“Vivi um sonho que se tornou realidade”, diz Phelps na despedida

Conquista da 23.ª medalha olímpica de ouro foi “a cereja no topo do bolo”.

Fotogaleria
Phelps emocionado depois de conquistar a sua 23.ª medalha de ouro (e 28.ª no total) em Jogos Olímpicos REUTERS/Dominic Ebenbichler
Fotogaleria
Phelps no último pódio olímpico da sua carreira Odd ANDERSEN/AFP
Fotogaleria
Emoção nas bancadas. Toda a gente queria ver Phelps REUTERS/Stefan Wermuth
Fotogaleria
"Obrigado, Rio", disseram os nadadores americanos REUTERS/Dominic Ebenbichler
Fotogaleria
Phelps fotografado debaixo de água na última prova da carreira olímpica François-Xavier MARIT/AFP
Fotogaleria
O último pódio Odd Andersen/AFP

Michael Phelps despediu-se das piscinas e da competição com o sentimento de dever cumprido. O ouro na prova de 4x100m estilos nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro deu ao nadador norte-americano a 28.ª medalha da carreira e o 23.º título olímpico. “É a cereja no topo do bolo que eu queria. Não podia estar mais contente”, confessou.

Ele era o homem da noite e foi por ele que toda a gente estava à espera. Ninguém arredou pé do Estádio Aquático Olímpico, mesmo quando a cerimónia de pódio se atrasou. Todos queriam ver Michael Phelps subir, pela última vez, ao degrau mais alto e ostentar uma medalha de ouro ao pescoço. De olhos húmidos enquanto ouvia o hino, o nadador não escondeu as emoções. “Ao entrar na piscina esta noite as emoções começaram a vir à superfície. Foi muito mais emocional do que em 2012, mas acho que isso é bom. Posso olhar para a minha carreira e ver que consegui alcançar tudo o que queria”, sublinhou Phelps, acrescentando: “Tudo começou com um miúdo a nadar, e acabou por ser uma coisa espectacular. Vivi um sonho que se tornou realidade. Era algo que queria há tanto tempo. E poder terminar nestes Jogos foi a forma perfeita.”

Phelps iniciou um novo ciclo de ouro para o Team USA

Onde estão guardadas as medalhas? Phelps não revelou, porque isso é algo que não partilha com quase ninguém. “Talvez haja duas ou três pessoas no mundo que saibam. Se o meu filho poderá levá-las para a escola para as mostrar? Oh, não sei... talvez o deixe levar uma. No outro dia ele estava a chorar, mas assim que comecei a balançar uma medalha à frente dos olhos ele sossegou”, contou o nadador.

Phelps exibiu, com os companheiros da estafeta, uma faixa de agradecimento ao Rio de Janeiro. E admitiu que a semana que viveu foi “uma loucura”. “O mais importante nestes Jogos? É o mundo estar a ver-me como realmente sou. Aconteceram tantas coisas incríveis, dia após dia. Estou sem palavras.”

Foto
GABRIEL BOUYS/AFP

“Todas as medalhas são especiais, de certa maneira. Não sei qual é a minha medalha favorita. É demasiado cedo para dizer, nem sei se consigo escolher uma”, prosseguiu Phelps, confessando que depois da prova que encerrou a jornada nocturna deste sábado no Rio de Janeiro pensou na importância do número 23. Não só representa o total de medalhas de ouro que conquistou em Jogos Olímpicos, mas também a camisola que Michael Jordan usava. “Ele foi uma inspiração para mim em toda a minha carreira. Ver o que ele fez no basquetebol levou-me a querer fazer o mesmo na natação. Estava a pensar nisso hoje, depois da estafeta. O número 23 é especial, sempre foi. E vai continuar a ser”, disse.

Phelps mostrou-se entusiasmado com a etapa que se segue: “Vou começar o próximo capítulo da minha vida. Vou retirar-me, mas não acabei para a natação. É o início de algo novo. Tudo na vida acontece por uma razão específica e eu não mudaria nada. Agora estou no melhor sítio em que alguma vez estive na minha vida. Tenho uma família fantástica, estou feliz a maior parte do tempo. Só há problemas quando tenho fome”, gracejou.

Quanto ao futuro da natação, Phelps destacou os novos valores que estão a surgir. “O Ryan Murphy mostrou-me uma foto que tirei com ele em 2004. Estas fotografias estão todas a aparecer agora, quando os outros tinham 8, 9, 10 anos...”, disse em referência a Joseph Schooling, de Singapura, que o bateu nos 100m mariposa e cresceu a idolatrá-lo. “É entusiasmante ver o que o futuro vai trazer, há muitos nadadores entusiasmantes, a Katie Ledecky, o Adam Peaty, o Ryan Murphy. Não é só um ou dois países, é por todo o lado. Estou muito orgulhoso por ver que é assim e vai continuar a crescer.”

Joe conheceu o herói Phelps em 2008. Agora roubou-lhe o ouro

Numa perspectiva mais pessoal, o nadador mostrou-se satisfeito pela possibilidade de passar tempo com a família. “A Nicole (noiva de Phelps) e eu estamos muito entusiasmados, queremos ser os melhores pais que conseguirmos. Será fantástico fazer parte da vida do Boomer (o filho de ambos) todos os dias, ver o que lhe posso ensinar. Será uma experiência nova, pela qual estamos muito entusiasmados. Queremos continuar a construir uma família. Quero passar cada dia com eles”, concluiu Phelps.

Foto
A noiva e o filho de Phelps nas bancadas REUTERS/Michael Dalder

“Outro Phelps? Não!”

Também presente na conferência de imprensa, o treinador Bob Bowman deixou elogios a Michael Phelps pela coesão que cultivou na equipa. O nadador foi pela primeira vez capitão da equipa (e porta-estandarte dos EUA na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro) e “fez um grande trabalho”, sublinhou o técnico.

“Se pode surgir outro Michael Phelps? Absolutamente não! Nem ando à procura. Ele é demasiado especial, não é algo que aconteça uma vez numa geração, é mais uma vez em dez gerações. Tinha as capacidades certas, a família, o clube. Ele tem capacidade emocional para ter melhores desempenhos sob pressão. Mas temos valores como a Katie Ledecky, o Ryan Murphy”, enumerou Bowman.

Phelps, que antes de entrar na sala trocou um abraço sentido com o técnico, destacou a ligação que os dois têm: “É toda uma carreira, estou com o Bob há 22 anos. Foram 22 anos incríveis. E conseguir terminar assim, pode dizer-se que foi especial.”

Antes, tinha passado pela sala o jovem Ryan Murphy, companheiro de Phelps na estafeta 4x100m estilos que deu ao homem conhecido como “Bala de Baltimore” a derradeira medalha olímpica. “Pressão? Foi a prova mais vista, por ter sido a última do Michael”, reconheceu.

“Seja em que país for, a natação está em dívida para com o Michael”, acrescentou Murphy, lamentando a retirada do companheiro: “Se fosse eu, e estivesse no topo, seria difícil afastar-me. Mas o que mais pode ele alcançar? A não ser que queira chegar às 30 medalhas...”

Depois detenção por álcool, como Phelps testou os limites

Sugerir correcção
Ler 4 comentários