G20 vai usar “todas as ferramentas” para impulsionar crescimento global
Países alertam para o risco de uma eventual saída do Reino Unido da União Europeia.
Mais palavras do que acção. Os países do G20 afirmaram que vão usar todas as ferramentas disponíveis para contrariar a tendência de arrefecimento da economia global, e que, sozinhas, as políticas monetárias dos bancos centrais não são suficientes – mas não têm qualquer posição concertada sobre que medidas específicas aplicar.
“Concordámos em usar todas as ferramentas – monetárias, fiscais e estruturais – para impulsionar o crescimento”, afirmou neste sábado o ministro chinês das Finanças, Lou Jiwei, numa conferência de imprensa feita após um encontro que reuniu, em Shangai, os responsáveis das finanças das 20 maiores economias mundiais, bem como os governadores dos respectivos bancos centrais.
O comunicado oficial emitido pelo G20 argumenta que está em curso uma recuperação da economia, mas a um ritmo que não é suficiente para um crescimento sustentado: “A recuperação global continua, mas permanece desigual e fica aquém da nossa ambição para um crescimento forte, sustentável e equilibrado”.
Já era esperado que o encontro do G20 em Shangai – o de mais alto nível a seguir aos que reúnem os líderes destes países – não resultasse em qualquer plano de estímulo global. Nesta sexta-feira, declarações de alguns governantes deixaram clara a existência de visões diferentes, com a Alemanha a recusar a hipótese um pacote de estímulos orçamentais, que passaria por um aumento da despesa pública e, em consequência, do endividamento dos países. “O modelo de crescimento assente em financiamento por dívida chegou ao limite”, afirmou o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, dizendo não aceitar um “pacote de medidas orçamentais do G20, como alguns propõem”. O francês Michel Sapin afirmou por seu lado que o seu país não está em condições de avançar por este caminho e que outros com maior capacidade deveriam fazê-lo – uma referência à Alemanha, que registou no ano passado um excedente orçamental recorde.
O encontro do G20 aconteceu com o pano de fundo de múltiplos riscos para a economia mundial: o abrandamento do crescimento chinês para o nível mais baixo do último quarto de século, o arrefecimento de outras economias emergentes (entre as quais o Brasil, a braços com uma crise financeira e política), a quebra no comércio mundial e no preço das matérias-primas, com a expectativa de que a oferta global de petróleo continue a superar a procura pelo menos ao longo deste ano e do próximo.
O comunicado oficial aponta ainda o risco “da escalada de tensões geopolíticas” e do “crescente número de refugiados em algumas regiões”, bem como “o choque de uma potencial saída do Reino Unido da União Europeia”. Segundo o jornal Financial Times e a agência Reuters, a referência a uma eventual saída do Reino Unido estava ausente dos primeiros rascunhos e foi incluída na versão final do documento por pressão dos representantes britânicos. A continuidade do país no bloco europeu vai ser referendada em Junho e o primeiro-ministro, David Cameron, bem como a maioria do seu Governo, são a favor da permanência.
As políticas dos bancos centrais estiveram também em cima da mesa de discussões. A ideia de um acordo semelhante ao de 1985 (que desvalorizou então o dólar face a outras divisas) foi surgindo na cobertura mediática do encontro, mas os responsáveis descartaram desde o início qualquer hipótese de um pacto semelhante. O comunicado oficial afirma que as políticas monetárias que têm sido levadas a cabo pelos bancos centrais – que na Europa incluem taxas de juro negativas e programas de compra de activos para injectar dinheiro na economia – vão continuar “a apoiar a actividade económica e assegurar a estabilidade dos preços”, embora se argumente que “sozinhas não conseguem levar a um crescimento equilibrado”.
Parece, no entanto, haver um entendimento para evitar uma guerra de divisas, com os países a desvalorizarem as moedas como ferramenta de competitividade para as respectivas empresas exportadoras. “Se decisões políticas – por exemplo, por questões domésticas – levarem a desvalorização, devemos informar e consultar os diferentes países”, disse, citado pela agência Bloomberg, o ministro da Finanças holandês, e presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem.