Produtores de leite unidos num “cadeado de tractores” contra a crise no sector

Comissão Europeia admite redução temporária da produção leiteira. Agricultores estão em protesto em Matosinhos no dia em que o ministro Capoulas Santos está em Bruxelas.

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A manifestação dos produtores de leite Fotos Nelson Garrido
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Marcha lenta com tractores Nelson Garrido
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A concentração acontece dias depois de um protesto de suinicultores Nelson Garrido
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Os produtores de leite reclamam a reposição das quotas na UE Nelson Garrido
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Os produtores querem mecanismo que regulem a oferta de leite a nível europeu Nelson Garrido
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Os tractores chegavam da Trofa, de Barcelos, da Maia, de Vila do Conde, da Póvoa de Varzim. Em Bruxelas, o dia é de reunião dos ministros da Agricultura e, à hora em que o ministro Luís Capoulas Santos está sentado à mesa do Conselho Europeu, os produtores de leite mobilizavam-se em protesto contra a crise no sector em Portugal.

Depois da manifestação dos suinicultores na sexta-feira, os produtores de leite estão nesta segunda-feira concentrados em Matosinhos, em frente à Direcção-Regional de Agricultura e Pescas do Norte. Daqui, partiram em marcha lenta até duas grandes superfícies comerciais da zona – passaram em frente a um Pingo Doce e terminaram a concentração junto a um Continente.

Uns foram a pé, outros de tractor. Pelo caminho, fizeram do protesto uma metáfora da crise no sector, “fechando com um cadeado humano e de tractores o trajecto entre o Pingo Doce e o Continente”, como antecipava ao PÚBLICO João Diniz, membro da direcção da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), uma das quatro organizações que convocou o protesto, aberto também a produtores de carne, que já se manifestaram em Lisboa na sexta-feira.

Os agricultores querem uma solução que responda à quebra dos preços no sector do leite, que vem do aumento da oferta na Europa numa altura em que, dizem as quatro organizações, o sector vive uma situação dramática com o fim das quotas na União Europeia e o embargo russo aos produtos comunitários. Isto ao mesmo tempo em que mercados como a China e países produtores de petróleo diminuíram as encomendas de leite.

Manifestações em Bruxelas

Em Bruxelas, onde decorria a reunião dos ministros da Agricultura, o comissário europeu responsável por esta pasta, Phil Hogan, mostrou-se disponível a avançar com uma redução temporária da produção, uma medida que é reclamada pela França. A proposta: duplicar o tecto da ajuda à armazenagem de leite em pó magro (para 218 mil toneladas) e da manteiga (para 100 mil toneladas).

Do lado de fora, nos pontos nevrálgicos do quarteirão do Conselho Europeu e da Comissão, os tractores também saíram às ruas. Os agricultores trouxeram vacas e porcos. E houve quem despejasse leite sobre o vidro do edifício do partido liberal Movimento Reformador (francófono).

Em Portugal, João Diniz, da CNA, diz ser evidente que “os produtores, estando numa posição de ruína e de desespero, se receberem alguma coisa para deixarem de produzir, aceitam”. Mas sublinha que do ponto de vista estratégico esse não deve ser o caminho.  Antes de entrar para a reunião dos ministros da Agricultura, Capoulas Santos disse ver nos protestos “uma manifestação de apoio às posições” que leva a Bruxelas, mas o porta-voz da CNA contrapõe que o governante não fez saber “exactamente as propostas que vai defender e pelas quais vai lutar”. Ainda na semana passada, o gabinete de Capoulas Santos prometeu levar a Bruxelas medidas “que respondam de imediato à crise conjuntural e medidas de médio/longo prazo para garantir a sustentabilidade de mercado”.

Para o porta-voz da CNA, o ministro deve defender a “reposição de um sistema público de controlo da produção e do mercado – as antigas quotas leiteiras faziam isso e eram um instrumento público que garantia o direito a produzir a cada país”. A concentração de hoje, ressalvou, “não é uma manifestação contra o ministro”, mas a favor "também não é”.

O responsável aponta o dedo à ex-ministra da Agricultura Assunção Cristas, recém-eleita presidente do CDS-PP, que diz ter responsabilidades na crise do sector, mas vinca que agora cabe a Capoulas Santos “defender o interesse nacional estratégico”, propondo quotas leiteiras e medidas para “dificultar as importações de leite e carne”.

“Esta crise que arrasa a pecuária leite e pecuária carne já vem do anterior Governo. Quero lembrar que, em Setembro, a ex-ministra Cristas deixou de fora dos acordos da União Europeia a carne suína. À ex-ministra Assunção Cristas cabe a responsabilidade principal pela crise aguda que arrasa a pecuária leite e a pecuária carne, mas o actual ministro tem que defender outras posições”, sustenta João Diniz.

Distribuição demarca-se

A concentração juntou a CNA, a Associação Portuguesa de Produtores de Leite e Carne (APPLC), a Associação dos Produtores de Leite de Portugal (APROLEP) e a Federação Nacional das Uniões Cooperativas Leite e Lacticínios (FENALAC).

Para a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), que veio tomar posição sobre a situação dos produtores de leite e carne de porco, as dificuldades “só podem ser resolvidas com a intervenção das autoridades nacionais e europeias”. A associação diz que a crise no sector “tem origem em questões relacionadas com o funcionamento do mercado nacional e europeu” e diz-se disponível “para dialogar com os produtores e apoiar a produção nacional”.

O sector da distribuição, defende-se a APED, “não é o único player relevante a formação dos preços, que aliás tem em conta vários vectores, desde a relação entre a oferta e a procura, à conjuntura europeia desfavorável que se tem acentuado ao longo dos últimos anos, o fortíssimo impacto do embargo russo na produção nacional – para o qual a APED desde há muito tem vindo a chamar a atenção – e o fim das quotas leiteiras”.

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