Viana homenagea escritor que levou as bolas-de-berlim do Natário ao Brasil

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Jorge Amado, que dará o nome a uma ala da biblioteca, visitava sempre o "Manelzinho Natário". Presidiu à Comissão de Festas da Agonia adriano miranda

Jorge Amado, cidadão de mérito de Viana desde 1981, vai dar o nome a uma ala da biblioteca e a uma rua da cidade. O escritor nascido há cem anos também será recordado nas Festas da Agonia

Os laços afectivos que ligaram Jorge Amado a Viana do Castelo vão ser perpetuados na biblioteca que Siza Vieira desenhou para a frente ribeirinha da cidade. Por decisão da câmara, o nome do escritor brasileiro vai ser atribuído, no dia 18, a uma das alas do edifício onde será também inaugurada uma exposição comemorativa do centenário do seu nascimento.

A cerimónia contará com a presença do embaixador do Brasil em Portugal. Mário Vilalva será este ano presidente da Comissão de Festas da Agonia, cargo que Jorge Amado também assumiu numa das 11 vezes em que visitou a cidade. Também no Brasil, o centenário do seu nascimento está a ser assinalado esta semana com homenagens na Bienal Internacional do Livro de São Paulo, com um festival de música e uma exposição na Baía.

A relação que o escritor baiano manteve com Viana do Castelo já tinha sido reconhecida em 1981, quando Amado foi distinguido pelo município com o título de cidadão de mérito.

Este ano, as Festas da Senhora da Agonia também se vão associar às comemorações. O cortejo histórico/etnográfico, que terá como tema O Naipe Doceiro das Gulodices Vianenses - conventual, tradicional, da romaria - A Arte da Canelografia [decoração de doces com canela], prestará tributo ao escritor que ajudou a internacionalizar as bolas-de-berlim do "Manelzinho Natário". Todas as semanas, do "santuário de Manelzinho Natário", partiam vários doces locais para a residência de Jorge Amado, no Brasil. Mas especiais, para o escritor, eram mesmo as bolas-de-berlim daquela pastelaria do centro da cidade. Para o autor de Gabriela Cravo e Canela, uma visita a Viana não ficava completa sem uma passagem pela pastelaria do amigo, falecido em 2003. Da convivência com Manuel Natário, Amado acabaria por colher inspiração para uma das personagens do seu romance Tocaia Grande. É a figura destemida de "Capitão Natário", a quem chama "capitão de doces e salgados, comandante do pão-de-ló, mestre do bem-comer". Também Nuno Lima de Carvalho, um dos muitos outros amigos que Jorge Amado fez em Viana, foi imortalizado na mesma obra, na personagem "Frei Nuno".

A descoberta do "santuário" dos doces aconteceu numa das visitas a Viana. E não foram só as bolas-de-berlim que encantaram o escritor. Ficou freguês das empadinhas de lampreia, dos rissóis de camarão, dos bolinhos de bacalhau, dos folhados de carne e de camarão, dos vigaristas, da bola de carne com vitela e do pão-de-ló, que chegou a levar para o Brasil, para que o então Presidente José Sarney o provasse.

O reconhecimento do município pelo papel que Jorge Amado desempenhou na divulgação da gastronomia e doçaria tradicional e dos usos e costumes de Viana será também expresso através da atribuição do nome do escritor a uma artéria da cidade. A proposta partiu da oposição PSD na câmara e mereceu o apoio da maioria socialista. O executivo comprometeu-se a "encontrar um espaço com dignidade", à altura do topónimo.

No Brasil, as homenagens a Jorge Amado têm o ponto alto na sexta-feira. Jorge Amado completaria nesse dia cem anos de vida. O autor ficou conhecido por livros que retrataram a "alma" e a miscigenação da Baía, como Dona Flor e Seus Dois Maridos e Capitães da Areia.

Na Bienal do Livro de São Paulo, que começa amanhã, o centenário será celebrado com leituras de textos seus, conferências sobre as suas histórias que foram adaptadas ao cinema e com uma apresentação sobre a cozinha baiana, que o escritor retratou na sua obra.

Na cidade em que Amado passou a infância, Ilhéus, na Baía, um festival começou no último sábado e prolonga-se até domingo. Entre os cantores e outros músicos que actuam neste Amar Amado destacam-se Caetano Veloso, que cantará na sexta-feira, Moraes Moreira e a Família Caymmi, no sábado.

Ainda para assinalar o centenário do nascimento do autor, o Museu de Arte Moderna da Baía recebe a exposição Jorge Amado e Universal, também a partir de sexta-feira. A exposição fica patente até 14 de Outubro, com fotografias, objectos do autor, folhetos, imagens e filmes, a maior parte deles inédita.

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