“O ‘fabricado em Portugal’ é muito apreciado lá fora”
Filipe Amaro, administrador do grupo Lanidor, defende a diferenciação de peças e não quer concorrer pelo preço com os gigantes do sector.
Encomendam produção de roupa fora de Portugal por uma questão de preço?
Por uma questão de preço e de capacidade. Em Portugal há capacidade para produzir em áreas como as malhas ou confecção, mas na área dos tecidos e tecidos leves é difícil encontrar esse tipo de produto. Focámo-nos muito nas malhas e hoje estamos a expandir essa produção interna e 80% das malhas são feitas, produzidas e vendidas por nós. Isso é muito apreciado lá fora. O “fabricado em Portugal” é muito apreciado e não é por acaso que os grandes grupos têm cá produções. Se o grupo Inditex saísse do Norte era pior do que a crise do Vale do Ave. Também é a razão para que não haja grupos portugueses a fabricar para outras marcas.
Quem precisa de produzir não tem quem o faça em Portugal?
As nossas quantidades não são as mesmas de quem tem cinco ou seis mil lojas no mundo. Temos é de desenvolver produtos diferentes, com uma qualidade diferente. Ninguém nos vem dizer que não compra por causa da qualidade – não quer dizer que não haja reclamações, há e estamos cá para as atender. O desafio é recuperar a marca. Quando há diferenciação, o preço não é a chave. Quando fazemos coisas diferentes, as peças esgotam.
Os clientes pagam mais por peças diferentes.
Sim, não é pelo preço. Quer queiramos, quer não – e sou o primeiro a elogiar todo o grupo Inditex – a verdade é que é um mass market. Encontrar duas mulheres vestidas de igual é normal. Temos a noção de que, ao fazermos 100 peças, a probabilidade de isso acontecer é muito menor. Na área da criança tem corrido mesmo bem porque nos diferenciámos muito bem. Não é o mais barato, mas não somos iguais a uma Zara.
No período de maior crise não se sentiram tentados a sacrificar a qualidade dos tecidos para ter um preço mais baixo?
Diria que tivemos essa tentação. Diria que todas as marcas tiveram e é o que assistimos agora. É tudo mais sintético. Uma ou outra peça tivemos de nos adaptar. Não propriamente nos tecidos, mas num forro ou outras componentes. Procurámos diferenciar. O que temos de sacrificar às vezes é a margem. Porque hoje há um movimento que não se consegue travar: as promoções. Uma colecção que deveria estar seis meses na loja e ter dois meses de saldos, hoje é capaz de ter um mês sem saldo.
Isso também foi fruto da alteração à lei?
Também, mas é mais uma tendência de mercado. Quem comandou isso? Alguém começou, hoje todos fazemos. Mas, efectivamente, foi o cliente que pediu. Hoje o consumidor tem de estar convencido de que está a fazer um bom negócio. Esta foi a grande alteração que temos de acompanhar.