Contra a lógica da vitória
Às vezes, a "lógica da vitória" (apregoada no programa oficial para o FC Porto-Alverca de ontem) não é tão linear como somar o apuro dos portistas neste duelo através da história - quatro vitórias e dois empates. É verdade, como diz a mesma publicação, que "a carreira do Alverca tem revelado este ano uma grande fragilidade", mas ontem a equipa de Vítor Manuel foi suficiente para colocar um travão numa equipa que agora deixa nas mãos do Benfica a atribuição do terceiro lugar da classificação. O 0-0 pode ser desajustado, mas já se sabe: quem não marca arrisca-se a sofrer.O jogo foi, acima de tudo, falso. Em diversos sentidos. Começou a sê-lo ainda nas vésperas, quando José Mourinho resolveu anunciar metade da sua estratégia: harmonizar "Pena e Benni" no mesmo "onze". Mas só se Paredes recuperasse. Ora, o paraguaio ficou de fora e o par de pontas-de-lança coexistiu na frente de ataque. Deu-se bem até. A falta de comparência do trinco acabou por ser compensada pela presença de Costinha, mas, sem querer, também o treinador portista foi enganado: não contou com o castigo-surpresa da Comissão Disciplinar da Liga a Capucho e, perante mais uma privação - uma unha encravada também deixou de fora Ricardo Silva -, optou por prescindir do lateral-direito, deixando todo o corredor direito à mercê do incansável Cândido Costa.De resto, também Vítor Manuel preparou as suas manobras de diversão. Perante a tal ameaça "Pena e Benni", o técnico do Alverca fixou três centrais (Veríssimo, Gaspar e Pedro Neves), deixou Peixe nas imediações, mas nunca chegou a conseguir soltar os falsos laterais (Torrão e Tinaia).Outra falsidade do jogo é o resultado ao intervalo. O FC Porto pode não ter realizado a partida mais fluente da época, mas oportunidades não faltaram. Ultrapassados os primeiros dez minutos, já Gaspar tinha sido obrigado a oferecer o pé a um remate de Pena e Yannick ficou desesperado, na sequência do canto, perante um desacerto colectivo da sua equipa. Quase fatal, diga-se: McCarthy enviou a bola ao poste esquerdo e, na recarga de Costinha, alguém desvia para a base do mesmo ferro. Foi a primeira oportunidade para o guarda-redes exibir perante as câmaras de televisão o seu "look" à Pierluigi-Collina. Mas estavam reservadas muitas outras. Jorge Andrade e Pena atrapalharam-se na cara de Yannick, Deco atirou frouxo, Pavlin desperdiçou...O Alverca, esse ficou-se por dois remates de Quinzinho, numa altura em que Vítor Manuel já tinha procurado abanar a sua equipa, apostando na velocidade de Vargas. Os visitantes subiram uns furos, mas voltaria a ser o FC Porto a desperdiçar uma excelente oportunidade para marcar ainda antes do intervalo. Clayton (demasiado irregular) traçou uma diagonal no interior da área para chutar cruzado, mas ao lado.A maior mentira estava, no entanto, reservada para a segunda metade. Mourinho arrependeu-se, quis regressar ao modelo tradicional, mas a troca de Cândido Costa por Paulo Costa (o ala-direito) e de Pavlin por Secretário (o lateral-direito) não rendeu muito. Vistas bem as coisas, o apuro foi até negativo. McCarthy dispôs de nova oportunidade (48') - chutou por alto -, Pena teve nos pés nova ocasião (49') - chutou ao lado -, mas foi Jorge Andrade a ter de salvar sobre a linha o 0-1, depois de Quinzinho ter batido Paulo Santos (60'). O Alverca começava a gerir o seu tempo, mas, reequilibradas as coisas, os portistas lançaram uma definitiva vaga, já depois de Pedro Neves ter sido expulso (74'). Entrou Soderstrom, Jorge Andrade encostou-se a Pena, mas aí, aí brilhou Yannick.Durante o intervalo, um miúdo com a camisola do FC Porto só precisou de um inocente pontapé para colocar a bola no círculo mágico recortado bem no ângulo da baliza "Penalti Fidelidade" e levar para casa os 150 euros do concurso. Fê-lo sem qualquer adversário, é verdade, mas fê-lo com convicção...