Câmara aprovou condomínio na antiga sede da PIDE
Instalações da antiga polícia política de Salazar dão lugar a empreendimento contestado no mandato da coligação PS/PCP
O edifício onde até ao 25 de Abril de 1974 funcionou a PIDE, na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa, vai ser transformado num empreendimento habitacional, projecto que mereceu já o parecer favorável da Câmara Municipal de Lisboa.Trata-se de um investimento do Fundo de Gestão Imobiliária GEF, ao qual está ligado Vasco Pereira Coutinho, que adquiriu aquela propriedade à Fundação Casa de Bragança e a D. Duarte Nuno. O novo empreendimento ocupará a área onde se encontravam vários edifícios, com fachadas para a António Maria Cardoso e também para a Vítor Cordon. Um deles, o mais baixo e com menos interesse arquitectónico, edifício confinante com o Teatro S. Luiz, foi já demolido - com autorização camarária. Os restantes edifícios serão alvo de recuperação.
O projecto de arquitectura é da autoria de José Soalheiro, Teresa Castro e Ana Paula Calheiros, que foram autores de outros empreendimentos de habitação em Lisboa, entre os quais um na Av. António Augusto de Aguiar, nas proximidades do El Corte Inglés.
Versões anteriores, elaborados pelo atelier Esprital, haviam merecido parecer favorável da autarquia, em 1999, bem como do Instituto Português do Património Arquitectónico. O projecto sofreu entretanto alterações, embora mantendo a ideia de haver apenas uma construção nova, no local do edifício demolido, e a recuperação das restantes edificações, que incluem ainda o edifício com fachada para a Vítor Cordon.
Para servir o empreendimento está prevista a construção de cerca de 120 lugares de estacionamento. A data do arranque da construção não está ainda definida. Segundo fonte da GEF, o início das obras e da comercialização só se verificará quando estiverem concluídos e aprovados pela câmara os projectos da especialidade. "Por enquanto, o que está já aprovado é o projecto de arquitectura e achamos que ainda não é oportuno divulgar esta obra até que tudo esteja devidamente aprovado", disse a mesma fonte da GEF.
A renitência da GEF em divulgar o seu projecto poderá também prender-se com o facto de, em 2001, durante a campanha eleitoral, a substituição das instalações da antiga polícia política de Salazar por um condomínio de luxo ter sido alvo de grande polémica. A coligação PS/PCP que então governava Lisboa foi duramente criticada por ter permitido que a sede da PIDE pudesse dar lugar a um normal complexo habitacional. E as opiniões ainda hoje se dividem, entre os que defendem que a cidade tem de renovar-se, razão suficiente para que se trave a degradação instalada na Rua António Maria Cardoso, e os que consideram que as marcas do fascismo e das torturas ali feitas aos presos políticos não devem volatilizar-se.
Por enquanto, numa das entradas do edifício da PIDE permanece ainda uma placa, que ali foi colocada a 25 de Abril de 1980, por um grupo de cidadãos, na qual se dá conta das quatro pessoas que foram mortas pela polícia do antigo regime no dia da revolução. "Aqui na tarde de 25 de Abril de 1974 a PIDE abriu fogo sobre o povo e matou: Fernando C. Gesteira, José J. Barneto, Fernando Barreiro dos Reis e José Guilherme Arruda".