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Os recortes da participação de Portugal na I Guerra Mundial
2018 é o ano que marca o centenário do fim da Primeira Guerra Mundial. Para assinalar a data, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) organizou um congresso internacional intitulado "Portugal na (e no Tempo da) Grande Guerra", que acontece nos dias 19 e 20 de Abril, com a participação de investigadores das áreas de estudos culturais, artísticos, religiosos, militares, das ciências da comunicação e história. "Que marcas culturais e sociais deixou a Grande Guerra em Portugal? Como foi vista e vivida a Grande Guerra (na Europa, mas também nas então colónias portuguesas africanas) em Portugal? Que recepção fez o mundo da cultura, das artes e da imprensa ao tema da guerra e qual a percepção da Grande Guerra nas localidades do interior do país?" Estas são perguntas para as quais se esperam as respostas dos investigadores no congresso.
Antes do início da Primeira Guerra Mundial, que estalou a 28 de Julho de 1914, Portugal já vivia em ambiente de tensão com a Alemanha. Angola e Moçambique, então território colonial português, viviam em confrontos com os vizinhos Sudoeste Africano Alemão e a África Oriental Alemã (respectivamente), então colónias alemãs em África; não fortes o suficiente, contudo, para haver declaração de guerra entre os dois países ou envolver forças militares oficiais dos poderes centrais. O sentimento anti-alemão, no entanto, já estava instalado no seio da República Portuguesa. Portugal nunca declarou uma posição de neutralidade na Primeira Grande Guerra Mundial, a pedido do seu maior aliado, a Inglaterra. Era importante manter as possibilidades em aberto, para o caso de se tornar necessária a intervenção de mais forças aliadas no combate aos exércitos dos impérios Alemão e Austro-Húngaro. Quando esse momento, por fim, chegou, no início de 1916, Portugal recebeu ordem da Inglaterra para expulsar todas as embarcações alemãs e austro-húngaras de todos os portos portugueses — o que precipitou, da parte do Império Alemão, uma declaração oficial de guerra contra Portugal — estávamos a 9 de Março de 1916.
A 24 de Maio de 1916, o general Norton de Matos deu ordem para a preparação de 20 mil soldados. Estes passaram vários meses em preparação e chegaram à frente de combate, em La Lys, França, já no ano de 1917, especificamente no dia 23 de Fevereiro. O grupo de soldados integrou pelotões ingleses e recebeu formação sobre a operação de armas e artilharia pesada do exército aliado. Quando engrossou o número de portugueses em território francês, foi criado um pelotão português que passou a defender uma frente com 11 quilómetros de extensão. Eram poucos homens para uma extensão tão ampla; um pelotão composto unicamente por soldados norte-americanos, por exemplo, defendia também 11 quilómetros de frente, mas era composto pelo triplo dos membros.
Entretanto, em Dezembro de 1917, em território português, Sidónio Pais instaura um regime autoritário no país, que é abertamente contra a participação portuguesa na Grande Guerra. As forças portuguesas são, a partir desse momento, praticamente esquecidas na frente de combate. A famosa batalha de La Lys não tardou — decorreu entre 7 e 29 de Abril de 1918. Dela resultaram 1300 mortos, 4000 feridos e mais de 7000 prisioneiros de guerra portugueses. Aníbal Augusto Milhais — o Soldado Milhões, cujo filme homónimo se estreia por estes dias nas salas portuguesas — terá matado, em apenas quatro dias, centenas de soldados alemães, motivo pelo qual lhe foi atribuída, pelo Governo português, a mais alta condecoração militar à época, a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.
Depois da tragédia vivida em La Lys, as tropas portuguesas passaram a executar exclusivamente tarefas auxiliares. No final da guerra, que terminou a 11 de Novembro de 1918, Portugal "ganhou" algum território em Moçambique. Ficou também decretado que Portugal receberia, por parte do Império Alemão, compensações por crimes de guerra — que, até à data, não foram pagas.