João Pinto pára quatro meses
O Comité Disciplinar da Federação Internacional de Futebol (FIFA), mesmo considerando que houve agressão, decidiu ontem, por unanimidade, aplicar uma suspensão de seis meses de todas as competições nacionais e internacionais ao avançado do Sporting João Pinto como castigo pelo murro dado pelo internacional português no estômago do árbitro argentino Angel Sánchez durante o Portugal-Coreia do Sul de 14 de Junho, a contar para o Mundial 2002. A decisão saiu ontem após uma reunião do jogador e do árbitro com cinco membros do comité em Zurique, na Suíça, onde está localizada a sede do organismo que tutela o futebol mundial. João Pinto falha apenas seis jornadas da I Liga portuguesa, período em que campeão nacional não defronta nenhum dos outros candidatos ao título.Para além da suspensão, João Pinto foi ainda punido com uma multa de 50 mil francos suíços (34102 euros) por comportamento anti-desportivo, tendo ainda de arcar com os custos processuais (15 mil francos, cerca de dez mil euros). Dos seis meses do castigo, dois deles são com pena suspensa, o que significa que João Pinto vai poder voltar a alinhar pelo Sporting em jogos oficiais a partir de 17 de Outubro, porque está incluído neste período o mês em que o jogador esteve suspenso preventivamente. "Durante o período de um ano [a partir de 17 de Outubro] se acontecer alguma coisa, cumpre imediatamente os dois meses, mais o período correspondente", frisou o suíço Marcel Mathier, presidente do comité, não especificando, no entanto, em que situações poderão ser aplicados os dois meses."A pena suspensa foi acordada porque ele teve, depois do incidente, um comportamento exemplar. Figo, o capitão de equipa [que era Fernando Couto, mas foi Figo que foi ter com Angel Sánchez no final da partida], foi também pedir desculpas ao árbitro. A Federação Portuguesa de Futebol [FPF] também teve um comportamento exemplar e o próprio jogador reconheceu imediatamente o que tinha feito", explicou Marcel Mathier, referindo ainda que a FIFA tomou também em conta o passado futebolístico de João Pinto, tanto a nível nacional como internacional. Para além de Mathier, fizeram ainda parte do painel do comité James Boyce (Irlanda do Norte), Horace Burrell (Jamaica), Moustapha Kamara (Mauritânia) e Mehmed Spaho (Bósnia).Este castigo significa que o Sporting não vai poder contar com João Pinto durante os dois primeiros meses do campeonato - a I Liga começa a 25 de Agosto -, o que não é assim tão mau se se tiver em conta que podia ter sido imposta uma sanção bem mais pesada a João Pinto. A acompanhar João Pinto, que não quis prestar declarações antes e depois da audiência, na reunião esteve Miguel Ribeiro Teles, presidente da SAD do Sporting, que anunciou que o clube de Alvalade não vai recorrer da decisão. "Não nos precipitámos em molduras sancionatórias exageradas e até especulativas e, por isso, aguardámos sempre com serenidade a decisão. Pensamos que ela é justa e equilibrada. Mas não se pode por isso falar de alivio ou de vitória. Um processo destes nunca dá vitórias a ninguém", referiu o dirigente "leonino", deixando a entender que o clube não irá aplicar qualquer sanção a João Pinto.Uma peça fulcral em todo este processo foi João Rodrigues, membro do Comité de Disciplina e o representante da FPF que acompanhou João Pinto a Zurique, mas que não assistiu à audiência. "Ele pediu desculpa pelo acto irreflectido. O posicionamento do João Pinto foi de grande coragem, carácter e entrega total. Ele assumiu e isso foi extremamente relevante para o castigo", observou o ex-presidente da FPF, que mereceu um agradecimento especial por parte de Ribeiro Teles.Em todo este processo, João Pinto tem razões para se considerar satisfeito com o resultado. De acordo com os regulamentos da FIFA, no artigo 35º, o castigo poderia ter ido até aos cinco anos (quatro jogos era o limite mínimo) de suspensão da actividade a todos os níveis, tanto nacional como internacional a "um jogador que deliberadamente agrida alguém fisicamente ou lhe prejudique a saúde". Mão mais pesada teve a UEFA para punir os incidentes que ocorreram durante o Portugal-França a contar para as meias-finais do Euro 2000 e que resultaram na suspensão de competições internacionais de três jogadores portugueses: Abel Xavier (nove meses), Nuno Gomes (oito meses) e Paulo Bento (seis meses). Nuno Gomes e Paulo Bento beneficiaram depois de uma redução de um mês.