O savoir faire não serve de remédio
O cinema de Loach é uma coisa cada vez mais mole. Sobra-lhe um savoir faire que não serve de remédio.
Em O Salão de Jimmy estamos agora na década seguinte, numa Irlanda ferozmente entrincheirada num radicalismo identitário assente nos bons velhos “valores irlandeses”, como diz o padre do
É a questão do filme de Loach: a relação deste super-conservadorismo super-católico, que começa por ser um freio anti-britânico mas depressa resvala para a xenofobia pura e dura, com os valores “estranhos” (políticos e culturais) trazidos pelo protagonista, Jimmy, que retorna à sua terra natal depois de vários anos a viver nos Estados Unidos.
Há uma astúcia – feliz – no argumento (que é baseado numa figura que existiu realmente): a equiparação entre as ideias “esquerdistas” de Jimmy e o seu gosto pela música que conheceu nos EUA, o jazz, a música que se ouve no salão de dança que inaugura, para gáudio dos jovens e indignação do padre e dos mais velhos. Um princípio de dissipação do maniqueísmo que, como é fatal nele (a não ser quando é redimido pelo sarcasmo, ausente em O Salão de Jimmy), Loach acabará por reencontrar, através da sua incapacidade para distinguir “pessoas” e “ideias”. Como Loach define as personagens através do que pensam, as ideias “justas” fazem as personagens “boas”, e vice-versa. São os antípodas dum mundo renoiriano (ou mesmo, já que falamos da Irlanda, dum mundo fordiano), e por aí se esboroa todo o interesse das personagens, tratadas, de facto, como ideias ambulantes sem nenhuma complexidade humana relevante.
Acresce que, formalmente, o cinema de Loach é uma coisa cada vez mais mole, tão lisa e suave como um telefilme. Sobra-lhe um “savoir faire”, no sentido académico da expressão, que não deixa o filme sem rede mas não serve de remédio para a enorme indiferença com que o espectador atravessa o Salão de Jimmy.