Alexandre Soljenitsin morreu "em consequência de uma insuficiência cardíaca aguda", domingo, às 23h45 (hora local), declarou o seu filho, citado pela mesma agência.
O Presidente russo Dmitri Medvedev exprimiu as suas condolências à família do escritor, anunciou a sua porta-voz Natalia Timakova, citada pela mesma agência.
Alexandre Soljenitsin revelou ao mundo a terrível realidade dos campos de concentração soviéticos em obras como "Arquipélago Gulag" e "Um Dia na Vida de Ivan Denissovitch", que o escritor viveu na pele.
Prémio Nobel da Literatura em 1970, Soljenitsin foi privado da sua cidadania soviética em 1974 e expulso da ex-URSS. Viveu na Alemanha, Suíça e Estados Unidos, antes de regressar à Rússia, em 1994, após o desmantelamento da União Soviética.
"No fim da minha vida, espero que o material histórico (...) que eu recolhi entre nas consciências e na memória dos meus compatriotas", disse o escritor em 2007 por altura da atribuição do prestigioso Prémio de Estado russo, atribuído pelo ex-Presidente e actual primeiro-ministro russo Vladimir Putin, que já indicou a morte de Soljenitsin foi "uma grande perda para toda a Rússia".
"Estamos orgulhosos de o ter tido como compatriota e contemporâneo", declarou Putin. "Vamo-nos lembrar dele como uma personalidade forte, corajosa, de uma grande dignidade", acrescentou o primeiro-ministro, dirigindo um telegrama de condolências à família do escritor. "O seu compromisso literário e cívico, o seu longo e espinhoso destino permanecerão para nós como um exemplo de autêntica abnegação, ao serviço do povo, da Pátria, dos ideais de liberdade, justiça e humanidade", acrescentou.
O antigo Presidente soviético, Mikhail Gorbatchev, também indicou hoje que Soljenitsin foi "um homem com um destino único" que foi um dos primeiros a "denunciar em voz alta o carácter desumano do regime estalinista". "Alexandre Soljenitsin enfrentou provas difíceis, como milhões de cidadãos do seu país", declarou o pai da "Perestroïka" à agência russa Interfax.
Por seu lado, o Presidente russo Dmitri Medvedev estimou hoje que o Soljenitsin foi “um dos mais importantes pensadores, escritores e humanistas do século XX”, num telegrama de condolências dirigido à família do falecido.
A morte do Prémio Nobel constitui uma “perda irreparável para a Rússia e para o mundo inteiro”, acrescentou o chefe de Estado.
Distinguido com o Nobel, não foi a Estocolmo recebê-loNascido a 11 de Dezembro de 1918 no Cáucaso, Soljenitsin aderiu aos ideais revolucionário bolcheviques daquele tempo, estudou Matemática e tomou parte como artilheiro na II Guerra Mundial, contra o III Reich.
Dos campos de batalha, em 1941, aos campos de concentração, em 1945, foi um passo, por ter ousado criticar a competência bélica do ditador Estaline.
Libertado em 1953, foi exilado para a Ásia Central, onde começou a escrever, viajando depois para Riazan, a duas centenas de quilómetros de Moscovo, para ser professor.
O sucessor de Estaline, Nikita Khrutchev, deu "luz verde" à publicação - na revista "Novy Mir" - de "Um Dia na Vida de Ivan Denissovitch", relato do quotidiano de um recluso nos gulag, editado a 18 de Novembro de 1962.
Uma onda de choque sacudiu a Rússia e a comunidade internacional, que abriu os olhos para uma realidade até então desconhecida. Tinha caído um tabu.
Soljenitsin continuou a escrever, mas livros como "O Pavilhãos dos Cancerosos", ou "O Primeiro Círculo", tiveram de ser publicados clandestinamente e no estrangeiro.
O Nobel da Literatura foi-lhe atribuído em 1970, mas declinou ir recebê-lo a Estocolmo com receio de não poder regressar à Rússia, então sob o pulso de Brejnev.
Uma nova vaga de entusismo varreu o mundo, para fúria do Kremlin, que expulsou Soljenitsin para o Ocidente, tendo-se radicado finalmente em Vermont, nos EUA.
Os ocidentais reparam entretanto que Soljenitsin era um conservador ortodoxo e defensor acérrimo da cultura eslava, muito duro para com a sociedade de consumo.
Em 1994 voltou à Rússia e espantou toda a gente ao aprovar a segunda guerra na Tchetchénia desencadeada por Ieltsin, pedindo a pena de morte para os independentistas.
Aproximou-se depois do Presidente Vladimir Putin, louvando publicamente as suas qualidades.