Falta de capital público fez cair em 16% o investimento dos business angels
Portugal ficou um ano sem instrumentos financeiros de apoio aos business angels mas é o terceiro país com mais investimento deste género em percentagem do PIB.
Sem dinheiro público, a actividade dos business angels em Portugal caiu. A falta de fundos do Estado para acompanhar este género de investimento (que é feito sobretudo em fases iniciais de uma empresa) contribuiu para uma quebra nos montantes aplicados ao longo do ano passado. Ainda assim, Portugal é dos países europeus com mais dinheiro investido por business angels em termos de percentagem do PIB, segundo números da Eban, a associação europeia do sector.
Em 2015 foram investidos em Portugal cerca de 24 milhões de euros por um total de 624 business angels, de acordo com o relatório anual da Eban, que será divulgado nesta segunda-feira e a que o PÚBLICO teve acesso. Isto significa uma descida de 16% face a 2014, ano em que o investimento tinha mais do que duplicado, com o total a rondar então os 28 milhões de euros.
Este sector, no entanto, é difícil de quantificar e os números são apenas uma amostra da realidade, algo que a própria associação reconhece. Os business angels fazem investimentos relativamente reduzidos, muitas vezes de forma informal e sem que haja qualquer registo oficial – em Portugal, nenhum organismo estatal recolhe números, informou o Ministério da Economia em resposta a questões do PÚBLICO. Os dados da Eban baseiam-se em inquéritos e na recolha de informação de várias associações de investidores.
A descida observada em Portugal deveu-se a um hiato nos fundos públicos à disposição dos business angels, justifica Paulo Andrez, um investidor português que já presidiu à Eban. “O fundo de co-investimento terminava em 2015, muitas das entidades veículo não tinham dinheiro para investir e por isso houve uma quebra”, explica.
Andrez recorda que “houve claramente uma revolução em Portugal a partir de finais de 2009, quando foi lançado o concurso para selecção de entidades veículos constituídas por business angels para co-investirem com o Estado”. Aquele foi o ano em que foi lançado pela primeira vez em Portugal um fundo, com dinheiro europeu, para ser usado por business angels, que aplicavam capital público juntamente com capital próprio. É, no essencial, o mesmo modelo da linha de financiamento que foi anunciada no mês passado pela Instituição Financeira de Desenvolvimento (uma entidade pública) e que vai disponibilizar cerca de 26 milhões de euros para este sector. A par desta, uma outra linha, em torno de 98 milhões de euros, destina-se a capital de risco, o que tipicamente inclui também investimentos em fases mais tardias das empresas e de montantes mais elevados.
Paulo Andrez, nota, contudo, que o dinheiro ainda demorará alguns meses a chegar às empresas: “É pena que Portugal tenha ficado um ano sem qualquer instrumento de apoio aos business angels, pois desde finais de Outubro do ano passado que as linhas de co-financiamento estão fechadas e [as novas linhas] só vão chegar às startups em Setembro ou Outubro, na melhor das hipóteses”.
Apesar da quebra no valor total registado pela Eban, Portugal – onde o ecossistema de empreendedorismo tem vindo a crescer nos anos recentes, em parte fomentado por políticas públicas – está entre os países cuja actividade dos business angels é destacada pela associação. Está em terceiro lugar numa lista de 31 países em termos de investimento face ao PIB, atrás apenas da Finlândia e da Estónia. É o oitavo em termos de valor absoluto, um indicador que é liderado pelo Reino Unido. E, em média, cada business angel português investiu 37.500 euros, o que significa um 10.º lugar nesta tabela, que é encabeçada pela Dinamarca, onde cada investidor aplicou 107 mil euros.
Extrapolando a partir dos números registados, a Eban estima que, ao longo de 2015, este género de investimento tenha totalizado 6,1 mil milhões de euros na Europa, representando assim a grande fatia dos investimentos feitos na fase inicial (ou early stage, na gíria do sector) da vida das empresas. Àquele valor, somam-se 2,1 mil milhões vindos de capitais de risco e 400 milhões de plataformas de financiamento colaborativo.