Soares da Costa ganha construção de hotel da Douro Azul no valor de 14 milhões

Projecto do Monumental Palace Hotel, no Porto, pode reduzir universo de trabalhadores a despedir, no âmbito da reestruturação em curso.

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Antiga Pensão Monumental dá lugar a Hotel de luxo, na baixa do Porto. Diogo Baptista

A assinatura do contrato de construção do hotel de luxo, na Avenida dos Aliados, no edifício da antiga Pensão Monumental, está dependente apenas da apresentação de garantias bancárias pela empresa, confirmou ao PÚBLICO Mário Ferreira, presidente da empresa turística Douro Azul.

A empreitada, a construir em 18 meses, poderá permitir à construtora dar trabalho a uma parte dos 270 trabalhadores que estão em casa, a receber os salários há quase dois anos, por falta de obras na carteira. Uma situação idêntica à da Somague, que esta segunda-feira anunciou um despedimento colectivo de 273 colaboradores, que também se encontravam a receber salários, sem trabalhar, há quase um ano.

Contactada pelo PÚBLICO, a administração da construtora não esclareceu, em tempo útil, que impacto tem esta obra no despedimento colectivo assumido em Maio, em reunião com o Sindicato dos Trabalhadores da Construção. Nessa reunião, a empresa referiu que o número de trabalhadores a despedir seria fixado no momento da sua realização, em face do valor das obras em carteira.

Uma fonte próxima da construtora, que pediu para não ser identificada, admitiu ao PÚBLICO que a nova empreitada poderá limitar o universo de trabalhadores a despedir, mas apenas isso, até porque, ao nível da formação, nem todos os trabalhadores envolvidos apresentam perfil adequado para a nova obra. Lembra ainda que há um universo de mais de 600 trabalhadores directamente afectos à actividade da construção em Portugal e empresa tem poucas obras em curso.

Mais confiança revela o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção, Albano Robeiro, que em declarações ao PÚBLICO diz ter informação de que o processo de despedimento está suspenso, adiantando inclusive que os trabalhadores em Portugal já têm os salários (que estavam em atraso) regularizados.

Sob a presidência executiva de Joaquim Fitas, a construtora iniciou um plano de restruturação, que incluiu a mudança dos escritórios, já concretizada em Lisboa e no Porto, para instalações mais baratas, e inclui a realização do despedimento colectivo.

Segundo apurou o PÚBLICO, o custo do processo de reestruturação ascenderia a 80 milhões de euros, verba que a empresa estava a negociar, mas que se admitia que fosse assegurado por capitais angolanos.

A Soares da Costa é actualmente controlada em 66,7% pelo empresário angolano António Mosquito. Os restantes 33,3% ficaram nas mãos da SDC Investimentos, cotada em bolsa e controlada maioritariamente pelo empresário Manuel Fino.

A construtora, que chegou a ser a maior nível nacional, com mais de 7500 trabalhadores, tem hoje a sua sede operacional em Angola, mercado que assume grande relevância nas suas contas, mas que está em retracção por causa da queda do preço do petróleo.

Quatro candidatos na corrida
O presidente da Douro Azul, líder dos cruzeiros turísticos no Rio Douro, explica que o concurso para a construção do hotel foi disputado por quatro empresas e que na escolha da Soares da Costa pesou o preço, que era o mais baixo, mas também a capacidade técnica da construtora, que chegou a ser a maior do país.

Mário Ferreira admite que a visita a um hotel do grupo Pestana, em Lisboa, recuperado pela empresa nortenha, ajudou à decisão. O dono da Douro Azul também não esconde a satisfação de estar a contribuir para a recuperação de uma empresa com a dimensão e a história da Soares da Costa.

O projecto de reabilitação do emblemático edifício da Avenida dos Aliados vai acolher um hotel de luxo, com 78 quartos, incluindo várias suites, um restaurante, piscina, entre outros equipamentos, e 20 apartamentos T1, destinados a residências prolongadas, com o apoio do hotel. O projecto abrange a recuperação do histórico Café Monumental, uma referência ibérica nos anos 20.

Mário Ferreira garante que o projecto já foi aprovado pelo Turismo de Portugal, o que permite a candidatura a verbas dos Portugal 2020. Ainda de acordo com o presidente da Douro Azul, “o financiamento da obra está a ser disputado pelo Novo Banco e pela Caixa Geral de Depósitos”.

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