Coronavírus: No primeiro dia do desconfinamento, 34 concelhos ficaram mais por casa
Quase todos os concelhos registaram mais circulação na rua na primeira segunda-feira pós-estado de emergência. Santa Cruz das Flores, Câmara de Lobos e Ovar foram os concelhos onde o desconfinamento foi mais significativo. Mas 34 municípios contrariaram a tendência nacional.
A 4 de Maio, o primeiro dia do plano de desconfinamento do Governo, quase todos os concelhos portugueses registaram um aumento do movimento na rua.
Os dados, fornecidos ao PÚBLICO pela NOS, mostram que, na grande maioria dos concelhos, o movimento de pessoas no dia 4 de Maio aumentou relativamente ao registado nas seis segundas-feiras do estado de emergência, iniciado a 18 de Março. Ainda assim, em 34 concelhos a população circulou menos na primeira segunda-feira do desconfinamento do que durante o estado de emergência.
Dos 301 concelhos em que a empresa de telecomunicações registou volumes estatisticamente significativos de pessoas “relativamente estacionárias”, 267 registaram uma variação negativa face ao valor médio verificado durante o estado de emergência. Ou seja, na primeira segunda-feira em que algumas das medidas restritivas contra a covid-19 foram levantadas, na maioria dos concelhos houve mais pessoas a circular.
Para chegar a estes valores, a NOS recorre ao número de pedidos que um telemóvel faz às antenas mais próximas para ter rede. A empresa considera um indivíduo como “relativamente estacionário” se, num dia, um telemóvel não se ligar a mais de três antenas diferentes. Com recurso a uma amostra bastante grande (4,8 milhões de pessoas), e que a operadora extrapola para o concelho com base na sua quota de mercado, é possível calcular a quantidade de pessoas que se confina a uma zona relativamente pequena de território durante um dia. Esta metodologia com extrapolação, apesar de estatisticamente válida a nível local, não permite obter uma média nacional rigorosa, explica a NOS ao PÚBLICO.
O concelho em que se verificou maior desconfinamento foi o de Santa Cruz das Flores, nos Açores (passou de 54% de pessoas “relativamente estacionárias” para só 27% no dia 4 de Maio), seguido de Câmara de Lobos, na Madeira, e Ovar – um dos concelhos mais afectados por esta pandemia e que esteve 30 dias sob cerca sanitária. Ovar passou de 54% de indivíduos “relativamente estacionários” para 45% no primeiro dia útil em estado de calamidade – um decréscimo de 17%.
Por outro lado, em apenas 34 concelhos as pessoas circularam menos a 4 de Maio. A grande maioria destes concelhos encontra-se no Baixo Alentejo e nos Açores.
Os concelhos que mais contrariaram a tendência nacional foram o Corvo (que passou de 36% durante o estado de emergência para 50% no dia 4 de Maio, um crescimento de 41%), São Roque do Pico (mais 20%), ambos nos Açores, e Alcoutim (mais 8%), no distrito de Faro.
Por regiões, os números mostram que foi na Área Metropolitana do Porto que se verificou um maior aumento na circulação de pessoas no dia 4 de Maio. Nesta região, em vários concelhos o aumento de deslocações foi mesmo superior a 10%.
Olhando para todo o Norte, desde o Minho a Trás-os-Montes, apenas um dos concelhos registou uma descida nos movimentos: em Armamar, no distrito de Viseu, a circulação de pessoas diminui 3%.
Arquipélago dos Açores entre pólos opostos
Os Açores têm, simultaneamente, o concelho onde houve uma maior variação positiva e uma maior variação negativa na circulação de pessoas. Em Santa Cruz das Flores, o aumento foi de 49%; do lado oposto, nos concelhos do Corvo e de São Roque do Pico a mobilidade caiu 41% e 20%, respectivamente.
A Área Metropolitana de Lisboa apresenta aumentos ligeiramente inferiores ao Porto, mas os resultados são semelhantes: a grande maioria dos concelhos registou um aumento de movimentos superior a 10% e apenas um concelho – o Barreiro – viu a sua população confinar-se mais no dia 4 de Maio do que durante o estado de emergência (mais 2%).
Na Madeira, o concelho de Câmara de Lobos, onde foi montada uma cerca sanitária entre 18 de Abril e 3 de Maio, foi o concelho do país onde foi registado o segundo maior aumento de circulação: 21%.
Um Alentejo que pouco mudou
Se uma grande parte do país saiu mais à rua no arranque da primeira semana em estado de calamidade, no Alentejo o ritmo de regresso à normalidade não foi tão visível, revelam os dados da NOS.
Em apenas um concelho de toda a região houve um aumento significativo na circulação de pessoas: Portalegre registou um aumento de 15% no movimento da população face ao período do estado de emergência; em mais nenhum concelho foi superior a 8%. Em Rio Maior a mobilidade subiu 8% e em Santarém, Vendas Novas, Sines e Reguengos de Monsaraz cresceu 7%.
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