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Zonas de Conflito: um mapa teatral para redesenhar a Europa até 2018

Programa da União dos Teatros da Europa envolverá 19 dos 21 teatros da rede nos próximos três anos.

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1914, de Robert Wilson, parte de O Bom Soldado Svejk, de Jaroslav Hasek, e de Os Últimos Dias da Humanidade, de Karl Kraus
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O espectáculo de Robert Wilson cita explicitamente a data da morte do arquiduque Francisco Fernando como o ground zero da Europa
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1914>/i> teve estreia em Praga e ali voltará a estar em palco a partir de 9 de Janeiro
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O espectáculo "europeu" de Robert Wilson integra o programa Zonas de Conflito lançado este ano pela UTE
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The Dragonslayers, da dramaturga sérvia Milena Marcovic, foi a primeira pedra deste projecto

Cem anos depois, e acompanhando um vasto esforço de reprocessamento das memórias desse conflito a todos os títulos fundador, a União dos Teatros da Europa e do Mediterrâneo (UTE) entendeu ser altura de voltar a cartografar a Europa, prestando uma atenção muito particular às cicatrizes e aos pontos de tensão (geopolítica, social, económica, racial) que fazem deste um continente em perigo.

Zonas de Conflito, o programa a quatro anos que a UTE acaba de lançar e que terá o seu encerramento oficial em Praga em Julho de 2017, pretende refazer o mapa teatral da Europa através de um extenso calendário de actividades que inclui uma série de estreias e co-produções, nalguns casos de novos textos expressamente escritos para o efeito, bem como festivais, showcases, conferências, think-tanks, residências, mesas-redondas e masterclasses envolvendo 19 dos 21 teatros membros da rede fundada em 1990 pelo ministro da Cultura francês Jack Lang e pelo director do Piccolo Teatro de Milão Giorgio Strehler. O tema, explicou ao Ípsilon a directora da UTE, Ruth Heynen, apareceu durante uma conferência em Belgrado em que historiadores, cientistas políticos, encenadores e directores artísticos procuraram as ligações perigosas entre a crise sistémica actual e a guerra de 1914-18: "Foi provavelmente a primeira vez que nos juntámos não para discutir programações, intercâmbios e financiamentos mas para falar da Europa. E as posições foram tão diferentes que decidimos prolongar esta discussão e criar um projecto de longo prazo a partir dela, para o qual tivemos a sorte de obter financiamento comunitário." 

The Dragonslayers, a peça que o Teatro Nacional da Jugoslávia então encomendou à dramaturga sérvia Milena Marcovic e que teve a sua estreia em Junho passado, foi a primeira pedra deste projecto. Tal como ela, também o encenador americano Robert Wilson, que entretanto estreou 1914 em Praga (a partir de O Bom Soldado Svejk, de Jaroslav Hasek, e de Os Últimos Dias da Humanidade, de Karl Kraus), cita explicitamente esse 28 de Junho como o ground zero daquilo a que hoje chamamos Europa – ex-Jugoslávias, Ucrânia, Magrebe e Médio Oriente incluídos. Foi de resto um israelita, o presidente da UTE Ilan Ronen, que chamou a esta tarefa "uma necessidade": "Perante as manchetes dos jornais, as emissões televisivas e a Internet, é impossível não nos sentirmos alarmados com os desenvolvimentos financeiros, sociais e políticos em curso (...). Acredito que como artistas (...) temos o dever de espelhar as ameaças usando as ferramentas artísticas à nossa disposição. A colaboração entre artistas de países europeus, especialmente aqueles que podem vir a encontrar-se eles próprios mergulhados num conflito violento no futuro mais próximo, é uma necessidade."

Cada um à sua escala, os teatros membros da UTE – entre os quais o Teatro Nacional de São João, no Porto, que em Outubro de 2016 acolherá uma assembleia-geral da rede, um workshop para 60 estudantes e a estreia de Os Últimos Dias da Humanidade na encenação de Nuno M. Cardoso – pretendem fazer de Zonas de Conflito uma oportunidade para repensar não só a Europa como as formas teatrais contemporâneas. Daí que o programa, explica Ruth Heynen, vá muito para além da agenda de estreias e inclua também um estudo alargado sobre o estado do teatro na Europa, um think-tank para encenadores emergentes, uma rede internacional de jovens espectadores, uma plataforma on-line para publicação de trabalhos jornalísticos e uma academia descentralizada.

Daqui a quatro anos, quando o projecto estiver terminado, a UTE não terá mudado o mundo, admite Ruth Heynen, mas terá tornado mais audíveis as diferentes vozes do teatro europeu: "No final de 2017, toda a gente terá passado mais de três anos a reflectir sobre estes temas. É impossível que não emerja nada de novo."

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