Dragão à espera da “chama” de Sérgio Conceição

Desafios e dificuldades do anunciado futuro treinador do FC Porto, que terá de responder ao mais exigente desafio de uma ainda curta carreira e que chega com um ano e meio de atraso.

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Sérgio Conceição carrega consigo a fama de ser um treinador temperamental e que vive o futebol de forma intensa REGIS DUVIGNAU/REUTERS

Sérgio Conceição está de regresso ao FC Porto na fase mais delicada do consulado de Pinto da Costa, em plena recessão desportiva (quatro anos consecutivos sem títulos) e financeira (a SAD portista tem somado prejuízos nos anos recentes).

A missão confiada àquele que até anteontem era o técnico do Nantes exige nervos de aço e um autodomínio que porá o novo treinador à prova, especialmente depois de frustrada a mais recente tentativa de recuperar a identidade forte que notabilizou o “dragão”, personalizada em Nuno Espírito Santo.

Muitos esperam uma liderança dominada pelas emoções e por uma certa dose de turbulência — a que Jorge Jesus chama sangue na guelra e que terá faltado em momentos decisivos para o FC Porto. Um capítulo que o novo técnico já provou dominar, assumindo-se sempre — para o bem e para o mal — com a paixão que o caracteriza.

E esse é também o desafio de Sérgio Conceição, com um ano e meio de atraso, já que foi ultrapassado em cima da linha por José Peseiro para render Lopetegui. Missão difícil mas ideal para provar que está preparado para o desafio que hoje representa devolver a glória ao FC Porto... E são pelo menos cinco os “trabalhos” que o futuro treinador portista terá que cumprir para não ser apenas mais um dos casos recentes de insucesso.

Peso do passado campeão

As sensações e os títulos vividos ao serviço do FC Porto são a verdadeira âncora do treinador num balneário sem o peso das referências do passado e orfão de troféus. A liderança de Sérgio Conceição é um capital inalienável para contrariar esta espécie de fantasma que passou a habitar o Dragão. Mas como motivar os jogadores parece ser um dos seus principais trunfos, Conceição apresenta armas que podem ajudá-lo a ganhar a batalha.

Finanças apertadas

A entrada directa na fase de grupos da Champions dá algum tempo a Conceição para traçar um plano e colocá-lo em prática, mas o equilíbrio orçamental que a UEFA impõe devido à necessidade de cumprir o fair-play financeiro vai exigir sacrifícios. A venda de alguns dos activos mais valiosos já foi assumida por dirigentes portistas e é até urgente, pelo que terá que haver cedências, sem alterar o compromisso e a ambição. Danilo, André Silva, Felipe, Alex Telles e Brahimi são as principais mais-valias e podem ser os primeiros a abandonar o Dragão. Casillas poderá ter que sair ou abdicar de privilégios para desonerar a folha salarial.

Aproveitar a formação

Apesar de não dispor do tempo que um processo de crescimento natural e sustentado normalmente exige, Sérgio Conceição terá que olhar para a formação e extrair rapidamente o que de melhor tem sido projectado pelo clube. André Silva será o exemplo a seguir. Aliás, a matéria-prima pode nem sequer constituir problema. Porém, sem margem para errar, as apostas terão que ser cirúrgicas e inequívocas. As mais recentes indicações dadas por jovens da equipa B, como Fernando Fonseca (internacional olímpico e sub-21 promovido a titular com o Marítimo), Galeno ou Fede Varela podem ser uma solução.

Gestão de activos

Os activos que o FC Porto coloca todos os anos nos mais diversos clubes, nacionais e estrangeiros, são sempre um tema delicado, especialmente quando se trata de “activos tóxicos”. Sérgio Conceição terá que fazer, juntamente com os responsáveis do clube, uma triagem que extraia os mais habilitados de forma a complementar o plantel. Isto, tendo presente que alguns dos mais fiáveis poderão ter que partir para ajudar a diluir o passivo, casos de Aboubakar (Besiktas) e Ricardo Pereira (Nice). A lista é extensa e dependerá também das possíveis vendas mais importantes.

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