Marcelo dos Reis vence e convence
Marcando presença em dois discos que têm conquistado atenção internacional.
Músico improvisador que tem como instrumento de base a guitarra acústica, Marcelo dos Reis tem feito notar a sua presença na cena nacional, integrando os grupos Fail Better!, Pedra Contida, The Nap e Open Field - trio de cordas que editou um disco de estreia com o histórico pianista Burton Greene. Natural de Lisboa, Marcelo esteve ligado ao Jazz Ao Centro Clube de Coimbra, é um dos organizadores do Double-Bill – Ciclo de Música Improvisada e, no início de 2015, lançou a editora Cipsela, dedicada às músicas improvisadas.
Nestes dois discos, editados no ano passado, colabora com a harpista Angélica V. Salvi, no duo de Concentric Rinds, e com Luís Vicente, Théo Ceccaldi e Valentin Ceccaldi, no quarteto de Chamber 4, ambos destacados pelo seu carácter inovador no site Free Jazz Collective, tendo sido o primeiro eleito como favorito do ano pelos leitores.
O duo Reis/Salvi nasceu em Agosto de 2012, durante uma residência artística que teve lugar nas Aldeias do Xisto, quando o mestre Evan Parker sugeriu uma actuação em duo de Marcelo dos Reis (guitarra acústica) e Angélica V. Salvi (harpa). O resultado foi muito positivo e a parceria entre o guitarrista lisboeta e a harpista espanhola, residente no Porto, continuou para lá dessa actuação.
O disco Concentric Rinds, estreia discográfica da dupla, assenta em improvisação pura mas soa a música de câmara, pela forma como os cordofones dialogam e se entrelaçam. Angélica e Marcelo lançam ideias e desenvolvem motivos melódicos, cada músico segue as pistas do outro, complementam-se. Sente-se aqui uma verdadeira escuta atenta, com cada acção de cada músico a surgir na reacção perfeita àquilo que o outro acaba de fazer. As cordas da harpa fundem-se com as da guitarra, num exemplar encontro de ideias. A dupla exibe uma magnífica comunicação e o resultado é uma música surpreendentemente elegante, de uma enorme clareza.
No disco Chamber 4, a guitarra de Marcelo dos Reis conta com o apoio de outros parceiros: Théo Ceccaldi (violino e viola), Valentin Ceccaldi (violoncelo) e Luís Vicente (trompete). A formação é quase a mesma que editou Deux Maisons (Clean Feed), com a substituição da bateria de Marco Franco pela guitarra de Marcelo. Continuamos num universo sonoro onde a improvisação assume a forma de natureza camarística, mas aqui o raio de acção é mais vasto: as cordas e trompete expandem a música para outros horizontes, por vezes tocando numa matriz jazzística. Apesar do pendor genericamente classicista que atravessa todo o disco, há momentos de maior rugosidade e momentos de tensão e confronto. A viola (ou violino) de Théo Ceccaldi está quase sempre presente, o violoncelo de Valentin enche toda a sombra, a guitarra de Marcelo lança faíscas e o trompete de Vicente assume um papel mais melódico, acrescentando sentimento. Partindo da improvisação aberta, este disco apresenta uma música diversa que confirma a amplitude de intervenção do quarteto luso-francês.