Financial Times: BCE beneficiou o Deutsche Bank nos testes de stress

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Reuters/Kai Pfaffenbach

O banco alemão Deutsche Bank recebeu um tratamento especial do Banco Central Europeu (BCE) nas provas de resistência realizadas este Verão à banca europeia, revela o diário britânico Financial Times (FT) na sua edição desta segunda-feira.

Em causa está a inclusão das mais-valias resultantes da venda da participação que o Deutsche Bank detém na entidade chinesa Hua Xia nos resultados dos testes de stress do Deutsche Bank, ainda que o negócio não estivesse concluído no final de 2015, a data limite para incluir estas transacções nas provas de resistência.

A venda da posição do banco alemão na Hua Xia foi acordada em Dezembro do ano passado e a operação ainda não foi concluída, ainda que o Deutsche Bank acredite que tal vai acontecer este ano.

Este caso foi descoberto pelo FT numa nota relativa às provas do Deutsche Bank, mas nenhum dos outros bancos avaliados nos exames tiveram menções similares, ainda que muitos também tivessem transacções acordadas mas nã formalizadas em 2015.

A instituição alemã, cujas acções se desvalorizaram mais de 20% nas últimas semanas, usou os resultados dos testes de stress de Julho passado para comprovar ao mercado a sua sólida situação, realça o FT.

Na sua avaliação de Julho, a Autoridade Bancária Europeia (EBA, na sigla em inglês) antecipou que o conjunto do sector bancário comunitário mantinha um nível saudável no rácio de capital de qualidade face aos activos de risco (common equity tier 1, CET1), em caso de uma situação adversa.

Os principais bancos alemães, o Deutsche Bank e o Commerzbank, obtiveram um rácio CET1 de 7,8% e de 7,42%, respectivamente, bastante acima do mínimo requerido pelas autoridades de supervisão.

O FT aponta para o exemplo do banco catalão Caixabank (o maior accionista do português Banco BPI), que fechou em Março uma venda de activos estrangeiros à sua holding industrial, a Criteria, por 2,65 mil milhões de euros, num acordo estabelecido ainda durante o ano passado; porém, o BCE não autorizou que o impacto dessa venda figurasse nos resultados das provas de resistência.

"[O tratamento dado ao Deutsche Bank] é confuso", comentou ao FT o analista Chris Wheeler, considerando que "estas circunstâncias fazem com que as pessoas que seguem a actividade dos mercados vejam com suspeição a veracidade dos resultados destas provas".

O FT realça que, sem o negócio da Hua Xia, o rácio do banco alemão teria sido de 7,4% e não de 7,8%, mas que o rácio publicado ajudou a tranquilizar os investidores que estavam cada vez mais preocupados com o capital do banco.

Contactado pelo jornal britânico, o BCE indicou que "trata todos os bancos da mesma maneira, em linha com a regulação".