Orelha de Van Gogh poderá ter sido cortada por Paul Gauguin com uma espada

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"Self-Portrait with Bandaged Ear", de Vincent Van Gogh DR

“A orelha de Van Gogh: Paul Gauguin e o pacto de silêncio” é o nome do livro que, ao longo de 392 páginas e depois de muitos anos de estudo, explica a teoria desenvolvida por Hans Kaufmann e Rita Wildegans, dois investigadores e historiadores de arte alemães.

Afinal, o que sucedeu naquela noite de 23 de Dezembro de 1888? A história até agora divulgada sempre deu Vincent van Gogh como autor da própria mutilação. Gauguin e Van Gogh viviam juntos em Arles, no sul de França, e as diferentes opiniões que tinham sobre a arte, como comprovam os quadros A cadeira de Van Gogh e A cadeira de Gauguin (ambos de Dezembro de 1888), originavam sérias discussões.

Diz-se que na noite de 23 de Dezembro, depois de Gauguin ter decidido pernoitar numa pensão em consequência de mais uma discussão, Van Gogh cortou a própria orelha com uma navalha, em casa. Remorsos, tristeza pela ausência do amigo ou, simplesmente, loucura, foram as razões sempre apontadas para o acto do pintor.

No entanto, os dois investigadores da Universidade de Hamburgo trazem agora uma versão totalmente diferente, que teve como ponto de partida as declarações de Gauguin relativamente ao sucedido.

A nova versão afirma que Gauguin decidiu abandonar a casa que partilhava com Van Gogh e saiu nessa noite com a bagagem e a espada – era um experiente esgrimista - na mão. Gauguin foi seguido pelo amigo que, horas antes, lhe tinha atirado um copo de vidro. Ao aproximarem-se de um bordel a discussão intensificou-se e Gauguin cortou a orelha esquerda de Van Gogh com a espada que empunhava. Van Gogh embrulhou a orelha e ofereceu-a a Rachel, uma prostituta.

Os historiadores deixam em aberto duas hipóteses: o pintor francês pode ter mutilado o amigo propositadamente e por raiva ou pode ter agido em legítima defesa. Para chegarem a esta conclusão, Kaufmann e Wildegans consultaram documentos policiais, notícias da imprensa e arquivos municipais. A teoria anterior nunca os tinha satisfeito.

“A realidade é que a versão aceite até agora provinha de contradições e de falta de rigor”, afirmou Hans Kaufmann, citado pelo diário espanhol "El Mundo". O historiador sustentou que “ninguém se tinha interessado realmente em apurar as circunstâncias do episódio”, talvez “porque se tenha aceite com indulgência os testemunhos que Gauguin documentou anos depois”.

Talvez este incidente justifique a súbita ida de Gauguin para Paris. Fosse ou não verdade que a relação dos artistas era tempestuosa, a partida de Gauguin foi, segundo os investigadores, fruto deste episódio.

A verdade nunca veio ao de cima devido a um pacto de silêncio entre os dois. “No dia seguinte, Gauguin foi interrogado pela polícia. Foi então que inventou a história da auto-mutilação”, explicou Kaufmann ao jornal britânico "Daily Mail". Van Gogh tinha sido encontrado na cama a esvair-se em sangue mas nunca contou nada à polícia. O livro agora lançado diz que o choque de que foi vítima o levou a suicidar-se com um tiro no peito, sete meses depois. Tinha 37 anos.

Os historiadores baseiam a tese do pacto de silêncio nas palavras finais de Van Gogh para o amigo: “Tu estás calado e eu estarei também”. Além disso, foram encontradas pistas para o sucedido na correspondência entre o pintor holandês e o seu irmão, Theo.

“Van Gogh adorava Gauguin. Não queria que este fosse para Paris mas, ao mesmo tempo, a necessidade de o proteger impôs-se. Existia a real possibilidade de acabar na prisão. Não há dúvidas de que o afastamento de Gauguin agravou a saúde mental de Van Gogh”, explicou ao "El Mundo" a investigadora Rita Wildegans.

Os dois historiadores alemães apresentam esta teoria a 17 de Junho, no âmbito da exposição "Entre a Terra e o Céu: as Paisagens", que inclui setenta pinturas de paisagens da autoria de Vincent Van Gogh, no Kunstmuseum de Basileia, na Suíça.

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