Portugal dos Pequenitos quer construir novos monumentos

Fundação Bissaya Barreto pretende avançar com a construção de "novos monumentos representativos do Portugal contemporâneo".

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Os novos monumentos vão representar "mais de um terço do que já está edificado" Manuel Roberto
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As casas regionais são uma das componentes do parque Manuel Roberto
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Réplica do Convento de Tomar Nelson
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Ao fundo, o Arco da Rua Augusta e a Sé de Lisboa Adriano Miranda
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Manuel Roberto
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Adriano Miranda

Para assinalar os 75 anos da inauguração do Portugal dos Pequenitos, a Fundação Bissaya Barreto (FBB), entidade que gere o espaço, pretende avançar, entre 2015 e 2016, com a construção de "novos monumentos representativos do Portugal contemporâneo", de forma a "não deixar o parque parado no tempo", disse à agência Lusa a presidente da FBB, Patrícia Viegas Nascimento.

O parque do Portugal dos Pequenitos foi inaugurado a 8 de Junho de 1940 e é um projecto do arquitecto Cassiano Branco, um dos nomes relevantes do primeiro modernismo português.

A escolha dos monumentos ainda está a ser estudada, sendo o objetivo replicar edifícios portugueses pós-década de 1960, altura da última intervenção no Portugal dos Pequenitos, sublinhou, acrescentando que está também prevista a introdução de mais casas regionais.

Para além da criação de novos monumentos, que vai representar "mais de um terço do que já está edificado", a Fundação Bissaya Barreto pretende lançar "novos conteúdos e novas abordagens", explicou a presidente. Respeitando a filosofia do parque, que se afirma "como projecto lúdico-pedagógico", pode haver "a introdução de alguma tecnologia" durante a reforma dos conteúdos pedagógicos, bem como a aposta nos audioguias, avançou Patrícia Viegas Nascimento.

Interrogada pelo PÚBLICO sobre a ampliação, a historiadora de arte Raquel Henriques da Silva pensa que essa requalificação que a fundação quer fazer deve ser feita com todo o cuidado. “O convite para intervir tem que ser feito a um arquitecto que tenha o nível de reconhecimento que o Cassiano Branco tinha na altura e tem na história da arquitectura portuguesa.” Depois, deve haver “um debate científico que envolva o Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra sobre o teor da intervenção e a forma como ela deve ser feita”.

Walter Rossa, historiador da arquitectura do Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra, disse ao PÚBLICO que acha “muitíssimo bem” a ampliação, “porque o parque é um instrumento pedagógico sobre o património monumental português”. O arquitecto acha que é possível actualizar e ampliar sem descaracterizar. Quais são os cuidados a ter num parque que é também ele património? “A selecção tem de ser obviamente de hoje e não será como a selecção do Cassiano. O percurso narrativo tem que ser capaz de assinalar os diferentes momentos de selecção e construção do parque.”

Em 2010, quando o parque fez 70 anos, o historiador de arte Paulo Varela Gomes defendeu a sua classificação como monumento nacional. Disse na altura ao PÚBLICO que era uma espaço interessante, e "muito divertido", devido
à "sua escala": “O Portugal dos Pequenitos não é um gesto inculto, é um gesto culto, que não deve ser subestimado. Mas, claro, representa uma certa ideia do Estado Novo do que era a arquitectura popular.”

Segundo a fundação, o investimento ainda está dependente da opção "cópias fiéis ou réplicas" dos monumentos, mas sendo certo que será feito "ao longo de quatro ou cinco anos", estando o começo das obras dependente das candidaturas aos fundos comunitários, referiu. Segundo a presidente da FBB, o investimento vai também incidir sobre as infraestruturas de apoio do parque, prevendo-se a criação de "um café, esplanadas, zonas de sombra", bem como intervenções na loja, instalações sanitárias e no espaço destinado ao serviço pedagógico.

O parque tem vindo a ter um decréscimo no número de visitantes desde 2009, tendo registado em 2014 228 mil visitantes, menos 19% do que em 2005, em que registaram 283 mil entradas. Nos últimos 10 anos, 2007 teve o melhor registo, com 331 mil, e 2012 o pior, com 211 mil visitantes.

Patrícia Viegas Nascimento atribui esta quebra à crise, salientando, no entanto, que 2014 foi "já um ano de recuperação", com um aumento de cerca de 8% face a 2013. A maior parte das pessoas "vão três vezes na vida ao parque: enquanto crianças, pais e avós. É isso que também queremos combater", sublinhou à Lusa.

"Uma actualização não me parece mal", comentou Nuno Jóia, de Sintra, que visitava o parque pela primeira vez, com a sua filha e mulher. Maria Barradas, de nove anos, gostou da visita por poder entrar "nas casas e ver como era antigamente". A mãe, Mafalda Caldeira, de Elvas, encontrou nos monumentos feitos à medida das crianças não só uma forma de "mostrar a História" às suas duas filhas, mas também de "reviver o tempo de criança". "Achava isto enorme e vindo cá adulto é muito pequeno", apontou, considerando o parque "um encontro de Portugal".

Segundo a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), o Portugal dos Pequenitos não está classificado, mas está protegido porque está incluído na zona especial de protecção do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, que é um monumento nacional. Por isso, o projecto de intervenção tem que ser aprovado pela DGPC.