Com pouco, os islandeses fizeram um bom argumento
Equipa nórdica protagonizou a maior surpresa deste Europeu, até ao momento, ao empatar com Portugal. A selecção nacional não conseguiu vencer a batalha da ansiedade
A Islândia não é impressionável. Defrontar um candidato assumido ao título, liderado pela estrela planetária Cristiano Ronaldo, não impediu a equipa nórdica de fazer história na sua estreia numa fase final de uma grande competição. Já o faria, com o golo que marcou, mas foi ainda mais longe e conseguiu empatar com Portugal, a uma bola, deixando em delírio os seus adeptos em França e na sua ilha no meio do Atlântico. Para a selecção nacional este foi um balde de água fria, mas pode culpar-se pela forma como não dominou a ansiedade.
O Grupo F é, para já, o mais surpreendente deste Europeu. Depois da inesperada derrota da Áustria aos pés da Hungria (2-0), os islandeses provaram que não vieram passear ao torneio e que vão fazer tudo para ultrapassar a fase de grupos. As experiências com a Noruega (3-0) e Estónia (7-0), na preparação para este campeonato correram tão bem, que ninguém esperaria que, frente a uma selecção com um estilo de jogo semelhante, houvesse lugar para Portugal perder pontos. Ainda mais quando conseguiu furar a muralha defensiva islandesa e chegar à vantagem, aos 31’, com um golo de Nani, que ocupou o lugar de Quaresma no “onze” de estreia de Fernando Santos.
O domínio português no primeiro tempo até prometia um resultado mais volumoso, mas faltou o pormenor da vontade férrea dos nórdicos em darem uma prenda aos seus 330 mil habitantes. Os que vieram a Saint-Étienne foram festejar para as ruas, os portugueses foram para casa de cabeça baixa. As expectativas eram bem diferentes.
Um a um, os melhores e piores de Portugal
Portugal não entrou bem no encontro e até esteve muito perto de sofrer um golo, logo aos 3’, quando Pepe perdeu uma bola no meio-campo nacional, aproveitada por Gylfi Sigurdsson para criar a primeira grande sensação da partida, valendo Rui Patrício para evitar, por duas vezes consecutivas, o golo da estrela islandesa do Swansea. A batalha do nervosismo parecia estar a ser perdida pela equipa mais experiente em campo.
Bem organizada defensivamente, com um bloco baixo e coeso, mas sem grandes veleidades atacantes, os islandeses acabaram por aceitar o domínio português, que se foi intensificando com o decorrer do primeiro tempo. Mesmo assim, o primeiro sinal de perigo junto das redes de Haldórsson só surgiu aos 18’, num remate de Vieirinha, que o guarda-redes nórdico defendeu com os punhos.
Foi a primeira de várias grandes intervenções suas ao longo da partida. Só foi impotente para travar o remate de Nani, pouco depois da meia-hora, a concluir uma das melhores jogadas de Portugal, toda criada pelo corredor direito, com André Gomes a tabelar com Vieirinha e a cruzar para o atacante do Fenerbahçe.
Nesta altura, a equipa nacional já tinha melhorado bastante o seu jogo colectivo e tomado totalmente conta da partida, sem que os islandeses esboçassem capacidade de reacção, que não fosse defensiva. Ao intervalo, os 64% de posse de bola portugueses eram esclarecedores.
Fernando Santos: “A ansiedade acabou por nos prejudicar”
O problema é que a vantagem continuava a ser mínima e a Islândia estava longe de se dar por derrotada. Cinco minutos depois do intervalo, (mais) um erro defensivo das cores nacionais terminou com a bola no fundo das redes de Rui Patrício. Gudmundsson, na direita, cruzou para a área e Bjarnason, sem oposição – por uma falha de comunicação entre Vieirinha e Pepe –, empatou o encontro.
À surpresa portuguesa respondeu a Islândia com crença, mas sempre a respeitar as suas próprias limitações. Ainda que tenha estado muito perto de tornar o escândalo completo, a quatro minutos do final, quando Patrício evitou um golo que parecia certo de Finnbogason. Os portugueses no estádio arrepiaram-se.
Cristiano Ronaldo: “Custa um bocadinho”
Um lance que surgiu numa altura em que Fernando Santos já colocara toda a carne no assador. Ou seja, tinha no ataque Ronaldo, Nani, Quaresma (76’) e Éder (84’). De nada valeu.
A bola teimava em não entrar, mas também é verdade que foi faltando discernimento a Portugal, reflectido na sua maior estrela (na noite em que igualou as 127 internacionalizações de Luís Figo). Pelo contrário, o guarda-redes, que também é realizador de filmes, ajudou a provar que com pouco orçamento também se faz um grande argumento.
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