Painel da arte rupestre descoberto em Vilar Maior
O achado, que se assemelha a um tabuleiro de xadrez, é uma gravura típica da arte esquemática, conhecida sobretudo na Beira Alta, no Norte de Portugal e na Galiza
Um painel de arte rupestre do período Calcolítico, semelhante a um tabuleiro de jogo de xadrez, foi encontrado no centro da aldeia de Vilar Maior, no concelho do Sabugal. Trata-se de "um achado invulgar, uma gravura típica da arte esquemática, conhecida sobretudo na Beira Alta, Norte de Portugal e na Galiza", salientou ao PÚBLICO o arqueólogo Marcos Osório. O achado vai agora ser estudado pelo Centro Nacional de Arte Rupestre (Cnart).Foi no decurso dos trabalhos de desmontagem de um muro, perto do museu, que os trabalhadores, ao colocarem a descoberto um afloramento granítico, detectaram uns riscos na rocha. Depressa entraram em contacto com os técnicos da Câmara do Sabugal informando que o achado seria um tabuleiro de jogo, porque compararam com o que existe num outro afloramento granítico em frente da porta do castelo.
"Foi com alguma expectativa que me dirigi à localidade, porque me disseram que ao lado do tabuleiro havia umas letras", contou ao PÚBLICO Marcos Osório, adiantando que, logo que lá chegou viu "um quadrilátero com oito por sete fiadas". Mas, ao cair da noite, e socorrendo-se de um foco, constatou que se tratava de "elementos geométricos tipo escaliformes, motivos em V e muitas covinhas". "Percebi que se tratava de um painel de arte rupestre, tendo então chamado os arqueólogos do Cnart, entre os quais António Martinho Baptista, que, depois de visitarem o local, chegaram à mesma conclusão", referiu Marcos Osório, frisando que se enquadra "num tipo de arte que os estilistas denominam arte esquemática, porque os motivos são geométricos, simbólicos, abstractos, do período da Idade do Bronze". O arqueólogo salienta que esta arte é conhecida sobretudo na Beira Alta, no Norte de Portugal e na Galiza. Agora, os técnicos do Cnart "vão proceder ao estudo do achado, primeiro por decalque, depois será fotografado e posteriormente analisado com vista à sua interpretação e datação".
Marcos Osório evidencia que o achado "é importante, porque em Vilar Maior já tinha sido feita, na década de 50, uma outra grande descoberta - uma espada pistiliforme de bronze -, que está guardada no Museu Regional da Guarda e desenvolvidos trabalhos que permitiram identificar cerâmica, contas de colar e machados de pedra". "Todo este património, conjuntamente com estas gravuras, permitem adivinhar que em Vilar Maior existia uma comunidade, um povoado que pode recuar ao período Calcolítico (Idade do Bronze), isto é, aos finais do III milénio até finais do II milénio a. C.", salienta o arqueólogo.
Na sua opinião, "porque o painel de gravuras se encontra no centro do aglomerado urbano, ao pé do Museu de Vilar Maior, reúne todas as condições para ser mais que valorizado". Será, no entanto, necessário, como sustenta, serem colocadas luzes apropriadas para permitir uma melhor leitura das gravuras e um painel informativo. O arqueólogo está convicto de que não serão precisas quaisquer medidas de protecção a eventuais danos, "porque a população está alertada e será a guardiã do património".
Museu de Vilar MaiorA vontade de ocupar os alunos - quase todos com tendências para a bebida - levou há alguns a professora Delfina Cruz a criar o Museu de Vilar Maior, um projecto de referência que conta com mais de 17 mil peças. Muitas das peças que estão no museu, instalado nos antigos paços do concelho, tribunal e escola, foram entregues pelas crianças. Às pequenas velharias somaram-se outras que foram sendo encontradas e as que o povo foi oferecendo ao longo dos anos. Desenhado sobre a temática da vida quotidiana, apresentando objectos relacionados com actividades agrícolas, artesanais, de mineração, vida doméstica e contrabando, o Museu de Vilar Maior contém, além disso, algumas peças da longínqua história desta aldeia. Visitar o museu e a aldeia é como viajar no tempo e descobrir em cada rua e em cada casa um sinal do passado.