De que patriarca precisa agora a Igreja Ortodoxa Russa?

Foi Alexis II quem restaurou
a influência da Igreja Ortodoxa
na Rússia pós-comunista

a Que patriarca é necessário agora? Alexis II, patriarca de Moscovo e de Todas as Rússias, morreu ontem na sua residência privada de Peredelkino, a 40 quilómetros de Moscovo. O Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa Russa está já convocado para hoje, com a tarefa de escolher o patriarca interino e marcar o funeral - que deverá ser terça-feira. Enquanto se pensa nos pormenores da transição, começam a fazer-se cenários sobre quem se seguirá e perfilam-se já pelo menos três nomes de sucessores. Alexandre Verkhovski, analista do centro Sova para questões religiosas, perguntava, citado pela AFP: "Que patriarca é necessário agora?" E dizia, sobre Alexis: "Ele chegou à chefia da Igreja [Ortodoxa Russa] num momento de grandes mudanças e tentou salvaguardá-la nesta época tumultuosa. Foi criticado por se opor a mudanças. Claro que era conservador. Mas isso justificava-se para preservar a Igreja como instituição."
Alexis II restaurou a influência da Igreja Ortodoxa na Rússia pós-comunista - era próximo de Boris Ieltsin e Vladimir Putin. Desde cedo empenhado no diálogo com outras igrejas cristãs (o cisma do Oriente deu-se em 1054, partindo o cristianismo em dois), opôs-se ferozmente ao que considerava o "proselitismo" católico de João Paulo II - para um russo, não era fácil ver um polaco como Papa, comentava-se. Líder da maior Igreja Ortodoxa (140 milhões de crentes), Alexis reivindicava a primazia de honra entre os patriarcas ortodoxos.
Rumores de acidente
Serão estas três das questões que pesarão na escolha do sucessor de Alexis II, que sofria do coração e foi hospitalizado várias vezes. Para evitar especulações, o serviço de imprensa do Patriarcado de Moscovo anunciou que uma comissão iria estabelecer as causas da morte de Alexis, na sequência de rumores de que o patriarca teria morrido de acidente na estrada. Na quinta à noite, Alexis II presidiu a uma liturgia no Kremlin e "estava em forma", segundo participantes citados em www.la-croix.com.
Nascido em Tartu, na Estónia, a 23 de Fevereiro de 1929, Alexeï Mikhailovitch Ridiger descendia de uma família germano-báltica que se tornara ortodoxa no século XVIII. Ordenado padre em 1950, bispo de Talin e Estónia em 1961, ficou encarregue das relações externas do Patriarcado de Moscovo. Foi chanceler dos dois antecessores - Alexis I e Pímen. Em 1990, foi escolhido para o cargo.
No âmbito internacional, Alexis II ocupou vários cargos. Co-presidiu à Conferência das Igrejas Europeias de 1987 a 1992, e dirigiu a importante assembleia ecuménica europeia de Basileia (Suíça), em 1989. Em Maio de 2007, pôs fim à separação dos ortodoxos russos no estrangeiro, que subsistia desde a revolução de 1917. Foram unânimes as reacções das estruturas ecuménicas europeias, do Papa e do Vaticano, bem como de protestantes, judeus e muçulmanos, a destacar a sua abertura ao diálogo.
Na calha para a sucessão, um dos nomes é o metropolita Kirill, de Kalouga e Borovsk, que sucedeu a Alexis no departamento das relações exteriores. É tido como capaz de dialogar com o Vaticano e esteve há um ano reunido com o Papa Bento XVI.
Fala-se ainda do metropolita Klement, de 59 anos, responsável pelos assuntos económicos do Patriarcado. Conservador, nacionalista e próximo do Governo, diz a Reuters, coordena uma comissão responsável pelo património cultural e espiritual russo.
Juvenali, metropolita de Krutitsy e Kolomna, é o terceiro de quem se fala. Mais velho dez anos que Kirill ou Klement, está ligado a movimentos de reforma da Igreja Ortodoxa Russa desde há duas décadas.
Seja quem for o eleito - o Sínodo reunirá, no máximo, daqui a seis meses -, ninguém romperá com a herança e legado de Alexis. Maior ou menor abertura ecuménica, estilo e carisma pessoal, serão diferenças visíveis. Não mudará a tradição e a força da Igreja Ortodoxa na Rússia.

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