Coronavírus
Trabalhadores sexuais em crise: “Tocámos no fundo, estamos sem nada”
Cansel, trabalhadora sexual turca de 45 anos, conta à EPA que, com o encerramento dos bordéis, a profissão vive dias de crise profunda, agravada no seu caso por ser uma mulher trans. “Existe muita transfobia [na Turquia]”, lamenta.
"O cliente usa uma máscara e pede-me para usar uma também e isso está bem. Mas o corpo dele toca no meu." Cansel, trabalhadora do sexo, conta à EPA, a partir do seu apartamento em Istambul, na Turquia, que a vida dos profissionais do sexo nunca foi tão difícil. "Tocámos no fundo, estamos sem nada", declara, com a voz embargada. A pandemia parece ter erguido um muro entre trabalhadores sexuais e clientes. Com a imposição de confinamento e recolher obrigatório, os bordéis da Turquia encerraram as suas portas, deixando milhares de trabalhadores do sexo sem local onde desenvolver a sua actividade.
A prostituição é, na Turquia, uma actividade legal e regulamentada. Mas dos 150 mil trabalhadores e trabalhadoras do sexo que operam no país, apenas 2600 o fazem legalmente – o que inviabiliza a atribuição, por parte do Estado, de apoios sociais. Assim, muitos atravessam momentos de crise financeira profunda de mãos atadas — tal como profissionais do sexo em Portugal.
Cansel nunca quis ser trabalhadora do sexo. Com a pandemia, tem tentado migrar os seus serviços para a esfera virtual, recorrendo à videochamada com tanta frequência quanto possível. Só assim consegue trabalhar em segurança. “O trabalho sexual é o mais duro do mundo”, explica à EPA. “Em todas as dimensões, física e psicológica.” Para Cansel, é mais difícil ainda do que para outras colegas de profissão por ser transgénero. “Existe muita transfobia [na Turquia]”, lamenta.
Os números não a deixam mentir. De acordo com o relatório da The Trans Murder Monitoring (TMM), nos últimos dez anos 60 transexuais perderam a vida em resultado de crimes de ódio na Turquia – o número mais elevado entre países europeus.