Poluição do ar é o problema ambiental que mais afecta a saúde dos europeus
Cerca de 20 milhões de pessoas na Europa sofrem com problemas respiratórios todos
os dias
O ar que os europeus respiram pode até estar mais limpo, em relação ao passado. Mas não se iludam: a poluição atmosférica é o problema ambiental que mais efeitos negativos provoca na população da Europa. Num relatório sobre saúde ambiental divulgado anteontem, a Agência Europeia do Ambiente diz que, todos os dias, cerca de 20 milhões de europeus sofrem com afecções respiratórias.Entre 1,8 e 6,4 por cento das mortes de crianças europeias entre os 0 e os 4 anos são atribuídas à poluição do ar exterior. Mais 4,6 por cento das mortes devem-se ao ar inquinado que se respira dentro das casas. Na União Europeia, a poluição atmosférica provocou a morte prematura de cerca de 350 mil pessoas em 2000.
Estes números sugerem que, apesar do enorme manancial legislativo sobre a qualidade do ar na União Europeia, os problemas não estão todos resolvidos. O relatório chama a atenção para dois problemas, em especial. Um deles é o das partículas, cujas concentrações na atmosfera vinham a cair até 2000, mas subiram ligeiramente desde então. A Agência Europeia do Ambiente prevê que o limite máximo anual de 40 microgramas de partículas por metro cúbico de ar terá sido ultrapassado em muitas zonas urbanas em 2005.
Outro problema crescente é o do ozono, uma substância essencial na alta estratosfera, para proteger a Terra dos raios ultravioletas, mas que ao nível do solo é prejudicial à saúde. Os limites de longo prazo para a protecção da saúde humana estão a ser ultrapassados na generalidade dos Estados-membros da UE. "Os actuais níveis de ozono têm severas implicações, tais como antecipar a morte de 20.000 pessoas por ano", aponta o relatório.
Asma cresceentre as crianças
No ano passado, até Outubro, Portugal registou um número recorde de 801 horas com níveis elevados de ozono em vários pontos do país, acima do limiar de informação - a partir do qual os grupos mais sensíveis à poluição devem ser avisados para tomarem precauções especiais. O país, aliás, tem seguido na contracorrente da tendência europeia. Entre 1990 e 2000, as emissões dos poluentes que formam o ozono (em dias de muito sol e calor) caíram 32 por cento nos 15 Estados-membros mais antigos da UE, mas subiram 26 por cento em Portugal.
O relatório da agência indica, ainda, que a asma está a crescer em toda a Europa, em especial entre as crianças. "Em média, sete por cento das crianças europeias entre 4 e 10 anos têm problemas de asma, embora haja uma significativa variação entre os 25 Estados-membros", diz o documento. A poluição atmosférica, segundo vários estudos citados pelo relatório, agrava a asma, mas não há nada que indique que inicie a doença numa pessoa que nunca a teve.
O relatório chama a atenção para a circunstância irónica de algumas mazelas ambientais estarem a ser causadas por soluções destinadas a curar outras. Muitos dos problemas de poluição do ar interior resultam de medidas para poupar energia, como selar mais eficazmente janelas e portas, o que reduz a renovação do ar. E a utilização de novos catalisadores para reduzir a poluição dos automóveis está a aumentar a concentração de metais como platina, paládio e ródio no Árctico.
Entre vários problemas ambientais com efeitos na saúde (ver caixa), a Agência Europeia do Ambiente diz que a poluição do ar é o mais grave, em termos de consequências, mas o ruído é o que afecta o maior número de pessoas.