A nova vida do jardim lisboeta da Tapada das Necessidades
Depois de recuperados os caminhos, foi lançado um concurso para transformar um antigo jardim zoológico num restaurante
A Tapada das Necessidades é ainda um tesouro escondido de Lisboa, mas aos poucos este lugar com uma riqueza histórica e ambiental ímpar começa a fazer parte da vida de quem mora na cidade e não só. Em boa parte devido à intervenção da autarquia lisboeta, a quem não faltam planos para dar uma nova vida a este oásis.
Esta semana a câmara lançou um concurso público para a exploração de um restaurante na Tapada das Necessidades, um jardim com dez hectares ao qual se acede através do largo com o mesmo nome ou do recém-aberto portão na Rua do Borja. O estabelecimento, que a autarquia pretende que tenha um "nível de exigência superior", irá funcionar num conjunto de edifícios onde chegou a haver um jardim zoológico.
Aí, em seis torreões rodeados por gradeamentos de ferro, eram albergados animais, como aves raras e macacos, "mandados vir de diversos lugares propositadamente para este local por D. Fernando II, para desenvolvimento dos conhecimentos sobre fauna dos príncipes D. Pedro e D. Luís". A explicação é de uma nota camarária, que sublinha a "enorme importância histórica" de que este conjunto, erguido entre 1848 e 1856, se reveste.
Cinco desses torreões, e um edifício construído mais recentemente no meio deles, vão ser concessionados a um privado, que terá de realizar os trabalhos de reabilitação e reconversão. E uma visita à Tapada das Necessidades é suficiente para perceber a dimensão da empreitada: a degradação do património edificado é evidente e o recinto do antigo zoológico está repleto de ervas daninhas e de entulho.
A câmara, que assumiu a gestão deste jardim há menos de três anos (no âmbito de um protocolo com o Ministério da Agricultura), ficará com o sexto torreão, para instalar "um espaço de exposição permanente dedicado à Tapada das Necessidades e à sua história e/ou para prestação de informações sobre assuntos relacionados com agricultura".
Primeira fase pronta
"A curto prazo", refere o assessor do vereador dos Espaços Verdes, a autarquia vai lançar outros concursos públicos, para a conservação e restauro do edifício da Estufa Circular, do muro da alameda e da Casa do Fresco, bem como do Largo Circular. Enquanto isso não acontece, foi já concretizada a primeira fase da recuperação dos caminhos e da rede de drenagem. E estão também a ser feitos estudos para a recuperação do antigo moinho e dos edifícios encostados à Rua do Borja.João Pinto Soares, do Grupo dos Amigos da Tapada das Necessidades, reconhece que há melhorias visíveis no espaço e diz que ultimamente há "muito mais gente" a calcorrear o jardim. O próprio grupo e a Junta de Freguesia dos Prazeres têm dinamizado uma série de actividades, como visitas guiadas no primeiro domingo do mês, comemorações dos dias da criança e da árvore, piqueniques e aulas de tai chi chuan para crianças.
Ao fim da manhã de quinta-feira, uma família preparava-se para almoçar no espaço e por lá também passeavam um casal de idosos e dois jovens espanhóis. Pinto Soares garante que as visitas guiadas têm estado cheias e que ao fim-de-semana "a miudagem" enche o grande relvado existente. "E há festas e tudo", diz, feliz por ver que há cada vez mais gente a render-se aos encantos da Tapada das Necessidades.