Uma história cultural dos anos de ferro

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Os Crass

Texto originalmente publicado no Ípsilon a 03-02-2012

Os Crass, banda punk, dispararam em todas as direcções para atingir Margaret Thatcher. Poriam o alfinete-de-ama não na Rainha, mas na senhora primeiro-ministro. E fizeram as "Thatchergate Tapes", uma manipulação de discursos de Thatcher e de Ronald Reagan que os implicava na Guerra das Malvinas como pretexto para lançar um conflito na Europa e derrotar os soviéticos.

The Face, a revista fundada em Maio de 1980 por Nick Logan (e de que o influente Neville Brody foi director de arte entre 1981 e 1986), foi durante anos o verdadeiro "quem-é-quem" da música e da moda britânicas, lançando movimentos como os "New Romantics". Apesar das suas simpatias esquerdistas, o entusiasmo editorial da revista pela euforia consumista exibia a sua inteira sintonia com o espírito da governação Thatcher.

Momentos de Glória (Hugh Hudson, 1981) serviu de grelha de leitura para uma Inglaterra vencedora nas Malvinas - Thatcher sugeriu que o mesmo espírito de vitória fosse aplicado a um filme sobre esse conflito.

Filmado para televisão, A Minha Bela Lavandaria, de Stephen Frears - um êxito que fez vencer as aspirações cinematográficas do Channel 4 -, atreveu-se a captar a experiência imigrante (asiática) em Londres. Afrontando a sexualidade, a raça, as classes sociais. O desejo de pertencer a uma sociedade ocidental em conflito com raízes, e tudo isto em pleno conservadorismo thatcheriano.

Ao cruzar a vida de três casais de classes diferentes, Grandes Ambições(Mike Leigh, 1988) expõe o modo como as políticas sociais de Thatcher afectaram o país de modo transversal.

É tida como a primeira canção de um movimento de canções de protesto que grassou na música britânica na década de 80: "Shipbuilding", escrita por Elvis Costellopara uma música de Clive Langer, cantada originalmente por Robert Wyatt em 1982. Foi escrita na perspectiva de trabalhadores da construção naval no crescendo para a Guerra das Malvinas.

Billy Braggfoi o Woody Guthrie da geração britânica anti-Thatcher - "this machine kills conservatives", poderia estar escrito na sua guitarra ("Thatcherites" é uma das suas canções e, na verdade, escreveu numa das suas guitarras "This machine kills time").

Conservadores por opção e resistência, Gilbert & Georgetrataram sempre os símbolos do país (aqui "England", de 1980) em oposição a uma hegemonia artística anti-Thatcher. Apesar de homossexuais, não deixaram que as políticas de repressão de Thatcher retirassem a importância da primeira-ministra como ícone cultural.

A banda de George Michael e Andrew Ridgeley representou, com "Club Tropicana", a verdadeira mobilidade social que caracterizou o discurso de Thatcher. Os Wham!eram rapazes bem-sucedidos, com poder de compra e acesso a uma outra forma de vida.

Nos diários criados pela escritora Sue Townsend, o adolescente Adrian Molefixou a imagem definitiva da classe média britânica dos anos Thatcher. Uma classe média empobrecida e embrutecida, que a mãe de Mole resumiria numa frase lapidar: "We are the nouveaux poor".

A fotografia que Vivienne Westwoodfez para a capa da "Tatler" (1989) ajudou a construir o mito de Thatcher como um ícone da moda. Apesar de recusar a política, Westwood parecia dizer que ninguém representava melhor o espírito rebelde punk do que Margaret.

Damien Hirstlançou em 1988, com a exposição "Freeze", o movimento dos Young British Artists. Então fora do sistema, e forçado, como a sua geração, a expor em espaços não-convencionais, foi a personificação do artista empreendedor, atento aos favores do sensacionalismo, acabando por tornar-se, na primeira década do século XXI, no artista mais vendido do mundo.

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