, no mesmo período, registou mais 9,4% que o ano passado
A captação de mais clientes para os hotéis, defende Elidérico Viegas, deveria ser feita “com meia dúzia de grandes eventos, de projecção internacional”. O dirigente associativo já defendera a mesma tese, sem sucesso, aquando da realização do Allgarve. Para alterar a política de promoção turística, recordou, a AHETA “anda a propor junto do Governo projectos de animação desde que se realizaram as comemorações do Milénio, mas sem êxito”. Nessa altura, o Algarve, à semelhança de outras regiões turísticas, aproveitou o simbolismo da data para se dar a conhecer aos mercados internacionais. Agora, o secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado, volta a sugerir a necessidade de dar uma dimensão internacional aos eventos, afirmando que o programa “Algarve Cultural” é um projecto que parte da “região para o mundo”, destacando que foi feito não apenas com os parceiros organizadores, mas envolvendo também os agentes culturais locais, tanto públicos como privados.