Coronavírus

Volta, um diário gráfico sobre a quarentena — que a documenta tal como ela é

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Em criança, André Leitão lembra-se de acordar e "tropeçar em tintas e pincéis" que o pai deixava espalhados pela casa. Sempre gostou de desenhar — o gosto foi-lhe transmitido —, mas acabou por enveredar numa licenciatura em Ciências do Desporto e, depois, num mestrado em Ensino de Educação Física. O bichinho da arte, contudo, ficou lá. E, em 2017, criou o Céu de Baunilha — um projecto onde alia o desenho, a escrita e a música para retratar locais para onde viaja. Na lista de trabalhos já constam viagens a Paris, Quioto, Tóquio, Marrocos ou, a mais recente, "a viagem desafiante que todos estamos a fazer em simultâneo" — aquela que acontece dentro das nossas casas desde que foi decretado o estado de emergência nacional devido ao surto de covid-19

"No primeiro dia de isolamento decidi começar a retratar tudo o que se está a passar no mundo, exactamente como se de uma viagem se tratasse", explica. E fá-lo de uma forma objectiva, quase de reportagem, num diário gráfico que partilha no Instagram e que é agora publicado no P3 — e continuará em actualização até ao final do período de quarentena. O nome: Volta. "Porque todos queremos voltar a ir para a rua, ao cinema ou jantar fora com os entes queridos. Todos queremos essa banalidade quotidiana, à qual nem sempre dávamos o devido apreço", justifica. 

As ilustrações do artista de 31 anos natural do Porto querem "mostrar o bom e o mau deste processo que ninguém sabe como vai acabar". Tudo fica registado: desde as conferências de imprensa de Graça Freitas, directora-geral de saúde, e Marta Temido, Ministra da Saúde, aos concertos de música feitos através de redes sociais, passando pelas suas próprias experiências — no diário, retrata, por exemplo, o primeiro dia em que saiu de casa desde o início do período de isolamento.

E porque, como outros ilustradores que mostraram o seu trabalho no P3, André sabe que uma quarentena ilustrada é uma quarentena bem passada, vai continuar a desenhar — até porque quer deixar "um documento que relate o isolamento social neste contexto marcante da humanidade".