“És gorda e nojenta.” Haley responde aos cyberbullies: “a Internet não vos vai proteger”

"Em vez de perder algum peso para que algumas pessoas não se sintam enojadas com o seu rabo de baleia, ela tenta mudar milhões de anos de evolução masculina. As pessoas normais nunca vão querer foder contigo, independentemente de quanto te possas queixar." ©Haley Morris-Cafiero
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"Em vez de perder algum peso para que algumas pessoas não se sintam enojadas com o seu rabo de baleia, ela tenta mudar milhões de anos de evolução masculina. As pessoas normais nunca vão querer foder contigo, independentemente de quanto te possas queixar." ©Haley Morris-Cafiero

Como é percepcionada a obesidade em espaço público? Haley Morris-Cafiero, que sofre de obesidade, conseguiu fixar, fotograficamente, as reacções de desprezo e de escárnio de pessoas com quem se cruzou na rua, que respondiam, meramente, à sua presença ou aparência física. Quando, em 2015, a fotógrafa norte-americana lançou o fotolivro Wait Watchers, nunca imaginou que as imagens que o compõem seriam publicadas em meios de comunicação de mais de 50 países. A que se deveu este fenómeno de viralidade?

As imagens fizeram levantar uma onda de indignação online: algumas pessoas sentiam-se chocadas pela forma como os retratados olhavam para Haley; outras achavam que a fotógrafa apenas buscava atenção; outras, ainda, aproveitaram o momento para enviar mensagens de ódio. E foi a partir destas que nasceu The Bully Pulpit, o fotolivro editado em Maio de 2019, em Londres. O bullying de que foi alvo a partir das redes, perpetrado por pessoas que se escondiam por detrás de um ecrã, levaram Haley a reagir fotograficamente — desta vez, com a lente apontada ao cyberbullying e não à obesidade.

Através de pesquisa online, Haley chegou até aos perfis públicos de 25 dos seus bullies. “Eram homens e mulheres, de idades compreendidas entre os 13 e os 70 anos”, explicou ao P3, em entrevista por e-mail. A fotógrafa obteve informação acerca do seu aspecto físico, das preferências e mesmo de alguns permenores biográficos relevantes. “A maioria era politicamente conservadora”, notou. “Se eram norte-americanos, tinham nos perfis, muitas vezes, conteúdos pró-Trump. Se eram britânicos, tinham conteúdos pró-Boris Johnson, e assim sucessivamente.” E eram, não raramente, louvadas por outros utilizadores quando deixavam esse tipo de mensagens de ódio — um tipo de apoio que é relevante no contexto do cyberbullying. Com base nas informações que recolheu, Haley encarnou cada um desses bullies e fez auto-retratos que incluíam a mensagem que lhe foi dirigida, baseando-se nos retratos públicos de cada um dos seus bullies para criar as imagens. Procura (e, quando não encontra, produz com as próprias mãos) os mesmos acessórios de moda, os locais que melhor se adequam ao perfil em questão — o ginásio, a praia, uma bomba de gasolina. Manda imprimir as mensagens de forma a poder incluí-las na imagem — et voilá.

Haley não tem um, mas sim dois objectivos ao publicar The Bully Pulpit: “Quero mostrar às vítimas de bullying que os bullies não são tão poderosos quanto pensam e que existe uma forma de lhes respondermos que é indolor; e quero, também, mostrar aos bullies que a Internet não os vai proteger, não podem continuar a usá-la como arma sem esperar uma resposta.” A norte-americana, que garante ter recebido sobretudo mensagens de apoio vindas de Portugal após a publicação do projecto anterior no P3, em Dezembro de 2015, acredita que alguns dos bullies encaram as suas mensagens de ódio como conselhos. “Alguns pensam que me estão apenas a dar conselhos sobre como devo apresentar-me ou ser melhor pessoa”, refere. “Mas acho que o resultado é tão negativo como o de alguém que tenta, intencionalmente, magoar-me, uma vez que é apenas uma manifestação de narcisismo. Eles acreditam que os seus comentários são necessários para que eu me possa tornar perfeita.”

"És gorda e nojenta. Os teus braços dão-me vontade de vomitar."
"És gorda e nojenta. Os teus braços dão-me vontade de vomitar." ©Haley Morris-Cafiero
"O mundo marinho ligou e quer-te de volta, Shamu."
"O mundo marinho ligou e quer-te de volta, Shamu." ©Haley Morris-Cafiero
"O que há de errado com o body shaming?"
"O que há de errado com o body shaming?" ©Haley Morris-Cafiero
"O maior problema é ela ser nojenta."
"O maior problema é ela ser nojenta." ©Haley Morris-Cafiero
"Não sejas gorda e doente e as pessoas não farão troça de ti por seres gorda e doente."
"Não sejas gorda e doente e as pessoas não farão troça de ti por seres gorda e doente." ©Haley Morris-Cafiero
"O teu 'trabalho' deixa-te exposta às críticas."
"O teu 'trabalho' deixa-te exposta às críticas." ©Haley Morris-Cafiero
"Parece que saíste do ShortBus uma paragem antes do tempo."
"Parece que saíste do ShortBus uma paragem antes do tempo." ©Haley Morris-Cafiero
"Porque é que não começas a dizer não à comida e a experimentar fazer algum exercício?"
"Porque é que não começas a dizer não à comida e a experimentar fazer algum exercício?" ©Haley Morris-Cafiero
"Em vez de perder algum peso para que algumas pessoas não se sintam enojadas com o seu rabo de baleia, ela tenta mudar milhões de anos de evolução masculina. As pessoas normais nunca vão querer foder contigo, independentemente de quanto te possas queixar."
"Em vez de perder algum peso para que algumas pessoas não se sintam enojadas com o seu rabo de baleia, ela tenta mudar milhões de anos de evolução masculina. As pessoas normais nunca vão querer foder contigo, independentemente de quanto te possas queixar." ©Haley Morris-Cafiero
"Pára de ter um aspecto desleixado. Ninguém quer saber que sejas uma gorda desleixada, apenas que sejas desleixada."
"Pára de ter um aspecto desleixado. Ninguém quer saber que sejas uma gorda desleixada, apenas que sejas desleixada." ©Haley Morris-Cafiero
©Haley Morris-Cafiero
"Não entendo como é que algumas mulheres se permitem engordar desta maneira quando sabem que vão ser tratadas como merda."
"Não entendo como é que algumas mulheres se permitem engordar desta maneira quando sabem que vão ser tratadas como merda." ©Haley Morris-Cafiero