“
You don’t know nothing about love”, canta Jill Scott em
You don’t know, nona faixa de
Woman. É um tema lento, arrastado, com metais a entrarem antes da voz macerada e cada instrumento (a guitarra angustiada, o piano resignado) a saber exactamente o seu papel: realçar a mácula que sai daquela garganta, dobrada aqui e ali por coros. Se não soubéssemos, podíamos julgar tratar-se de uma canção da Motown da década de 1960, daquelas que vão ao fundo da raiva amorosa arrancar refrões nos cimos. Ou seja: se não soubéssemos, diríamos que era um clássico. O que faz sentido: não só Jill Scott tem voz e fundura para isto — aliás, já o provou em temas como
Slowly,
Surelyou
My Love— como já é clássica por mérito próprio.
Nem todo o disco é assim, até porque da década de 1960 que a inspira até hoje aconteceu muita coisa, nomeadamente o hip-hop, presente na batida Fool’s gold, ou a electrónica, que surge em Lighthouse. Mas uma queda é uma queda e, como os grandes momentos de Woman provam, Scott tem uma tremenda queda para aquele R&B de antanho, dorido, cheio, em que a voz expõe agruras de amor. Woman supera-se quando Scott não faz esforço por inovar e se limita a pôr a sua voz ao serviço de canções que não têm tempo. Prepared é só um piano, voz, coros e o os ocasionais metais; Run run run vira o jogo: tem uma daquelas guitarras e batidas infecciosas (que podiam estar num dos melhores singles de Martha Reeves); e Can’t wait, sustentado no jogo entre os graves do piano e os rendilhados da guitarra (com as cordas em fundo), podia muito bem fazer parte da discografia de Aretha Franklin. Pode defender-se que há aqui um par de faixas a mais — mas também pode defender-se que há aqui uma mão cheia de canções enormes.