Grupo Espírito Santo já está em mais de 400 empresas
Interesses da família liderada por Ricardo Salgado abrangem mais de 20 países e em sectores que vão muito para além da área financeira.
O Grupo Espírito Santo (GES) possui já posições em mais de 400 empresas, com extensões a áreas nevrálgicas da economia e ultrapassando largamente o campo financeiro, mas também o país. O grupo emprega mais de 20 mil pessoas e vale mais do que as duas holdings criadas para concentrar parte dos activos financeiros e não financeiros, que valem mais de sete mil milhões de euros: cerca de cinco por cento do PIB português.
Apesar de Ricardo Salgado não ser o líder do GES, presidindo apenas ao BES, ele é a figura de proa, considerado o artífice de uma estratégia sustentada numa rede empresarial, que abrange mais de 20 países. E que tem extensões a centenas de sociedades que nascem de holdings sediadas na Suíça e no Luxemburgo e que, pelo facto de não estarem dentro do perímetro de consolidação, têm facilidade em realizar operações cruzadas. Este foi, aliás, um dos pontos, entre vários, que o Instituto Português de Corporate Governance (IPCG) procurou regulamentar no Código do Bom Governo das Sociedades. A iniciativa foi chumbada o mês passado pelas empresas que integram o PSI20, num movimento aparentemente liderado por Ricardo Salgado.
Entre as prioridades do grupo estão investimentos não só em Portugal, mas ainda Espanha, Brasil e Angola. No centro desta estratégia de expansão está o BES, o que reforça a capacidade de endividamento das empresas do universo do grupo e permite estender os seus interesses a todo o lado, por vezes em aliança com o sector público. É vasto o conjunto de negócios que se cruzam com o Estado, como o turismo, imobiliário, agro-pecuária, saúde, defesa, passando ainda pelas utilities, sectores cuja acção depende de decisões governamentais.
Em declarações ao PÚBLICO, os ex-ministros Luís Mira Amaral e Jacinto Nunes elogiam a estratégia do grupo que tem resultado num crescente poder na economia e sociedade portuguesa. Os dois ex-ministros salientam ainda o facto de a importância do BES ter saído reforçada com a queda de Jardim Gonçalves no BCP e a luta de poder no maior banco privado.
Os problemas com a justiça
À medida que os interesses da família se expandem, maiores são as dores de cabeça. Nos últimos anos as instalações do banco e de empresas do grupo, assim como casas de dirigentes, foram alvo de buscas policiais, com o nome de empresas do GES e o próprio banco a aparecerem associados a investigações em Portugal, Espanha, Brasil e EUA. Em Portugal, além do caso Portucale e das averiguações às contrapartidas com submarinos, o BES (BCP, BPN e Finibanco) surge no centro da Operação Furacão, a maior investigação de sempre à criminalidade económica em Portugal. Em causa estão eventuais crimes fiscais, baseados num esquema de fuga ao fisco, desenhado pelo banco. Américo Amorim é um dos clientes do BES ouvido pelas autoridades, a quem explicou que possui "contactos de muitos anos com o BES e outra empresa do grupo, a Erger", especializada em planeamento fiscal.
Em Espanha, o juiz Garzon ordenou buscas às instalações do BES em Madrid, no quadro de uma investigação que envolvia clientes do banco que eram figuras de topo da sociedade espanhola. Mas o processo foi arquivado. No Brasil, o BES surge mencionado nos inquéritos parlamentares ao caso mensalão. Ricardo Salgado foi ouvido pela justiça como testemunha a pedido das autoridades judiciais brasileiras, mas negou ter sido contactado para financiar o PT de Lula da Silva. Outros nomes que são referidos são os de António Mexia, convocado enquanto ex-ministro das Obras Públicas, e do antigo chairman da PT Miguel Horta e Costa, actual vice-presidente do BESI.Nos EUA a comissão do Senado norte-americano que investiga as contas-fantasma de Augusto Pinochet, divulgou que o ditador chileno tinha uma conta aberta no BES Florida. O PÚBLICO não conseguiu obter uma reacção formal por parte dos responsáveis do Grupo.