"Há uma grande pressão dos agricultores" para o avanço da segunda fase do Alqueva
A construção da segunda fase do Alqueva está a ser exigida por agricultores e proprietários que descobriram uma saída para os constrangimentos do Alentejo, diz o ministro da Agricultura.
Luís Capoulas Santos, alentejano de Évora, sublinha o papel do Alqueva no fomento de novas culturas e acredita que o custo do alargamento da sua área actual não vai ser um problema para as finanças públicas.
O que mais o impressionou no estudo da Mateus e Associados sobre os ganhos do Alqueva? O aumento da riqueza produzida (VAB) ou a reconversão da agricultura do Alentejo que o projecto suscitou?
Essa última parte, a reconversão. Eu acompanhei o processo do Alqueva desde o início da minha carreira política e assisti às sucessivas fases de discussão sobre o empreendimento antes de ele ter sido decidido e lembro-me que, na altura, até proeminentes técnicos e uma infinidade de estudos apontavam para a inviabilidade de tudo o que o Alqueva podia vir a produzir.
Mas as culturas sobre as quais se falava na altura não foram as culturas instaladas. Em boa parte, o sucesso do projecto explica-se com o facto de as premissas iniciais não terem sido cumpridas?
Exactamente. Se verificarmos o que são hoje as principais actividades agrícolas que vieram a beneficiar com o regadio, notamos que têm pouco a ver com aquilo que, na altura, se admitia vir a ser o mosaico de culturas. Talvez seja isso que mais nos tenha surpreendido. Jamais imaginaria que, por exemplo, o olival seria num curto lapso de tempo a principal cultura de regadio. Na altura, imaginar que houvesse olival regado era quase uma heresia.
O olival já representa quase metade da área regada. Há uma excessiva dependência do Alqueva em relação ao olival?
Sinceramente não. Porquê? Nós temos de olhar o Alqueva e o Alentejo num contexto do mercado global. Todos os estudos apontam para uma expansão muito grande do consumo de azeite nos próximos anos. Eu assisti à invasão dos galheteiros, nos últimos dez anos, nos restaurantes de Bruxelas nos restaurantes. O consumo de azeite tem ganho novos adeptos. Eu não gostaria que o Alqueva fosse uma monocultura do olival e penso que os seus limites devem estar próximos do desejável. Mas não creio que ter atingido esta dimensão tenha sido negativo. Muito pelo contrário.
A dinâmica da agricultura do Alqueva torna a segunda fase do projecto irreversível?
O único constrangimento está no financiamento que, do meu ponto de vista, e lamentavelmente, não foi assegurado e deveria tê-lo sido com alguma antecipação.
Na negociação do actual PDR (Plano de Desenvolvimento Rural, o programa que gere os fundos europeus para a agricultura)?Neste PDR ou de outra forma qualquer. Penso que para o anterior Governo o Alqueva tinha acabado com aquela que era a sua área inicial, os 120 mil hectares. O Alqueva não tem qualquer financiamento no PDR 2020 e o objectivo é garantir a totalidade do financiamento através do Banco Europeu de Investimentos (BEI) O ideal seria garantir 225 milhões de euros.
Para os 50 mil hectares?
Para os cerca de 47 mil hectares, que é a área projectada. Mal haja financiamento, a EDIA fica com luz verde para o lançamento de projectos - aliás já tem vindo a trabalhar neles e estão perfeitamente identificados.
Quando chegará a água aos novos blocos de rega?
O lançamento do concurso e a execução de obra demoram dois anos. Lá para 2019.
O interesse manifestado pelos agricultores em receber água nos blocos já em funcionamento vai-se repetir nos novos blocos?
Os contactos que têm vindo a estabelecer-se com alguns agricultores da zona apontam nesse sentido. Há uma grande apetência e uma grande pressão por parte dos agricultores. Como não pode deixar de ser. Nos velhos estudos dos antigos regadios concluíra-se que a taxa de adesão dos agricultores era normalmente muito lenta e pensava-se em atingir os 60 ou 70% da taxa de utilização nunca antes de dez anos. Ora todos esses calendários foram pulverizados no Alqueva. A taxa de adesão tem sido extraordinariamente rápida. Com a experiência acumulada estou certo que nas novas áreas a taxa de adesão será ainda mais intensa.
O Ministério das Finanças tem feito algum contravapor para evitar a contracção de mais uma dívida?
Esta negociação foi acertada no seio do Governo. De qualquer modo, os encargos serão em grande parte compensados pelo próprio investimento. Estamos a falar de um investimento com um período de amortização até 2045 ou 46 e, com as contas que temos, só a geração de receitas fiscais e de emprego quase que amortizam esse investimento.