Autoridades de Bragança indignadas com capa da revista Times
Pelos piores motivos Bragança foi ontem capa da edição europeia da revista "Time", que lança uma reportagem de oito páginas com o título: "O novo bairro europeu da prostituição". Ontem, a cidade acordou indignada com o "grande exagero, que vem colocar Bragança ao nível de cidades como Amesterdão, Marselha e outras", sintetizou o governador civil de Bragança, José Manuel Ruano.A edição europeia da revista americana deu destaque a uma reportagem repleta de histórias contadas na primeira pessoa pelas alegadas prostitutas, proprietários de casas nocturnas, supostos clientes e também algumas mulheres criar o auto-intitulado movimento das "mães de Bragança". Há cerca de meio ano, quatro mulheres trocadas pelos respectivos maridos por "meninas" brasileiras puseram a circular na cidade um abaixo-assinado, com o intuito de acabar com o consideravam ser "uma invasão de brasileiras" que supostamente se dedicam ao negócio do sexo. A notícia correu na altura o país e agora extrapolou para todo o mundo. "É uma reportagem infeliz" afirma o comandante da PSP, António Magalhães que considera Bragança "uma cidade linda, pacata, onde as pessoas se podem dar ao luxo de passear às três ou quatro da madrugada em segurança", garante."Esta cidade não tem canto nenhum com mulheres a aliciar cavalheiros, não temos ajuntamentos de prostitutas e prostitutos a degladiaram-se por um cliente, como vemos em tantas cidades deste país" reitera. O governador civil confessa que perdeu "a admiração" que tinha pela "Time", considerando que foi construída uma notícia "com base numa falsidade" e garantindo que, actualmente, "apenas duas casas estão conotadas com a prática da prostituição, duas espeluncas, uma na cidade e outra nos arredores".Mas Ruano não ignora o impacto negativo que esta reportagem pode trazer para a cidade, sobretudo durante a realização do Europeu de 2004: "Bragança é uma das rotas de entrada terrestre e, com esta referência, pode motivar a vinda de muitos adeptos, o que nos pode causar problemas. Por isso, vou pedir um reforço policial, só para essa altura", adianta. Também o presidente da câmara, Jorge Nunes, manifesta grande "desagrado" pela reportagem, mas desvaloriza o seu impacto: "Não tem relevância nenhuma, simplesmente porque não corresponde à realidade de Bragança", afirma. O autarca tem lutado por conseguir projectar uma imagem de "modernidade e atractividade da cidade", o que certamente não será conseguido com o retrato que foi feito pela "Time". As "mães de Bragança", que despoletaram toda esta situação, querem agora manter-se afastadas da imprensa. Uma das quatro mulheres, mentoras daquele movimento, confessou ao PÚBLICO, que nunca imaginou "que o caso chegasse tão longe". Depois do assunto ter chegado à comunicação social, uma das mulheres conseguiu reconciliar-se com o marido, enquanto as outras três continuam à espera do divórcio. Uma das denunciantes foi mesmo agredida fisicamente pelo marido e agora quer manter-se afastada de confusões, chegando a tremer só de ouvir falar no assunto. O proprietário de um dos bares da cidade conotados com a prática de alterne recusou falar ao PÚBLICO, alegando que tudo isto é "uma grande palhaçada". Fotocópias da "TIME" correm pela cidadeNem todos os quiosques da cidade de Bragança recebem a revista Time e aqueles que a recebem ficam normalmente com duas ou três revistas, "porque é muito pouco procurada", confirma Rui Santos, proprietário de uma tabacaria no centro da cidade de Bragança. Mas a edição desta terça-feira interessava aos brigantinos, pois "Bragança foi capa de revista, embora pelos piores motivos" diz. Ainda não eram nove horas da amanhã e os clientes já se concentravam à frente da tabacaria, na expectativa de conseguir uma revista. "Como eu só tinha duas resolvi tirar fotocópias da reportagem para servir os clientes", explica. Tirou algumas dezenas de fotocópias, que serviram para satisfazer a curiosidade dos clientes mais assíduos. "Hoje se tivesse 20 ou 30 revistas já as tinha vendido", contava ainda a meio da manhã. A notícia foi veiculada através das rádios e começou a despertar a curiosidade dos brigantinos. O assunto dominou as conversas ao longo de todo o dia, e se uns estavam indignados com a situação outros levavam o assunto com humor: "Eu penso que, plagiando de alguma forma a canção das Meninas da Ribeira do Sado, devíamos criar uma bela melodia sobre as meninas de Bragança", comentava com alguma ironia Júlio de Carvalho, advogado e ex-governador civil de Bragança. "Isto de novo nada tem, prostituição sempre houve e há-de haver, mas Bragança nesta matéria ainda é uma cidade limpa". acrescenta. Ilda Faiões, trabalhadora de uma empresa de limpeza, mostrava-se um pouco "triste" por passar "uma imagem tão suja de Bragança para o estrangeiro". Esta mulher diz que nunca viu "descaradamente nas ruas de Bragança qualquer prostituição". Mas nem todos pensam assim: o segurança privado de uma instituição pública diz que a prostituição "está à vista de todos, só não vê quem não quer". "Há muitas mulheres estranhas à cidade por aí a circular", acrescenta. Mulheres que frequentam os locais públicos da cidade, cafés, restaurantes, lojas de roupa, sapatarias, cabeleireiros, ginásios, enfim, que durante o dia circulam com normalidade e acabam por dar vida ao comércio local.A FRASE: "Eu penso que, plagiando de alguma forma a canção das Meninas da Ribeira do Sado, devíamos criar uma bela melodia sobre as meninas de Bragança"Júlio de Carvalhoadvogado e ex-governador civil de Bragança.